"Ouça bem, Nova York: a Flórida é uma droga, e todos vocês estarão de volta daqui a cinco anos". Ao menos foi isso que o repórter do New York Post, Steve Cuozzo, proclamou em junho do ano passado, após centenas de milhares de seus concidadãos terem migrado para o Sul. Muitos encontraram refúgio na Flórida, que se orgulha de suas leis fiscais generosas, baixa criminalidade, um ambiente pró-negócio, políticas pandêmicas discretas e facilidade de vida em geral.
"Vocês vão se arrepender", previu Cuozzo. Mas quais são os problemas dele com o estado do sol? Em uma visita a Miami Beach, ele precisou esperar muito tempo para um café ficar pronto. A vista do mar da casa de um amigo foi bloqueada por uma nova construção. Às vezes chove. Ele tinha ouvido algo ruim sobre jacarés. O artigo de Cuozzo "não era ofensivo", respondeu sua colega Karol Markowicz, nova-iorquina em recuperação que atualmente mora na cidade costal Boca Raton, na Flórida. "Foi engraçado".
Foi difícil resistir a tentação de sair de Nova York durante o auge da pandemia. Até mesmo as redes sociais de Cuozzo o mostraram com um sorriso feliz no Palm Beach's Colony Hotel e outros lugares da Flórida que deveriam, segundo ele, deixar qualquer nova-iorquino miserável. De fato, o censo de 2020 mostrou que tantos nova-iorquinos deixaram o estado que Nova York perdeu uma cadeira no congresso, enquanto a Flórida ganhou uma.
Em 2021, mesmo depois de Nova York já ter amenizado muitas, mas não todas, restrições contra a Covid-19, um recorde de 61.728 de seus cidadãos trocaram suas carteiras de motorista por documentos da Flórida, um número que exclui dezenas de milhares de menores ou outros moradores não-motoristas. Autoridades de Nova York previram que o declínio da pandemia iria atrair o retorno de vários moradores e estancar sua hemorragia de pessoas e dinheiro. Em 2021, eles estavam confiantes o suficiente para aumentar os impostos sobre a renda para o nível mais alto da América — uma taxa máxima combinada de 14,778%, em comparação com o percentual de 0% da Flórida — mesmo quando os trabalhadores de alta renda enchiam as ruas de Manhattan com vans que se deslocavam para o Sul.
"As grandes fortunas estão fartas porque não recebem nada pelos altos impostos estaduais e municipais", diz Paul S. Levy, que fundou a JLL Partners, uma empresa de private equity de Nova York, e que agora é residente da Flórida. "As cidades da Flórida oferecem segurança sem impostos, com boa qualidade de vida e movimento, negócios com regulamentos discretos, e todas as oportunidades culturais exaltadas da cidade de Nova York podem ser obtidas em vários graus em outros lugares, desde comida diversa, cultura jovem, museus e música a uma fração do custo".
O verão de 2021 foi anunciado em Nova York como um "verão de amor", mas isso provou ser um fracasso. As restrições por conta do Covid continuaram, o crime aumentou, e as pessoas continuaram a sair do estado. Mais tarde naquele ano, muitos esperavam que a saída do impopular prefeito da cidade, Bill De Blasio, traria uma mudança nas mãos de Eric Adams, um ex-capitão da polícia de Nova York que poderia ao menos levar o combate ao crime mais a sério. "Só pode melhorar", muitos nos asseguraram. No primeiro ano da prefeitura de Adams, entretanto, os grandes crimes aumentaram em 22% em relação aos números horríveis do ano anterior. O único ponto positivo foi um ligeiro declínio nos homicídios no final de 2022.
Quando questionada sobre criminalidade em seu debate governamental de outubro de 2022 contra o opositor republicano Lee Zeldin, que sofreu uma tentativa de esfaqueamento durante um discurso de campanha e cujos filhos estavam em casa quando outros dois adolescentes foram baleados na rua, a governadora do estado de Nova York, Kathy Hochul, declarou: "Não sei por que isso é tão importante para você". A resposta é mais controle de armas, ela afirmou. Por outro lado, a Flórida, que permite o porte de armas, acaba de registrar seu menor índice de criminalidade em 50 anos. Quando confrontados com esta enorme disparidade na segurança pública, Nova York, que despreza quem acha que os cidadãos podem ser autorizados a se defender, aparentemente ignora casos como o do infeliz José Alba, um funcionário de um armazém de Nova York de 61 anos. Alba foi acusado de assassinato em segundo grau em julho do ano passado por usar uma faca para se defender de um agressor que o atacou diante das câmeras.
