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Biologia

Água-viva “Benjamin Button” reverte o próprio envelhecimento

Espécie de ctenóforo, "água-viva" com simetria bilateral, reverte para estágio de larva em condições de estresse, um rejuvenescimento natural.
Espécie de ctenóforo, "água-viva" com simetria bilateral, reverte para estágio de larva em condições de estresse, um rejuvenescimento natural. (Foto: Petra Urbanek/Wikimedia Commons)

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Cientistas descobriram que um animal marinho gelatinoso de nome científico Mnemiopsis leidyi consegue dar marcha à ré em seu próprio desenvolvimento, revertendo para um estágio mais jovem — seria como um adulto voltar a ser criança, como acontece no filme “O curioso caso de Benjamin Button” (2008). A descoberta foi publicada em 29 de outubro na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

O animal se parece com uma água-viva, mas é do filo dos ctenóforos, que difere das águas-vivas verdadeiras por terem uma simetria bilateral (seu corpo tem lado direito e esquerdo), enquanto as águas-vivas têm uma simetria radial (como uma pizza). O nome desses animais significa ao pé da letra “portadores de pentes”, pois se locomovem com cílios que lembram pentes. Quando atingidos por luz, os cílios a refratam em cores iridescentes em seus movimentos ondulatórios, belo fenômeno explorado pelo filme “O Segredo do Abismo” (de James Cameron, 1989).

Cores variadas dos cílios de um ctenóforo refratando a luz.Cores variadas dos cílios de um ctenóforo refratando a luz. (Foto: Bruno C. Vellutini/Wikimedia Commons)

Os cientistas submeteram o ctenóforo a condições de estresse: fome e danos físicos. Foram nessas condições que o animal fez o inverso do esperado em seu desenvolvimento, retornando a formas mais jovens.

“O trabalho desafia o nosso entendimento do desenvolvimento precoce de animais e seus planos corporais, abrindo novas avenidas para o estudo da flexibilidade do ciclo de vida e o rejuvenescimento”, disse Joan J. Soto-Angel, primeiro autor do estudo que trabalha em pós-doutorado para a Universidade de Bergen, Noruega. “O fato de que encontramos uma espécie nova que usa essa peculiar ‘máquina do tempo’ levanta perguntas fascinantes a respeito do quão comum é esta capacidade na árvore genealógica dos animais”.

A descoberta foi feita por acaso. Soto-Angel mantinha ctenóforos adultos em um tanque de seu laboratório, e notou que um dos adultos desapareceu. No lugar dele, estava uma larva. Curioso para saber se era o mesmo indivíduo, o pesquisador juntou-se a seu futuro coautor, Pawel Burkhardt, da mesma universidade, e começaram a fazer experimentos. Os ctenóforos foram submetidos a danos físicos e fome — eles provavelmente não sentem dor, pois não têm cérebros —, e prontamente se puseram a rejuvenescer para larvas.

“Vê-los lentamente fazendo a transição para larvas cidipídeas [nome da larva dos ctenóforos], como se estivessem voltando no tempo, foi simplesmente fascinante”, disse Soto-Angel. “Durante várias semanas, não só eles remoldaram suas características morfológicas, como também desenvolveram um comportamento de alimentação completamente diferente, típico dessas larvas”.

“É um momento muito empolgante para nós”, afirmou Burhardt. “Essa descoberta fascinante abrirá portas para muitas descobertas importantes. Será interessante revelar o mecanismo molecular por trás do desenvolvimento reverso, e o que acontece com a rede neural do animal durante esse processo”.

Poucas espécies são capazes de reverter se desenvolvimento para estágios mais jovens. Uma delas é uma água-viva verdadeira, Turritopsis dohrnii, conhecida como a água-viva imortal. Ela é capaz de reverter sua fase de água-viva (ou “medusa”) para a condição de pólipo (como as anêmonas), o que é o inverso do que normalmente acontece nas águas-vivas.

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