Apesar de ter ganhado repercussão nacional, a decisão do Santander de cancelar a exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, em Porto Alegre, não foi a única deste tipo já registrada no país. O debate sobre o que é arte, seus limites e o boicote de grupos contrários ao que seu conteúdo expressa também foi forte em outras ocasiões.
Confira quatro situações semelhantes no Brasil:
1 - Fotografias de Nan Goldin
Em 2011, foram as obras da artista norte-americana Nan Goldin que chacoalharam o meio artístico brasileiro. As fotografias, que exploravam o submundo das drogas e do sexo nova-iorquino nos anos 1980, receberiam um financiamento de R$ 300 mil da Oi Futuro para serem expostas no ano seguinte no Rio de Janeiro.
A instituição, no entanto, desistiu do patrocínio depois de ver que havia no material fotografias de atos sexuais diante de crianças e menores nus, apenas um mês antes da abertura. Na época, a Oi Futuro afirmou que desconhecia o trabalho da artista quando propôs a verba e que o conteúdo do qual tomou conhecimento não condizia com os preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Após o impasse com a Oi Futuro, que cederia seu centro cultural, o Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio de Janeiro, decidiu receber a exposição em 2012.
2 – Centro Cultural Banco do Brasil
A exposição “Erótica – Os Sentidos da Arte” foi criada em 2006 para ser uma mostra itinerante. A iniciativa foi inaugurada no Rio de Janeiro e chegou a passar pelo Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, mas foi cancelada, sem cumprir o trajeto seguinte, até Brasília. O motivo do impasse foi a obra “Desenhando em Terços”, de Márcia X (1959-2005), que mostrava um pênis desenhado com as contas de um terço.
O Banco do Brasil teria recebido, na época, mais de 800 e-mails contrários à exposição, além de ameaças de encerramentos de contas, encabeçadas por movimentos católicos.
O curador e professor titular da Escola de Comunicações e Artes da USP, Tadeu Chiarelli, chegou a ser chamado para depor em uma delegacia no Rio sobre o caso.
3 – DNA de Dan
Em janeiro deste ano, o performer paranaense Maikon Kempinski, o Maikon K, foi detido pela Polícia Militar após se apresentar em frente ao Museu Nacional da República, em Brasília. O artista fazia a performance “DNA de Dan” – concebida por ele para ocorrer em espaços públicos, sem roupas e dentro de uma esfera plástica e translúcida, como uma bolha.
Os policias entenderam que a situação era um ato obsceno e levaram Maikon K para a delegacia. A PM, na época, informou que interveio após o relato de transeuntes de que havia uma pessoa nua próximo ao museu e que, ao chegar ao local, o artista não apresentava documentação ou autorização sobre a apresentação.
4 – Poema de Lívia Natália
Um outdoor com uma poesia que criticava a ação da Polícia Militar na Bahia, após a morte de um negro, ficou bem menos tempo do que o programado em Itabuna, no Sul do estado – quatro dias, ao invés de dois meses. O caso ocorreu em janeiro de 2016.
“Maria não amava João. Apenas idolatrava seus pés escuros. Quando João morreu, assassinado pela PM, Maria guardou todos os seus sapatos”, diz o poema “Quadrilha”, escrito pela poetisa baiana Lívia Natália. O outdoor com o texto recebeu recursos do Fundo de Cultura do Estado da Bahia (FCBA), mas foi retirado após críticas da Associação dos Policiais e Bombeiros Militares do estado (Aspra).
Na época, a entidade ligada aos militares afirmou que a poesia estimulava a discriminação, intolerância e racismo contra os policiais.
Segundo a autora, o poema foi inspirado num episódio em que 12 pessoas morreram durante uma ação da PM em Salvador, em 2015. O texto, conforme ela, também dialogava com o poema de mesmo nome, de Carlos Drummond de Andrade.
Seis coisas sobre a exposição no Santander Cultural https://t.co/EUQSFY4Tng pic.twitter.com/k07TVWqgaz
â Ideias (@ideias_gp) September 11, 2017
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