O pior produto de exportação dos EUA acabou de chegar à Argentina.
A atual presidente da Planned Parenthood não tem medo de usar a palavra “aborto”. Numa entrevista natalina para o Washington Post, ela repreendeu aqueles que desprezam a importância do aborto no trabalho da instituição. Ela diz que é “estigmatizante” agir assim.
Para os que se opõem ao aborto, isso é motivo para agradecer. Durante décadas, o aborto vem sendo substituído por eufemismos por seus defensores. “Escolha”, “liberdade”, “saúde” – tudo para evitar o uso da palavra “aborto”. O que faz sentido. As pesquisas consistentemente sugerem que os norte-americanos não gostam do aborto. Claro. Sabemos em nossos corações que tirar uma criança da mãe não é natural, não é ideal, não é bom. Mas a vida é difícil. As pessoas querem saber que mulheres necessitadas têm opções.
O fato é que a antecessora de Alexis McGill Johnson tentou dar menos prioridade aos abortos na Planned Parenthood. Minha esperança era a de que ela estivesse fazendo isso porque queria que o aborto não fosse tão essencial ao trabalho da Planned Parenthood. Mas ela encontrou oposição na organização que chefiava. Então a melhor opção é a honestidade. É a única forma de alcançar o progresso. “E, assim, se a primeira coisa em que as pessoas pensam quando pensam na Planned Parenthood é em saúde, acho ótimo”. Uma das piores coisas é fingir. Não podemos ter um debate honesto quando as pessoas estão fingindo.
O entrevistador deu a McGill Johnson outras oportunidades de menosprezar o aborto, se ela quisesse. Mas ela não tinha interesse nisso. “Temos orgulho de oferecer abortos”, declarou.
Ao mesmo tempo em que a entrevista com McGill Johnson era publicada, ativistas nas ruas de Buenos Aires celebravam o aborto, enquanto a Argentina adotava os piores valores americanos. Onde está nosso humanismo quando celebramos o aborto? A Reuters citou alguém do Observatório de Direitos Humanos feliz diante do prospecto de um efeito dominó da legalização do aborto por todo o continente.
Dizem-nos o tempo todo para “confiarmos na ciência” em todos os assuntos, sobretudo a Covid-19. Mas há uma exceção quando se trata de fetos – bebês que, vemos claramente nas ultrassonografias, estão vivos e são humanos. Não está na moda dizer que aqueles seres humanos inocentes e vulneráveis têm direitos. As manchetes sobre o voto do Senado argentino sobre o aborto colocaram os defensores contra a Igreja Católica – que inclui o ex-arcebispo de Buenos Aires, o atual Papa Francisco, que enfatizou que, para ser contra o aborto, não é necessário apelar ao argumento religioso.
Não é incomum que os defensores do aborto acatem as opiniões do Papa Francisco em outras questões, como as mudanças climáticas. Mas ele fala do meio ambiente no contexto de um problema maior – o de que fazemos parte da cultura do desperdício. Gritar que aborto é uma questão de saúde pública ou liberdade nos ajuda a ignorar a realidade. Mas perceber que é consistente e saudável cuidar tanto da pessoa humana quanto do restante da criação nos tornará pessoas melhores.
22 de janeiro foi aniversário do caso Roe vs. Wade, a ação julgada pela Suprema Corte que legalizou o aborto nos Estados Unidos. A decisão codificou uma desumanização à qual cedemos quando julgamos convenientes. Uma coisa – e algo péssimo do ponto de vista moral – é ignorar um humilhar uma pessoa na rua. Outra é quando a lei diz que esse desprezo – desprezo que põe fim a vidas e envenena a consciência individual – é benéfico. O que a lei tem ensinado às pessoas já há quase meio século? Que os vulneráveis não têm direitos. Que podemos pôr fim à vida daqueles que não se encaixam em nossos planos.
Há um documentário intitulado Divided Hearts of America [Corações divididos da América], com o ex-jogador de futebol americano Benjamin Watkins. Ele embarca numa jornada, perguntando às pessoas sobre o aborto. Em parte, trata-se de uma reação à expansão do aborto em Nova York em 2019, tendo a sobrinha do ex-ministro da Suprema Corte Anthony Kennedy como diretora. Os produtores claramente têm uma perspectiva pró-vida — o próprio Watkins é pai de sete crianças, ativo no movimento pró-vida e nos círculos evangélicos, mas ele realmente dialoga com os dois lados. O filme mostra muitas vozes negras do movimento pró-vida, entre elas a da sobrinha de Martin Luther King Jr. e da democrata de Louisiana Katrina Jackson.
No começo do ano, a Planned Parenthood da Grande Nova York tirou o nome de Margaret Sanger da sua sede depois que a cultura do cancelamento revelou que Sanger defendia ideias eugenistas. Ainda que a verdade sobre a criação da Planned Parenthood fosse uma questão que deveria ter sido enfrentada há muito tempo, a retirada do nome de Sanger apenas esconde a história. E, na já mencionada entrevista, a presidente da Planned Parenthood diz que foi levada a se envolver com a organização há cerca de uma década, quando ficou revoltada ao ouvir uma canção pró-vida no SoHo que dizia que o útero “é o lugar mais perigoso para um afro-americano”.
Ela já conhecia o argumento, mas ficou surpresa com o fato de alguém em Nova York defendê-lo. O fato é que Nova York é chamada de “capital mundial do aborto” e, recentemente, o Estado registrou mais abortos do que nascimentos de crianças negras em certas regiões da cidade. Diante disso, Johnson diz que ficou “surpresa, tipo, o que é que está acontecendo aqui?”
Excelente pergunta. As vidas de fetos negros também importam.
Kathryn Jean Lopes é membro do National Review Institute e editora da National Review
© 2021 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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