Adam Smith-Connor após audiência em que foi marcada a data de seu julgamento por rezar silenciosamente pelo filho abortado: há 22 anos ele levou a ex-namorada a uma clínica e pagou pelo aborto dela.| Foto: Reprodução Twitter/ ADF_UK
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“Lutei para proteger os valores da liberdade e da democracia no Afeganistão e agora estou sendo processado na Inglaterra por ter rezado silenciosamente por meu filho Jacob, que foi morto em um aborto. Vejo leis sendo aprovadas na Inglaterra que criminalizam atos de caridade e orações. Isso é vergonhoso.”

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O veterano do exército Adam Smith-Connor, 49 anos, oriundo de Marchwood (Reino Unido), é o terceiro católico a ser acusado de “crime de pensamento” na Inglaterra neste ano. Isabel Vaughan-Spruce e Padre Sean Gough foram presos, como se soube, em Birmingham pelo mesmo “crime”: supostamente terem violado uma Ordem de Proteção do Espaço Público (PSPO – Public Space Protection Order, em inglês) ao rezar no silêncio de suas mentes. Smith-Connor teme que o “crime de pensamento” possa em breve ser incorporado à legislação britânica, e os acontecimentos até aqui apontam com segurança nessa direção arrepiante. “Haverá mais casos no futuro”, prevê o ex-soldado.

Adam Smith-Connor estava em Bournemouth em 24 de novembro de 2022, quando foi “pego” rezando em silêncio, nas proximidades de uma clínica de aborto, por dois funcionários municipais do Esquema Credenciado de Segurança Comunitária (Community Safety Accredited Scheme – CSAS, em inglês). Smith-Connor inicialmente recebeu uma advertência e depois foi multado em 100 libras esterlinas (625 reais na cotação atual). As autoridades municipais lhe disseram que seria multado por causa da “oração que você admitiu”.

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Com o apoio da ONG Alliance Defending Freedom [ADF, na sigla em inglês, Aliança em Defesa da Liberdade, em tradução livre], em 9 de agosto no Tribunal de Magistrados de Poole (Poole Magistrates' Court), o homem se declarou inocente de uma acusação de não cumprir “sem justificativa razoável uma exigência de uma PSPO” ao se recusar a “deixar a área em questão quando solicitado por um oficial autorizado”. Seu caso será levado a julgamento no próximo dia 16 de novembro.

Nesta entrevista exclusiva à Nuova Bussola Quotidiana, Smith-Connor compartilha detalhes de sua conversão ao catolicismo, o porquê de estar envolvido na batalha pela vida e por que as liberdades democráticas fundamentais estão em risco no Reino Unido.

Adam Smith-Connor, vamos partir do início. O que aconteceu do lado de fora da clínica de aborto de Bournemouth quando você foi abordado em novembro de 2022? 

Na verdade, não aconteceu muita coisa, não houve tempo. As autoridades sabiam de antemão que eu estaria lá. É prática normal informar as autoridades de Comportamento Antissocial quando você pretende rezar do lado de fora de uma clínica de aborto. Mas, dessa vez, dois funcionários municipais estavam me esperando quando cheguei. Durante dois minutos, eles me observaram a rezar e depois me perguntaram se eu estava rezando e qual era a natureza da minha oração. Quando admiti que estava rezando e que era por meu falecido filho Jacob, eles me disseram que eu estava violando a PSPO e que eu poderia ser multado se não saísse. Recusei, afirmando que considerava a solicitação “uma interferência em meu direito absoluto à liberdade de pensamento”. Eles acharam que era “uma desculpa irrazoável”. Então me multaram em 100 libras.

Isso significa que a polícia ou as autoridades municipais da Inglaterra têm o direito de parar as pessoas e exigir saber seus pensamentos se elas estiverem em um espaço público protegido?  

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Esse é o problema. Este é o país da Carta Magna. Temos um histórico de defesa dos direitos humanos do qual podemos nos orgulhar e um respeito pela liberdade tal que lutei para defendê-la quando servi este país por 20 anos na reserva do exército, inclusive no Afeganistão. Ninguém tem o poder de se intrometer em seus pensamentos e punir você por eles. O problema é que algumas autoridades municipais e alguns policiais acham que têm legitimamente esse poder. Eu contesto isso porque viola as leis de direitos humanos fundamentais.

O que você quer dizer com "alguns policiais"? 

Os policiais de Birmingham prenderam Isabel e o padre Sean porque achavam que a oração silenciosa em uma zona de segurança era ilegal. A Procuradoria da Coroa (Crown Prosecution Service), no entanto, disse que não havia provas suficientes e pediu vereditos de inocência. A polícia de Dorset disse-me que minhas orações silenciosas do lado de fora da clínica de aborto de Southampton eram legais (assista ao vídeo). Os funcionários do Conselho Municipal de Bournemouth disseram que minhas orações eram ilegais, me multaram e me levaram ao tribunal (assista ao vídeo). Não pode ser justo que direitos fundamentais sejam tratados de maneira tão divergente pela lei.

Depois de vinte anos na reserva do exército britânico, você diz que “os direitos fundamentais e a liberdade democrática” que defendeu também no campo de batalha no Afeganistão “estão sendo agora retirados das ruas da Grã-Bretanha”. Existe alguma relação entre sua posição pró-vida e seu serviço militar? 

