Regimes socialistas foram exemplos de fracasso nas últimas décadas: União Soviética, Cuba e Coreia do Norte são retratos de colapso do modelo. Ainda assim, governos contemporâneos tentam repetir experimentos socialistas.
Para Kristian Niemietz, autor do livro Socialism: The Failed Idea That Never Dies [Socialismo: a ideia fracassada que nunca morre], o socialismo sempre se reapresenta afirmando que não repetirá erros do passado, mas acaba repetindo-os novamente. "O socialismo não pode ser melhorado", afirma Niemietz.
Segundo ele, as falhas do socialismo são inerentes ao seu modelo. "Não é simplesmente uma questão de aprender as lições do fracasso de regimes socialistas anteriores. Uma vez que um socialista tenha aprendido as lições certas, ele não pode mais ser um socialista. A única conclusão sensata é desistir completamente do socialismo". Confira:
Quais são as razões por trás do surgimento de um regime socialista?
Os regimes socialistas surgem por razões muito distintas. A Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, foi um golpe realizado por um pequeno grupo de militantes, tornado possível pelo caos e instabilidade da Primeira Guerra Mundial. Após a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos países da Europa Central e Oriental tinham o socialismo imposto pela União Soviética. Algumas revoluções socialistas tinham apoio das massas, pelo menos inicialmente. Elas podem surgir por razões com as quais até um antissocialista convicto pode simpatizar, como a oposição a um opressor colonial ou a uma ditadura sombria, como Cuba em 1959 e Nicarágua em 1979. E, embora seja raro, há também exemplos de governos socialistas democraticamente eleitos: Allende, no Chile em 1970, e Chávez, na Venezuela em 1998. E, mais uma vez, 2000, 2006 e 2012.
Em seu livro, você fala de uma fase de lua de mel no socialismo. Como é o ciclo típico?
O problema fundamental de debater o socialismo é que a maioria dos socialistas não aceita nenhuma evidência do mundo real. Sempre que o socialismo falha, eles dizem: "Ah, mas isso não era socialismo real". O que mostro em meu livro é que essa afirmação geralmente é feita apenas em retrospecto, isto é, depois que um sistema socialista já foi amplamente desacreditado. Enquanto o sistema está em seu apogeu, quase ninguém afirma que não é "realmente" socialista. Durante esse "período de lua-de-mel", aquele período de sucesso inicial de curta duração, os sistemas socialistas são amplamente elogiados pelos intelectuais ocidentais. Quando suas falhas não podem mais ser negadas, os intelectuais ocidentais começam a dar desculpas para eles. E, depois de um tempo, eles simplesmente dizem que esses sistemas nunca foram socialistas de verdade
O exemplo mais recente é o da Venezuela. De 2005 a 2013, Chávez foi entusiasmadamente elogiado por muitos analistas ocidentais de destaque. Daí, quando a crise chegou, esses mesmos analistas deram justificativas, culpando, por exemplo, a queda do preços do petróleo. Agora, muitos deles afirmam que a Venezuela nunca foi socialista e que a experiência venezuelana não nos diz nada sobre o socialismo. Quase todas as experiências socialistas passam por esses estágios. A União Soviética fez isso na década de 1930, a China e o Vietnã na década de 1960 e no início da década de 1970.
O que chama a atenção dos intelectuais? Por que eles são atraídos para o socialismo?
O capitalismo é contraintuitivo. A maioria das pessoas, não apenas os intelectuais, intuitivamente não gosta dele e sentem instintivamente que ele é errado. Não gostamos das grandes empresas, não gostamos dos ricos, não gostamos do lucro. É assim que nossos cérebros são programados. Assim, o socialismo nos chega natural e facilmente. Por outro lado, apreciar os benefícios da economia de mercado requer algum esforço e autodisciplina intelectual.
Isso serve não apenas para os intelectuais, mas os intelectuais pensam mais nessas questões do que qualquer outra pessoa. Eles também são mais capazes de racionalizar os fracassos de suas idéias e usar sofismas para chegar à conclusão que desejam alcançar.
