Prédio destruído por ataques russo em Borodianka, nos arredores de Kiev.| Foto: EFE/Marcel Gascón
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Toda guerra implica uma devastação demográfica, mas no caso da Ucrânia, pode ser que não haja volta. Antes mesmo da invasão, o país já lidava com uma taxa de fertilidade escassa: 1,2 nascimento por mulher.

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No ano passado, caiu para 0,9. E as estimativas para este ano são menos otimistas: espera-se que caia para 0,7, de acordo com um relatório do IDSS, o Instituto de Demografia e Estudos Sociais ucraniano.

Êxodo de refugiados

A esse quadro desolador se somam os preocupantes dados sobre migrações. Porque, mesmo que na antiga república soviética os problemas políticos (corrupção, falta ou mau funcionamento de serviços públicos) e econômicos (desemprego, baixos salários) já tivessem levado a população a cruzar fronteiras em busca de sorte em países vizinhos, o conflito armado com a Rússia resultou em 6,3 milhões de refugiados, segundo a ACNUR.

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Mais da metade deles são mulheres — estima-se — e um terço, menores de idade. Os homens têm mais dificuldades, pois os adultos com menos de 65 anos, exceto aqueles que têm três ou mais filhos, estão na frente ou mobilizados, sendo-lhes absolutamente proibido deixar o país. Isso, como consequência, desestabilizou a composição por gênero: a Ucrânia deixou de ser um país majoritariamente feminino (havia 86 homens para cada 100 mulheres) para um onde a proporção se inverteu, sendo agora de 110 para 100.

Nessas circunstâncias, a nação desejada pela Rússia foi dizimada do ponto de vista demográfico: se após a independência, em 1991, tinha 52 milhões de habitantes, no início da invasão restavam 44, e hoje, no meio do conflito, foram contabilizados 34 milhões (32 se descontarmos os territórios ocupados pelos russos). O futuro também não parece promissor, pois se o sangramento — e a guerra — continuar, estima-se que em 2033 haverá entre 26 e 33 milhões, cerca de 40% a menos desde que Kiev se desvinculou da URSS.

Uma esperança de vida mais curta

Um estudo do WIIW (Wiener Institut für Internationale Wirtschaftsvergleiche), instituto de pesquisas econômicas sediado em Viena, publicado alguns meses atrás, identificou os cinco problemas com maior impacto em sua situação demográfica que o país enfrenta. São fragilidades que, no entanto, não têm origem na guerra; começam em tempos anteriores e podem ser consideradas endêmicas, embora indiscutivelmente a invasão russa as tenha agravado.

Além da baixa natalidade e das ondas migratórias, os especialistas se referem, em terceiro lugar, à baixa expectativa de vida: os homens vivem em média até os 57,3 anos (antes, até os 66,4); as mulheres, por sua vez, até os 70,9 (há alguns anos, a expectativa de vida estava em 76,4). Às perdas na guerra de soldados — segundo as autoridades ucranianas, 300.000 caíram desde o início da invasão russa — e de civis, para os quais não existem dados oficiais, somam-se as causadas pelas privações e doenças causadas pelo cerco.

A saída do país de mulheres e crianças repercutiu não apenas sobre o tamanho da população, mas também sobre seu envelhecimento, que é o quarto dos dilemas demográficos. Por fim, o relatório refere-se ao precário mercado de trabalho, o que incentiva a migração e afeta negativamente as condições de vida daqueles que permanecem no país.

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Quem retornará?

À medida que a guerra se prolonga, a reconstrução e o retorno à normalidade se tornam extremamente difíceis. É verdade que parte dos mais de seis milhões que deixaram o território retornou: 18%. As pesquisas também informam que 62% dos refugiados não teriam objeção em voltar se a guerra acabar ou sua segurança não estiver comprometida. Apenas 20% resistem a retornar.

No entanto, essas porcentagens expressam apenas desejos. Deve-se levar em conta que muitas famílias estão reconstruindo suas vidas, criando seus filhos e aproveitando novas oportunidades em outros lugares. Além disso, as dificuldades que aqueles que permanecerem terão de enfrentar quando o conflito terminar podem obrigá-los a buscar sorte em países vizinhos. Sem mencionar o que pode acontecer se a Rússia sair vitoriosa.

Marina Tvedorstup, uma das analistas que trabalha no WIIW e é especialista em Europa Oriental, preocupa-se com o fato de as baixas nos combates, o êxodo de famílias e o envelhecimento deixarem o país sem mão-de-obra quando mais precisa: exatamente quando será necessário reconstruir a economia e serão necessárias a energia, a preparação e o estímulo dos jovens para garantir um futuro próspero à Ucrânia.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
©2023 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol: La ruina demográfica amenaza el futuro de Ucrania
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