O resgate heroico de quatro reféns israelenses após oito meses de cativeiro trouxe à tona uma realidade desconfortável: a dominação sistemática dos meios de comunicação de Gaza pelo Hamas e outros grupos terroristas. Logo após a extração, ficou cada vez mais claro que um “civil” de Gaza — que também atuava como um operativo do Hamas e um colaborador frequente de uma plataforma de mídia com isenção fiscal com escritório nos EUA — estava mantendo três dos reféns em sua casa de família.
Aproximadamente 24 horas após as forças especiais do bairro Nuseirat, em Gaza, terem resgatado Noa Argamani, Shlomi Ziv, Andrey Kozlov e Almog Meir Jan, deduzi que um dos sequestradores prováveis era Abdallah Al-Jamal, um colaborador do Palestine Chronicle, uma subsidiária de uma organização isenta de impostos nos EUA chamada People Media Project (“Projeto de Mídia do Povo”, em trad. livre). De acordo com uma página do Facebook com seu nome, Al-Jamal também havia atuado como porta-voz do Ministério do Trabalho do Hamas.
As Forças de Defesa de Israel confirmaram posteriormente que Al-Jamal manteve três dos quatro israelenses resgatados como reféns. O presidente do Comitê de Meios e Recursos da Câmara dos Deputados dos EUA, Jason Smith, exigiu que o IRS (instituição semelhante à Receita Federal) revogasse o status de isenção fiscal do People Media Project, mas o governo Biden e o Departamento de Justiça ainda não se pronunciaram publicamente sobre o assunto.
Este está longe de ser o primeiro relato de infiltração terrorista no aparato de imprensa de Gaza. Como relatei anteriormente, Ismail Abu Omar, da Al Jazeera (empresa de comunicação de propriedade do governo do Catar), “estava simultaneamente servindo como comandante adjunto de uma companhia do batalhão oriental do Hamas na cidade de Khan Younis, no sul”. Hamza Dahdouh, outro jornalista e operador de câmera da Al Jazeera morto no conflito, era membro da Jihad Islâmica Palestina. Esses casos não são anomalias, mas fazem parte de uma tendência mais ampla de organizações terroristas cultivando estrategicamente narrativas midiáticas.
No início desta semana, o jornal Washington Examiner descobriu que o Hamas vem treinando jornalistas de Gaza há anos. A Frente Popular para a Libertação da Palestina (PFLP), outra organização designada terrorista pelos EUA, também conduziu uma série de cursos de jornalismo entre 2006 e 2012. Muitos outros cursos desse tipo provavelmente ainda não foram identificados. Independentemente do total, o fato de terroristas estarem organizando tais programas demonstra seu esforço em conjunto para moldar a narrativa emergente de Gaza.
Mesmo instituições midiáticas renomadas não estão imunes à influência terrorista. Por exemplo, conforme mencionado anteriormente no City Journal, os cursos da PFLP de 2012 tinham como instrutor um indivíduo chamado Samar Abu Elouf, um fotojornalista freelancer do New York Times. Além disso, em 2009, de acordo com a Agência de Mídia Palestina Al-Rai, o Ministério da Informação do Hamas visitou a sede da BBC em Gaza, onde funcionários se encontraram com o jornalista da BBC Rashdi Abu Al-Auf e “discutiram maneiras de cooperação e comunicação”.
No entanto, a imprensa corporativa americana reluta em admitir que terroristas e jornalistas em Gaza trabalham de mãos dadas. Após o resgate dos reféns, por exemplo, a manchete da CNN dizia: “Israel alega que jornalista manteve reféns em Gaza, sem fornecer provas”, o que a emissora não corrigiu mesmo depois que os reféns confirmaram que Abdallah Al-Jamal era um de seus captores.
Isso não é acidente. Faz parte da estratégia de longa data do Hamas de utilizar a imprensa internacional desavisada para avançar sua agenda. Ao sugerir que Israel está atacando injustificadamente profissionais do jornalismo, a CNN caiu direto na armadilha bem montada do Hamas.
De acordo com o Centro de Inteligência e Terrorismo Meir Amit de Israel, o Hamas até publicou um manual com instruções rigorosas para jornalistas em Gaza sobre o que e como eles devem noticiar — incluindo o que não noticiar. A regra cinco, por exemplo, diz: “não publique [informações sobre] e não compartilhe fotos ou vídeos mostrando locais de lançamento de foguetes ou a movimentação de [agentes] da resistência em Gaza”. O centro também descobriu que o Bloco de Jornalistas Palestinos, afiliado ao Hamas, instruiu correspondentes de Gaza que trabalham para veículos internacionais “a não fotografar ou publicar informações sobre foguetes disparados por agentes militares-terroristas pertencentes às várias organizações, para não jogar nas mãos da diplomacia pública israelense”.
Dada as abundantes evidências do controle terrorista sobre os meios de comunicação de Gaza, formuladores de políticas e veículos de mídia devem abordar os relatos produzidos de Gaza com ceticismo. No mínimo, eles precisam reconhecer o óbvio: o Hamas e outros malfeitores estão usando a imprensa para apoiar sua guerra contra Israel.
Eitan Fischberger é analista de relações internacionais e Oriente Médio. Seus trabalhos foram publicados na National Review, Tablet e mais. Seu perfil no X é @EFischberger.
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