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Marcha em apoio à Palestina em Barcelona, Espanha
Marcha em apoio à Palestina em Barcelona, Espanha| Foto: EFE/ Toni Albir

Há um fluxo de dinheiro que termina nos cofres do Hamas e que financia todos os tipos de operações terroristas, como o ataque a Israel em 7 de outubro deste ano. Ele passa principalmente por três canais: doações diretas em Bitcoin, somas destinadas ao Zakat – a caridade que todos os muçulmanos prósperos devem fazer, conforme previsto num dos cinco pilares fundamentais do Islã – e o financiamento que os governos europeus concedem a várias ONGs que têm relações diretas e indiretas com o Hamas.

São recursos provenientes de todo o mundo, inclusive da Itália, e que o antiterrorismo não consegue distinguir da ajuda humanitária que visa apoiar o povo palestino. De acordo com o Wall Street Journal, antes do ataque a Israel em 7 de outubro, o Hamas coletou milhões de dólares em criptomoedas, e não só isso. De acordo com informações do NGO Monitor – o banco de dados que mapeia o financiamento de organizações não governamentais que gravitam em torno da Faixa de Gaza –, há um rastro que liga organizações envolvidas na demonização de autoridades israelenses, na campanha BDS (boicote, desinvestimento e sanções contra Israel) e na promoção de propaganda antissemita com vários estados da UE. Algumas delas também têm ligações com a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), uma organização oficialmente designada como terrorista pelos EUA, UE, Canadá e Israel.

O mapa atualizado e ampliado contém detalhes de 1.063 doações, de dezenove países, para quarenta ONGs palestinas desde 2008. Entre 2017 e 2019, por exemplo, cinco organizações palestinas com vínculos com a FPLP receberam 700 mil euros [em torno de 3,7 milhões de reais na cotação atual]. Seriam 23 milhões de euros [121 milhões de reais] que, entre 2015 e 2021, saíram de Roma para várias associações na Cisjordânia e na Faixa de Gaza ligadas à FPLP.

Há também a Universidade Islâmica de Gaza (IUG). Fundada pela Irmandade Muçulmana, tem sido um reduto do Hamas desde sua fundação: dentro de suas paredes ocorrem atividades políticas e militares. Figuras de alto escalão do Hamas lecionaram lá, seus alunos foram recrutados para a ala militar do Hamas e parte do prédio, por muito tempo, foi usada como depósito de armas. A IUG tem recebido apoio europeu há muitos anos por meio da integração da universidade em projetos financiados pela UE. Ela participou de programas internacionais com mais de 130 universidades e centros de pesquisa em vários países europeus. A maior parte dos fundos – no valor de vários milhões de euros – teria sido distribuída por meio do Erasmus+ e do projeto Horizon 2020 (programa de financiamento de pesquisa e inovação da UE para 2014-2020). O dinheiro europeu, portanto, alimentou diretamente a ideologia islâmica e jihadista do Hamas.

Em julho de 2022, o senador francês Pierre Charon, em uma pergunta dirigida ao Ministro da Europa e Relações Exteriores, chamou a atenção do Presidente Macron para a ligação entre os subsídios da UE e as ONGs ligadas ao Islã radical. Mas nunca recebeu uma resposta. De acordo com informações reveladas pelo jornal alemão Die Welt, a Comissão Europeia financiou ONGs ligadas à Irmandade Muçulmana no valor de 1.869.141 euros em 2019. Desse montante, aproximadamente 500 mil euros teriam sido destinados à "Islamic Relief Germany" [agência que fornece ajuda humanitária a islmâmicos], que tem ligações diretas com o Hamas, o Hezbollah e a Irmandade Muçulmana.

Na primavera de 2020, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha foi forçado a suspender sua cooperação com a Islamic Relief Germany após uma investigação de três anos pelo Tribunal Federal de Contas. Ao mesmo tempo, porém, a Comissão Europeia certificou essa organização como “parceira humanitária para o período de 2021 a 2027”. Em 2019, 14.398 euros foram alocados para o “Fórum de Organizações de Estudantes e Jovens Muçulmanos Europeus” (Femyso), uma organização que atua em muitas universidades da Europa e tem vínculos diretos com a Irmandade. Já à Rede Europeia Contra o Racismo (ENAR), da qual a Femyso é membro foram pagos 1.156.162 euros. À frente da ENAR está Intisar Kherigi, filha de Rached Ghannouchi, fundador do partido tunisiano da Irmandade, Ennahda. Para a União Muçulmana Europeia, que os especialistas consideram parte da rede da Irmandade, foram enviados cerca de 90 mil euros. E 58.213 euros foram pagos ao Fórum da Juventude Islâmica da Macedônia do Norte, também uma emanação da Irmandade Muçulmana.

Sob a capa do antirracismo, a nebulosa islâmica já penetrou nos círculos das instituições europeias. Mas qual é o fio que une o Hamas, as ONGs e a Irmandade Muçulmana?

O Hamas é uma organização militante islâmica e um dos dois principais partidos políticos dos territórios palestinos, fundado pelo xeque Ahmed Yassin, que o estabeleceu como o braço armado da Irmandade Muçulmana em Gaza em 1987. O Hamas, acrônimo de Harakat al-Muqawama al-Islamiya – “Movimento de Resistência Islâmica” –, publicou sua Carta em 1988, pedindo a destruição de Israel e o estabelecimento de uma sociedade islâmica na Palestina histórica. Por ser uma entidade terrorista assinalada, o Hamas está presumivelmente impedido de receber a assistência oficial dos EUA e da UE na Palestina. Porém vimos como muitas ONGs islâmicas no Ocidente conseguem canalizar dinheiro para grupos de “serviços sociais” ligados à Irmandade Islâmica para apoiar diretamente o Hamas.

Lorenza Formicola é ensaísta e jornalista, analista do mundo árabe e islâmico. Especialista em islamismo na Europa, concentrou a sua investigação na radicalização, nas atividades de organizações e estruturas inspiradas na Irmandade Muçulmana, bem como na dinâmica e evolução das redes jihadistas no Ocidente.

©2023 La Nuova Bussola Quotidiana. Publicado com permissão. Original em italiano: “L'Ue finanzia i Fratelli Musulmani. E quindi anche Hamas”.

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