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Acampamento de sem-teto em Berkeley, no estado da Califórnia, EUA
Acampamento de sem-teto em Berkeley, no estado da Califórnia, EUA| Foto: EFE/EPA/JOHN G. MABANGLO

Numa recente troca de mensagens, o YouTuber Casey Neistat publicou um vídeo raivoso depois que o seu carro teve os vidros quebrados e itens furtados. Los Angeles, esbravejou ele, estava se transformando numa “porcaria de cidade de Terceiro Mundo”.

O multimilionário ator Seth Rogen repreendeu Neistat por sua raiva. Rogen disse que os objetos furtados eram coisa pequena. Ele acrescentou que, quando morava em West Hollywood, teve o carro arrombado 15 vezes, mas não se importou com isso.

Várias pessoas ridicularizaram Rogen. Não é difícil entender por quê. O ator mora numa mansão na região de Los Angeles, protegido por cercas e um sofisticado sistema de segurança.

Ainda assim tanto Neistat quanto Rogen definem com precisão a terceiromundização: o colapso da lei e a capacidade dos ricos de, dentro de uma sociedade feudal, encontrar meios de evitar a violência e o caos.

Depois de 45 anos viajando pelo Oriente Médio, sul da Europa, México e Ásia Menor, vi algumas características comuns às sociedades do chamado Terceiro Mundo. E essas características parecem cada vez mais presentes na vida do norte-americano de hoje.

Seja no Cairo ou em Nápoles, furtos e roubos eram comuns. Mesmo assim, os crimes contra a propriedade raramente eram punidos.

Numa sociedade medieval de duas, e não três classes, os ricos que moravam em propriedades muradas raramente se preocupavam com roubos. O crime é considerado um problema dos pobres que vivem fora dos muros, sobretudo quando a classe média não existe ou está em decadência.

Os crimes violentos explodiram nos Estados Unidos. Mas duas coisas são diferentes nessa nova criminalidade norte-americana. Uma é a impunidade. Os ladrões hoje em dia entram numa loja, saqueiam-na e fogem com as mercadorias sem temerem a prisão.

A segunda coisa é que a esquerda costuma justificar os crimes como sendo vingança contra um sistema suspostamente de exploração. Foi assim que a mente por trás do chamado Projeto 1619, Nikole Hannah-Jones, celebrou a destruição de propriedades no verão de 2020: “A destruição da propriedade que pode ser substituída não é violência”.

A terceiromundização reflete a assimetria do império da lei. A ideologia e o dinheiro, e não a lei, é que determina quem é ou não preso e processado. Foram 120 dias de saques, incêndios e violência durante o verão de 2020. Os vândalos destruíram tribunais, delegacias e até uma igreja.

Também houve uma manifestação assustadora no dia 6 de janeiro, quando uma multidão invadiu o Capitólio, causando danos a propriedades do governo. Dentre os presos durante o ato violento, muitos foram presos na solitária ou sob severas restrições. Aquela manifestação de apenas um dia está hoje sob investigação do Congresso. Alguns dos presos ainda hoje, dez meses mais tarde, aguardam julgamento. Os condenados cumprem penas duras.

Por outro lado, 14 mil pessoas foram presas nas longas e violentíssimas manifestações de 2020. A maioria foi solta sem precisar pagar fiança. Poucos foram processados. Menos ainda são os que ainda estão presos e esperando acusações graves.

Um denominador comum das controvérsias recentes no Departamento de Justiça, CIA, FBI e Pentágono é o fato de que todos esses órgãos, sob pretextos questionáveis, investigam cidadãos norte-americanos sem justificativa, demonizando os alvos com termos como “traidores”, “terroristas domésticos”, “supremacistas brancos” e “racistas”.

Outros sinais

No Terceiro Mundo, serviços básicos como energia, combustíveis, transportes e água são de qualidade questionável. Em outras palavras, um cenário parecido com os racionamentos de energia da Califórnia.

Estive em cinco voos na minha vida em que o piloto anunciou que não havia combustível o bastante para continuar a viagem até o destino previsto. O avião teria ou de voltar ou de pousar no meio do caminho. Um desses voos partiu do Cairo, outro do sul do México. Os outros três foram na primavera e verão deste ano, dentro dos Estados Unidos.

Uma das cenas de que mais me lembro em Ancara, no Cairo ou na Argélia dos anos 1970 é a de legiões de mendigos e miseráveis dormindo nas calçadas. Mas essas legiões não são nada perto dos acampamentos que se vê hoje em Fresno, Los Angeles, Sacramento ou San Francisco. Dezenas de milhares usam as ruas para defecar, urinar, usar drogas ou descartar lixo.

No Terceiro Mundo, a riqueza e a pobreza extremas coexistem próximas uma da outra. Era comum ver camponeses em carroças a cavalo a poucos quilômetros de mansões litorâneas. Hoje, riqueza e pobreza convivem próximas no Vale do Silício. Em Redwood City e East Palo Alto, famílias se aglomeram em barracos a poucos quarteirões de mansões. Nas ruas próximas à Universidade de Stanford e da sede do Google, os pobres vivem em trailers decrépitos estacionados nas ruas.

Neistat estava certo ao identificar a pandemia de crimes em Los Angeles como um sinal de terceiromundiação. Mas Rogen também estava certo, embora sem querer. O ator interpretou o papel do rico arrogante e indiferente do Terceiro Mundo, aquele que se tornou mestre em ignorar e se desviar da miséria alheia.

Victor Davis Hanson é historiador classicista na Hoover Institution da Universidade de Stanford.

©2021 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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