Tenho duas pessoas em mente ao travar essa batalha pela vida. Um amigo, Rick, que foi morto em junho de 2008 no Afeganistão por um dispositivo explosivo improvisado (IED, na sigla em inglês) na beira da estrada. Ele deixou para trás uma jovem família. Quando você é enviado para uma zona de guerra, precisa escrever seu testamento, despedir-se de sua família sem saber se poderá vê-la novamente. Assim como eu, Rick acreditava na liberdade e nos valores democráticos e morreu lutando para defender esses valores. Não posso ficar parado e ver meu país ser corrompido dessa forma. Vejo uma lei sendo aprovada que criminaliza atos de caridade e oração. É uma lei totalmente antibritânica e uma traição a todas as pessoas (veja fotos) que deram suas vidas para defender a liberdade pela qual a Grã-Bretanha sempre lutou. Isso é escandaloso.

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Quem é a outra pessoa? 

Meu filho Jacob, que, com grande arrependimento, sacrifiquei em um aborto há mais de 20 anos.

Você pode nos contar o que aconteceu? 

Na época, eu tinha 27 anos e estava fazendo treinamento militar intensivo. Minha noiva também estava planejando entrar para o exército. Ao mesmo tempo, ela ficou grávida. O aborto parecia ser a solução óbvia. Eu era ateu e não tinha nenhuma compreensão moral do que significava matar meu filho. O padrão moral da sociedade me dizia que isso era equivalente a arrancar um dente. Achei que estava sendo uma pessoa honrada ao acompanhar minha namorada à clínica e pagar pelo aborto. O lobby do aborto mente para você. Eu matei meu filho. Essa decisão e suas consequências ficarão com você pelo resto de sua vida.

No entanto, hoje é católico. O que aconteceu, depois desse aborto, que o levou a se converter ao cristianismo? 

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Sou fisioterapeuta. Em 2016, aceitei um convite para participar de um curso introdutório ao cristianismo de um paciente que estava conduzindo o seminário. Isso levou à minha conversão. Em 2017, entrei para a Igreja Evangélica Renascida. Depois, em 2018, fui batizado. Depois do batismo, porém, tive um sonho vívido. No sonho, eu estava esquartejando meu filho. Eu o estava despedaçando como se corta um frango. Percebi que, enquanto fazia isso, não sentia nada. Quando acordei na manhã seguinte, senti o horror daquele sonho. Meus dois filhos estavam dormindo no quarto ao lado do meu. Fazia vinte anos que eu não pensava naquele aborto. Mas, como um câncer, ele nos devora, cria metástases.

O que mudou depois desse sonho? 

Deus transformou meu coração de pedra em um coração de carne. Decidi fazer algo para ajudar outras pessoas a lidar com o aborto e defender a vida. Considero meu dever como cristão assumir uma posição pública em relação aos valores cristãos: alimentar os famintos, vestir os nus, etc. Participei do evento 40 Dias pela Vida (40 Days for Life) e fiquei impressionado com o fato de que a maioria dos que tentavam ajudar mulheres vulneráveis eram católicos. Eles eram os cristãos que estavam lutando pela vida. Converti-me ao catolicismo na última Páscoa.

Por que deu o nome de Jacob [Jacó] ao seu filho falecido? 

Jacó foi o pai de Israel. Quero que meu filho abortado seja o pai de uma nação de crianças salvas do aborto por meio de meus esforços e daqueles que lutam pela vida em nome de Jesus Cristo.

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Você vê seu "antigo eu" nas pessoas que fazem aborto quando se está do lado de fora de uma clínica de aborto? 

Conheci mulheres cegas pela mentira do aborto da mesma forma que eu estava. Certa vez, eu estava do lado de fora da clínica de Southampton quando duas jovens pararam para conversar comigo. Uma delas disse de forma muito arrogante: “Vou fazer um aborto”, tentando provocar uma reação. Mas senti compaixão por ela e conversamos. Eu lhe disse que realmente me importava com ela e que estava ali para ajudá-la a resolver seus problemas, se ela quisesse. Aos poucos, ela mudou de atitude e disse: “Você poderia ser meu pai”. Não sei o que aconteceu depois que ela entrou na clínica. Mas está claro que essas mulheres precisam de alguém que não as julgue, mas que esteja disposto a ouvir e oferecer uma alternativa por meio de ajuda concreta: acomodação, dinheiro, apoio moral, amizade. É isso que fazemos fora das clínicas quando nos pedem. A lei está nos impedindo de oferecer essa alternativa que poderia salvar vidas e evitar traumas futuros para as mães.

Por que você acha que ainda vale a pena defender a vida quando o slogan “Meu corpo, minhas regras” parece ter triunfado? 

Como cristãos, sabemos que Deus vence. Não tenho dúvidas de que o aborto vai acabar. E fazer parte dessa batalha é uma grande honra para mim. Deus, mais uma pessoa, é um exército imparável. Os abortistas dizem que venceram, mas Satanás sabe que seu tempo acabou. Ninguém pensou que Roe v. Wade seria derrubada, mas foi. Mais pessoas deveriam se apresentar para tomar uma posição. A vitória chegaria mais cedo.

Se você pudesse enviar uma mensagem ao governo de Sua Majestade sobre a nova Lei de Ordem Pública que estabelece zonas de proteção em torno de todas as instalações de aborto na Inglaterra e no País de Gales, qual seria? 

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Não destrua nosso país. Não arranquem nossas liberdades. Não permitam que essa lei crave outro enorme prego no caixão da nação. Isso vai nos afundar. Rei e nação, acordem e defendam nossos valores. Impeçam que o “crime de pensamento” seja incorporado à lei britânica. Parem com isso antes que vá ainda mais longe!

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Patricia Gooding-Williams possui bacharelado combinado em Literatura Inglesa e Economia pela Anglia Ruskin University, Cambridge, mestrado em Educação pela Universidade de Cambridge e lecionou Educação Internacional.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

© 2023 La Nuova Bussola Quotidiana. Publicado com permissão. Original em italiano: “Io, veterano di guerra britannico, sfido il "dovere" di aborto”.

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