Se você for uma pessoa mais prática, verá a diferença entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, entre a antiga Alemanha Ocidental e Oriental ou entre a Venezuela e a Colômbia e pensará: "Certo, o capitalismo, quaisquer que sejam suas falhas, claramente é o melhor sistema". Mas, se você é intelectual, será capaz de apresentar razões para se convencer de que nenhuma dessas comparações nos diz algo, que não eram o socialismo "real", que o socialismo "real" seria muito melhor do que capitalismo.
Como os regimes socialistas ficaram pobres e acabaram com a liberdade? No nível econômico, por que os governos socialistas fracassam?
As economias capitalistas têm uma série de pontos fortes que as tornam imensamente superiores às socialistas. Por exemplo, o mercado é um processo de tentativa e erro. Em uma economia de mercado, podemos tentar várias coisas diferentes e ver o que funciona. Uma economia socialista não tem isso.
Além disso, as economias de mercado são coordenadas pelos preços de mercado e os preços de mercado são uma maneira extremamente eficaz de coletar e transmitir informações. As economias socialistas não podem substituir esta função dos preços de mercado.
Então os países socialistas acabam enfrentando problemas econômicos, sobretudo a escassez. Os políticos socialistas geralmente reagem a isso culpando "sabotadores" e "especuladores" imaginários por esses problemas. Esse é um dos modos pelos quais os sistemas socialistas se tornam autoritários.
Quais são os erros mais comuns do socialismo? Até que ponto os regimes socialistas aprendem com os erros das experiências passadas?
Um erro comum é a crença de que uma economia pode ser planejada democraticamente, pelo povo ou pela "classe trabalhadora" como um todo. Como isso deveria funcionar? Para planejar uma economia, são necessárias quantidades colossais de informações altamente técnicas e altamente especializadas. Isso simplesmente não pode ser feito de maneira democrática. Isso só pode ser feito de maneira tecnocrática, de cima para baixo.
Novos regimes socialistas geralmente concluem que os regimes socialistas anteriores simplesmente nunca tentaram realmente democratizar suas economias. Eles concluem que o caráter tecnocrático desses regimes foi o resultado de uma escolha deliberada. Que as pessoas no poder queriam que fosse assim. Que eles foram corrompidos ou não entenderam o socialismo.
Esta foi, em grande parte, a retórica de Hugo Chávez em meados dos anos 2000. Foi assim que ele falou sobre a União Soviética. Eles teriam tido um entendimento errado do socialismo, segundo ele. O socialismo dele seria diferente. Hoje, a propaganda chavista soa como a propaganda soviética. Eles se transformaram exatamente naquilo que queriam evitar.
O socialismo não pode ser melhorado. Suas falhas são inerentes. Não é simplesmente uma questão de aprender as lições do fracasso de regimes socialistas anteriores. Uma vez que um socialista tenha aprendido as lições certas, ele não pode mais ser um socialista. A única conclusão sensata é desistir completamente do socialismo.
Existe algum modelo em que os governos socialistas possam ter sucesso?
O Estado tem um papel a desempenhar na vida econômica e pode fazer algum bem. Existem algumas economias de sucesso que têm grandes setores públicos, como a Suécia, a Dinamarca e a Finlândia. Mas essas não são economias socialistas. São economias relativamente liberais. Eles podem pagar altos impostos porque eles acertam muitas outras coisas.
Mesmo assim, esse modelo social-democrata só funciona em circunstâncias especiais. Os países nórdicos também são virtualmente livres de corrupção, por isso as pessoas estão preparadas para pagar impostos mais altos, porque confiam que seu dinheiro será bem gasto. Essas também são sociedades com altos níveis de confiança social, o que significa que os contribuintes estão menos preocupados com o uso excessivo do sistema de bem-estar social. Esse modelo funciona lá — mas não pode ser facilmente copiado em outros lugares.
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