Em abril de 2022, em uma tentativa de seduzir os nova-iorquinos a voltar, o prefeito Adams criou uma campanha de cartazes em cinco cidades da Flórida, proclamando que Nova York é um lugar "onde você pode dizer o que quiser e ser quem você quiser". Os anúncios não só falharam em trazer de volta os ex-moradores, mas também foram rapidamente expostos como uma liberdade de expressão hipócrita — um advogado da cidade foi demitido por perguntar durante um evento quando o prefeito removeria a obrigatoriedade de máscara nas escolas da cidade de Nova York.
No ano passado, a saída de moradores de Nova York não apenas continuou, mas acelerou. De acordo com números oficiais em janeiro de 2023, o estado perdeu mais pessoas em 2022 do que em qualquer outro ano. Cerca de 64.577 nova-iorquinos trocaram suas carteiras de motorista por licenças da Flórida em 2022 – um aumento de 4,6% em relação a 2021. Os números da emigração de Nova York permaneceram estáveis à medida que o ano avançava, além disso, com cerca de 25% das partidas ocorrendo no último trimestre do ano, e mais de 5 mil pessoas se mudando em dezembro de 2022.
As dezenas de milhares de nova-iorquinos que partiram não estão sozinhos. Houve saltos semelhantes nas trocas de licenças por antigos residentes de Nova Jersey, Pensilvânia, Illinois, Michigan, Califórnia, e vários outros estados azuis. Eles aparentemente discordaram da afirmação do governador Hochul em uma cerimônia em memória do Holocausto de que "a Flórida é superestimada". Em vez disso, muitos concordaram com sua sugestão de que se os nova-iorquinos estavam fartos do crime, dos altos impostos e das regulamentações do governo, "basta pular em um ônibus e descer para a Flórida, onde deveriam estar".
Muitos dos líderes de Nova York não parecem perturbados pelo êxodo. Em dezembro de 2022, uma coalizão de ativistas e políticos democratas chamada "Invest in Our New York" defendeu outro aumento de impostos de 40 bilhões de dólares na já decadente população de alta renda do estado. Os membros da legislatura estadual controlada pelos democratas aproveitaram a época das férias para votar um aumento salarial de 29%, tornando-os os representantes estaduais mais bem pagos do país.
Outros problemas estão se acumulando. A pólio, praticamente erradicada nos anos 50, foi detectada em todas as cinco regiões da cidade de Nova York. De acordo com o Departamento de Serviços aos Sem-Teto da cidade de Nova York, 67.321 pessoas — incluindo mais de 22 mil crianças — dormiram em abrigos para desabrigados na primeira semana de 2023, apenas um pouco mais do que o número de nova-iorquinos que conseguiram a carteira de motorista da Flórida no ano passado. Tal sofrimento pode ser apenas o começo. Sem solução para o descontrole da cidade, Adams declarou que os imigrantes ilegais recém-chegados de jurisdições fronteiriças sobrecarregadas poderiam levar Nova York à falência. Ao invés de hospedar turistas, muitos hotéis de Manhattan são agora o lar dos desabrigados. No mês passado, o New York Times relatou que um grande número de imigrantes recentes deixaram a cidade para ir para o Canadá em busca de moradias mais baratas e de oportunidades melhores. Somente em 2022, mais de 39 mil migrantes teriam atravessado a fronteira Norte do estado.
Será que os líderes de Nova York finalmente começaram a entender a situação da cidade? Thomas DiNapoli, um democrata, disse à Bloomberg News em dezembro de 2022 que a saída dos nova-iorquinos de alta renda — e o dinheiro dos seus impostos — "deveria ser uma preocupação para todos". Ele poderia ter feito essa observação em 2020, quando 11% dos nova-iorquinos que ganhavam entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões por ano partiram do estado. Ele acrescentou: "talvez estejamos nos aproximando daquele ponto em que se torna economicamente insustentável para um número suficiente dessas pessoas ficarem aqui". Até Hochul aparentemente concorda, dizendo, após ter ganhado a eleição com um resultado bem mais acirrado do que o esperado em novembro, não acreditar "que aumentar os impostos faça sentido". Em seu discurso inaugural, em janeiro de 2023, ela advertiu que Nova York deve "reverter a tendência de saída de pessoas do estado".
Ainda não está claro como ela pretende fazer isso. Talvez prefira construir um muro do que baixar os impostos. Mas até mesmo Adams lamentou recentemente: "Atacar continuamente os que ganham mais quando 51% de nossos impostos são pagos por 2% dos nova-iorquinos — isso me choca. Quero os maiores contribuintes aqui mesmo, na cidade!". Por enquanto, no entanto, os contribuintes que sustentam Nova York continuam mais inclinados a sair da cidade. E muitos continuam a preferir a Flórida, mesmo com os jacarés.
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