Funeral de Luis Carlos Santiago, em setembro de 2010. Santiago, de 21 anos, era fotógrafo do jornal El Diario, de Juarez, no México, e foi morto por homens armados enquanto trabalhava em uma reportagem.| Foto: STRINGER/MEXICOREUTERS

Nos últimos meses, enquanto sobe o número de jornalistas mexicanos mortos por fazerem seu trabalho, organizações que procuram chamar a atenção para os crimes vêm tendo que usar linguagem mais contundente para descrever a epidemia. A Anistia Internacional disse que “foi aberta a temporada de caça” aos jornalistas e descreveu uma “guerra” contra a mídia. A organização britânica de direitos humanos Article 19 falou de “um novo pico” alcançado pela violência. 

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Mas um relatório novo e mordaz do Comitê de Proteção aos Jornalistas descreveu a violência com uma palavra pontual: evitável. 

Segundo o comitê, a indiferença do governo e a corrupção deslavada vêm contribuindo em muito aos ataques contra jornalistas. 

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“A impunidade endêmica permite que quadrilhas criminosas, funcionários governamentais corruptos e cartéis silenciem seus críticos”, disse o CPJ em seu relatório divulgado na quarta-feira (03), Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. 

“A despeito dos esforços do governo federal para combater esse ciclo mortífero, ainda é difícil encontrar justiça, e a impunidade ainda é a regra.” 

De acordo com o CPJ, entre 2006 e 2016 foram mortos 21 jornalistas no México. O país figura na sexta posição do índice redigido pela organização de assassinatos de jornalistas que ficam impunes. 

“A pessoa que transmite a mensagem corre o risco de tornar-se a vítima da história que investiga, às vezes pelas mãos de autoridades governamentais, comandantes de polícia, criminosos comuns ou narcotraficantes que não são punidos”, escreveu Adela Navarro Bello, diretor da “Zeta Magazine”, de Tijuana. 

Ela se encontra sob proteção policial desde que as autoridades descobriram que um cartel planejava um ataque à sua sede. 

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Carlos Lauría, o coordenador sênior de programas do CPJ para as Américas, disse ao “Washington Post” que, mesmo quando suspeitos são identificados em assassinatos de jornalistas, as autoridades raramente vinculam os crimes aos cartéis ou seus líderes. 

“O sistema de justiça criminal é incapaz de trazer respostas aos jornalistas e suas famílias, que estão sendo mortos com impunidade”, disse Lauría. 

“O conluio entre o governo e o crime organizado é um fato, sim, que bloqueia a simples possibilidade de investigadores jamais chegarem ao que está por trás desses casos.” 

No mês passado o jornal mexicano “Norte” anunciou que estava fechando, citando a violência como a causa. 

“Caro leitor, escrevo para informá-lo que tomei a decisão de fechar porque, entre outras coisas, não existem garantias nem a segurança necessária para fazer um jornalismo crítico e de contrapeso”, escreveu o proprietário do jornal, Oscar Cantu Murguia, segundo o “Los Angeles Times”. 

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O mesmo jornal informou que Moroslava Breach, do “Norte”, foi assassinada em março depois de sair de sua casa. Ela tinha escrito reportagens sobre assassinatos supostamente ligados aos cartéis, incluindo ataques a policiais e casos tenebrosos de decapitação. 

Breach foi morta a tiros quando saía de carro de sua garagem numa manhã de abril; foi a terceira jornalista mexicana assassinada em um mês. Segundo a BBC, o pistoleiro deixou um bilhete ao lado de seu corpo dizendo: “Por falar demais”. 

Em dezembro de 2015 o “Washington Post” escreveu sobre um telefonema feito a um jornal em Reynosa por um “enlace”, uma pessoa ligada aos cartéis. A pessoa exigiu que o jornal fizesse a retratação de um artigo sobre taxas de proteção que o prefeito da cidade teria pago ao cartel. 

“Os enlaces fazem parte de um sistema profundamente institucionalizado de censura que os cartéis impõem a veículos de mídia no nordeste do México, na região da fronteira com o Texas. O funcionamento do sistema é um segredo conhecido de todos nas redações dos jornais, mas que os leitores ignoram. Os leitores desconhecem as decisões de vida ou morte tomadas diariamente pelos editores para não enfurecer os comandantes de diferentes cartéis locais, cada um dos quais tem sua filosofia própria em relação à mídia. ... A corrupção onipresente favorece a violência.” 

Lauría disse ao “Post” que os mexicanos não têm como tomar uma decisão informada sobre seu governo ou outras questões se os jornais não são protegidos e têm medo de divulgar a verdade. 

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“É uma crise total de liberdade de expressão”, ele disse. “Isso está claramente afetando a saúde da democracia mexicana. Existem comunidades inteiras em todo o país onde as pessoas não têm realmente conhecimento do que está acontecendo.” 

Tradução de Clara Allain