O descontentamento com a “cultura do cancelamento” está aumentando, até mesmo entre os progressistas.
Num episódio recente do talk show “Real Time”, o apresentador Bill Maher dedicou um monólogo ao fenômeno da cultura do cancelamento. Maher é um homem de esquerda e claro que ele usou parte do seu tempo atacando os republicanos.
Mas ele também notou que a cultura do cancelamento por parte da esquerda é real, inegável e está fora de controle.
“Os progressistas precisam se posicionar quanto à cultura do cancelamento”, disse Maher. “Assim, quando a multidão o atacar por alguma ofensa ridícula, você possa se manter firme, sem ficar pedindo desculpas”.
Ele então criticou os que negam a existência de uma cultura do cancelamento.
“A cultura do cancelamento é real, é insana, e está crescendo exponencialmente, chegando para pegar alguém perto de você”, disse Maher.
Dias antes, a Disney+ e a Lucasfilm decidiram cancelar a atriz Gina Carano, tirando-a da série “The Mandalorian” por causa das publicações da atriz nas redes sociais, com as quais as empresas não concordar, e provavelmente também por ser uma conservadora em Hollywood.
Maher concluiu o monólogo dizendo que alguns dos militantes mais radicais parecem notícias de sites satíricos como o "The Onion" (uma espécie de "O Sensacionalista" americano).
“Um lembrete para os guerreiros da justiça social: quando vocês parecem saídos de uma manchete do “Onion”, é melhor parar”, concluiu Maher.
Dias mais tarde, eles cancelaram o Dr. Seuss.
Não só o espólio do Dr. Seuss tirou seis títulos do escritor infantil do catálogo como também os livros foram excluídos da Amazon e do eBay. Qualquer referência ao antes adorado autor de livros infantis foi retirada até mesmo do Dia da Leitura, promovido pelo presidente Joe Biden.
Os ativistas exigem e as instituições obedecem.
Uma coisa é ver o problema pelo que ele é. O primeiro passo para derrotar a absurda esquerda progressista é expor seus absurdos.
O segundo passo é agir para reformar as instituições que foram cooptadas por essa ideologia ou criar novas instituições que não recuaram diante do pânico moral dos lacradores.
Foi isso o que a ex-editora de opinião de “New York Times”, Bari Weiss, pediu num recente artigo publicado no “New York Post”.
O “New York Times” contratou Weiss para que ela desse ao leitor uma perspectiva mais profunda depois da eleição do presidente Donald Trump, em 2016. Weiss é uma centrista que em muitos temas tende à esquerda, mas ela foi tratada como uma pária assim que começou a trabalhar no “Times”, tanto pela multidão nas redes sociais quanto pela equipe do jornal. A situação ficou tão feia que ela acabou por pedir demissão.
Vale a pena ler o pedido de demissão dela.
Hoje ela e os outros estão começando a construir novas instituições para substituir as antigas.
Está claro, por exemplo, que a União dos Norte-Americanos pelas Liberdades Civis está se metamorfoseando numa organização abertamente progressista, disposta a defender e impor os dogmas da esquerda.
Como conservador, não me surpreendo.
Basta ver a transformação nas universidades. Antes, quando a esquerda não dispunha do poder cultural e institucional que detém hoje, as universidades eram o lar do “movimento pela liberdade de expressão”. Hoje que a esquerda está no controle, você encontrará poucos lugares nos Estados Unidos onde a liberdade de expressão está mais ameaçada do que num campus universitário.
Tão preocupante quanto isso é o fato de que há um movimento crescente para redefinir o racismo que foi normalizado por nossas instituições de elite. A igualdade perante a lei é retratada como uma desculpa para perpetuar o racismo sistêmico.
A única forma de não ser racista, de acordo com essas teorias, é ser “antirracista” e acatar leis e práticas que talvez sejam racialmente discriminatórias para promover a “igualdade”.
Não importa que a lei seja explicitamente tirânica.
Questione os guerreiros da justiça social e você será chamado de racista e rapidamente cancelado. Então quem se levantará em defesa da liberdade de expressão, do debate racional e da busca pela verdade?
O sonho de Martin Luther King por um mundo onde julgamos as pessoas com base no mérito, e não na cor da pele — ideia aceita por norte-americanos de todo espectro político — é uma coisa mais do passado que do futuro?
Apesar da maré de progressismo radical, ainda existem umas poucas pessoas de esquerda que levam a liberdade de expressão a sério e que estão assustados com o novo racialismo.
Esses dissidentes costumam ser os primeiros alvos da cultura do cancelamento. Eles estão mais próximos das instituições que acabaram contaminadas pela ideologia radical progressista e são as primeiras vítimas desses inquisidores.
A dissidência não é mais uma forma nobre de patriotismo; é racismo, é transfobia; é insurreição.
Seria uma tolice, hoje em dia, recorrer à União dos Norte-Americanos pelas Liberdades Civis quando a multidão pretende destruí-lo.
Weiss e vários outros criaram uma organização para preencher essa lacuna.
A Fundação Contra a Intolerância e o Racismo, formada por muitos progressistas dissidentes, se dedica a “promover os direitos civis e as liberdades para todos os norte-americanos, promovendo ainda uma cultura comum baseada na justiça, compreensão e humanidade”.
Eis as coisas que a organização diz defender:
- Defendemos as liberdades e os direitos civis garantidos a todos os indivíduos, incluindo a liberdade de expressão, a proteção igual da lei e o direito à privacidade.
- Defendemos indivíduos que são ameaçados ou perseguidos por se expressarem ou que estão sujeitos a regras heterodoxas por causa de sua cor, seus ancestrais ou outras características imutáveis.
- Apoiamos a dissidência respeitosa. Acreditamos que ideias devem ser confrontadas com ideias – e nunca com desumanização ou ostracismo.
- Acreditamos que a verdade objetiva existe e que pode ser encontrada, e que as pesquisas científicas não podem ser influenciadas pela ideologia política.
- Defendemos os seres humanos e o antirracismo misericordioso, baseado na dignidade e em nosso humanismo comum.
São coisas simples, que se tornaram controversas no clima político e cultural atual.
É um bom começo, mas que precisa vir acompanhado por outros esforços para salvar nossa sociedade civil antes que ela se torne um pesadelo progressista repressivo.
Jarrett Stepman é colaborador do Daily Signal e coapresentador do podcast The Right Side of History.