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Para quem não é fluente em academiquês, o título do projeto é indecifrável: Experimento de Perturbação Controlada Estratosférica (SCoPEx, na sigla em inglês). Coube à revista Forbes traduzir o novo empreendimento de Bill Gates como uma tentativa de escurecimento do sol.
Segundo a publicação, o fundador da Microsoft estaria financiando um estudo junto a cientistas da Universidade de Harvard com o objetivo de borrifar poeira atóxica de carbonato de cálcio na atmosfera a fim de mitigar os efeitos do aquecimento global, devolvendo parte da luz solar ao espaço.
Do trio de bilionários que hoje lideram a lista de homens mais ricos do mundo, Gates, que perde para Jeff Bezos e Elon Musk, é o mais reconhecido por sua filantropia e ativismo social. Desde 2000, a maior parte de seus investimentos nas pautas caras à família (a esposa, Melinda, é sua fiel escudeira no assunto) se dá por meio da Fundação Bill e Melinda Gates. Em 2008, Bill Gates abriu mão da presidência da Microsoft para se dedicar integralmente à fundação.
De acordo com o site da instituição, o interesse do casal pela filantropia, principalmente para questões de saúde global, começou em 1997, após a leitura de um artigo sobre as milhões de crianças que morrem em países pobres por falta de saneamento básico, em decorrência de doenças já erradicadas nos Estados Unidos. No mesmo ano, Gates viajou pela primeira vez à Índia e se envolveu em uma campanha de distribuição de vacina contra poliomielite.
No ano seguinte, viria a primeira doação vultosa: 100 milhões de dólares para o desenvolvimento de vacinas. Segundo o relatório anual de doações disponível no portal da Fundação, só em 2019, 9% da verba destinada à promoção da saúde global (cerca de 130 milhões de dólares) foi investida nesta área. No fim do ano passado, Bill e Melinda Gates doaram 250 milhões de dólares para apoiar o desenvolvimento de tratamentos e vacinas de baixo custo e mais fáceis de entregar contra a Covid-19 em países subdesenvolvidos. No relatório de saúde global, doações para o combate à malária e ao HIV somam a maior fatia: 427 milhões.
Aborto e igualdade de gênero
Uma das pautas mais caras à família Gates é o “planejamento familiar”. Mais de uma vez, Melinda defendeu publicamente que o controle de natalidade é um dos remédios mais eficazes contra a pobreza - especialmente para as mulheres (na seção dedicada ao tema no portal da instituição, há relatos de moradoras de países pobres que tiveram acesso à contracepção graças aos projetos de Bill e Melinda).
A exemplo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, Melinda é católica, mas insiste que as mulheres devem ter acesso a contraceptivos e ao aborto. Em 2017, a filantropa criticou a decisão do ex-presidente Donald Trump de cortar o financiamento da Planned Parenthood - organização criada para oferecer serviços de aborto nos Estados Unidos.
Em 2019, o apoio a instituições que promovem políticas classificadas como “planejamento familiar” - desde a distribuição de contraceptivos até o aborto - ocupa 14% do orçamento destinado ao desenvolvimento global (cerca de 239 milhões de dólares), também segundo o relatório anual de doações. Somente para a Planned Parenthood, da qual o pai de Bill Gates já foi parte do conselho administrativo, foram destinados mais de três milhões de dólares.
No final do ano passado, a luta pela igualdade de gênero e o combate ao aquecimento global foram inseridos entre as prioridades da fundação. “Quero ver mais mulheres em posição de tomar decisões, controlar recursos e moldar políticas e perspectivas. Acredito que vale a pena investir no potencial das mulheres - e as pessoas e organizações que trabalham para melhorar a vida das mulheres também”, escreveu Melinda Gates quando anunciou a doação de um bilhão de dólares para a causa.
“Primeiro, [precisamos] desmantelar as barreiras para o avanço profissional das mulheres. Embora a maioria das mulheres agora trabalhe em tempo integral (ou mais), ainda arcamos com a maioria das responsabilidades de cuidar; enfrentamos assédio sexual generalizado e discriminação; estamos cercados por representações tendenciosas e estereotipadas que perpetuam normas de gênero prejudiciais”, descreve a ativista.
Só em 2019, Gates doou quase 600 milhões de dólares para a caridade. Sua fortuna, em junho de 2020, alcançou os 110 bilhões de dólares.