No outono americano passado e na primavera, o campus normalmente tranquilo da Eastern Michigan University (EMU) foi sacudido por três incidentes chocantes de vandalismo contra negros, que abalaram a comunidade.
O primeiro aconteceu em setembro, quando a sigla “KKK” foi pichada na parede de um dormitório em vermelho, azul e branco, acompanhada de um epíteto racial mandando os negros saírem da escola, situada em Ypsilanti, 18 quilômetros a sudeste de Ann Arbor, Michigan.
Hate speech was found on the side of #EMU's King Hall this morning. Follow the #EasternEcho for updates. https://t.co/avZnCGbe6c pic.twitter.com/vpVz6rw1rH
â The Eastern Echo (@TheEasternEcho) September 20, 2016
Depois, no Halloween, a mesma mensagem ameaçadora usando um termo pejorativo para designar negros e mandando que negros fossem embora apareceu em outro edifício, este ao lado do monumento do campus em memória de Martin Luther King.
“Nossa comunidade ficou em choque”, disse ao “Washington Post” a cientista política da EMU Judith Kullberg, presidente do Senado do corpo docente da instituição. “Neste contexto todo de uma eleição presidencial muito tensa, os incidentes elevaram consideravelmente a ansiedade na universidade.”
Uma terceira mensagem foi deixada na primavera em um banheiro masculino.
Tendo ocorrido ao mesmo tempo em que outras universidades sofriam atos semelhantes de algo que parecia ser vandalismo movido pelo ódio, os incidentes suscitaram protestos e chegaram às manchetes nacionais.
Na terça-feira, a EMU foi abalada novamente. A polícia anunciou que um ex-aluno, um homem negro de 29 anos, foi acusado dos três crimes.
Segundo declaração divulgada pela universidade, o suspeito foi identificado como Eddie Curlin, que estudou na universidade entre 2014 e 2016 e está cumprindo pena de um a cinco anos de prisão por uma acusação separada de receptação e ocultação de mercadorias roubadas.
Curlin foi denunciado criminalmente no Tribunal Distrital do Condado de Washtenaw por destruição de propriedade, roubo de identidade e uso de computadores para cometer um crime. Uma audiência preliminar foi marcada para 9 de novembro.
O chefe de polícia da EMU, Robert Heighes, não explicou o que teria motivado as ações do suspeito, dizendo apenas que os delitos “não tiveram motivação política nem racial. Foram atos individuais cometidos por um indivíduo”, ele disse ao jornal do campus, “Eastern Echo”.
A polícia do campus destacou que dedicou mais de 1.080 horas de trabalho à investigação dos incidentes, com a ajuda do FBI e da polícia estadual do Michigan, entre outras instituições.
“Saber que foi uma pessoa de cor quem fez isso dói”, disse ao jornal uma estudante negra, Jaiquae Rodwell. “Como estudante negra, saber que outra pessoa negra está usando a ‘palavra N’ (equivale a ‘crioulo’) de maneira negativa é embaraçoso.”
Incidentes semelhantes
A prisão de Curlin foi um entre vários incidentes ocorridos nos EUA no último ano em que se descobriu que um aparente ato de racismo ou antissemitismo foi cometido não por um grupo que ataca a minoria em questão, mas por um suspeito pertencente a ela.
Em dezembro, por exemplo, um membro afro-americano de uma igreja historicamente negra de Greenville, Mississippi, foi indiciado por ter ateado fogo à igreja e pichado “Vote em Trump” em sua parece externa.
Em março um americano-israelense judeu foi detido em conexão com uma série de ameaças de bomba contra centros comunitários judaicos nos Estados Unidos e fora do país.
A julgar pelo menos por notícias divulgadas pela imprensa, esses casos ainda são relativamente raros. A maioria das prisões e condenações por crimes de ódio envolvendo violência ou vandalismo segue o padrão tradicional.