Não gostei da foto. Esta brincadeira realmente me cansa. Porque Alexandre de Moraes não é nazista. Assim como Jair Bolsonaro também não é. Assim como Geraldo Alckmin nunca foi. Assim como José Serra nunca pensou em ser. Assim como ninguém é nazista até que realmente se declare ou se assuma nazista. Podemos ser melhores do que isso.
A direita e os conservadores em geral precisam parar de cair na esparrela de repetir os erros da esquerda. Nazista é apenas uma forma infantil, exagerada, hiperbólica, limitada e muito desonesta que a esquerda adotou para criticar TUDO de que ela não gosta e para desumanizar adversários. Jura que querem se igualar na estratégia? Não contem comigo.
O grande problema desta simplificação estúpida é que ela acaba por esconder, e até mesmo vitimizar, quem pretende atingir. Ela omite quem é, de fato, Alexandre de Moraes: um autoritário, protegido pelo lado mais podre da mídia e por formadores de opinião que ganham milhões vendendo engajamento em redes, a serviço de um partido.
Pode-se afirmar que isso se assemelha ao nazismo em algum momento. Porém, como o seriado Seinfeld bem brincou em um episódio clássico, até mesmo gente vendendo sopa pode se assemelhar a nazistas. Mas daí a acreditar, e utilizar a imagem de bigodinho curto para associar políticos à corrente, são outros quinhentos. Deixem isso pras capas da Isto É.
Aprendi com a minha mãe, talvez uma das melhores lições que ela me ensinou, que a melhor forma de lidar com o demônio é não acreditando que ele tem mais poder do que parece ter. Alexandre de Moraes não é um ditador capaz de subjugar uma Europa. É apenas um juiz de uma república bananeira, um Filinto Müller do petismo de Lula. As torturas apenas ainda não começaram. Se você se esqueceu de quem é Filinto Müller, fique feliz: para o bem ou para o mal um dia Moraes será esquecido também.
Sei que o momento é incômodo. Mas quando um bandido te aponta uma arma, não adianta chiar: neste momento o poder é dele e o mal é sempre imbatível quando nos pega de surpresa. Jamais esquecemos de um assalto ou de uma violência que sofremos. Porém, isto não muda o caráter de quem é bandido e de quem é vítima e a situação é clara: quem cala e censura SEMPRE está errado e sempre será a opressão. Só relativiza a mordaça que já abriu mão da consciência.
O que deveria nos sobrar hoje, para além da imensa sensação de impotência, são questionamentos de como deixamos a coisa chegar a este ponto. Porque, pela enésima vez, só lembramos de instalar grades nas janelas depois que o bandido entrou em casa. Por que demoramos tanto para perceber o monstro em que o STF se tornou hoje? Em que momento exato vacilamos?
O país errou feio este cálculo e somos parte do problema, não adianta fingirmos que não. Porque ou não acreditamos no que aconteceria ou não fomos competentes o suficiente para convencer quem estava à nossa volta do que iria acontecer. Sei que isto atinge o nosso orgulho em cheio, mas talvez sejamos a mais incompetente das gerações. A conclusão é inescapável.
Porque temos hoje uma parte gigante da sociedade que abre mão de liberdade de expressão em troca de segurança e, para esses, Moraes é visto até mesmo como herói da democracia, daí porque faz o que faz. Esta é a única e a mais urgente reflexão que precisamos fazer hoje para tentar corrigir o futuro ou o que resta de um. A bem da verdade, dentro dos limites da civilidade, não há muito mais o que fazer.
Paulo Cursino é roteirista.