O Extinction Rebellion é um movimento de ambientalistas britânicos que se permite partir para a ação, isto é, bloquear rodovias e parar trens, geralmente irritando o restante da população que pode estar enfrentando transtornos por causa dos protestos. Os membros do Extinction Rebellion, em geral pessoas educadas de classe média, estão tão convencidos de que a sobrevivência da Humanidade está ameaçada pelas mudanças climáticas antropogênicas que ações ilegais não violentas são justificadas.
O movimento decidiu abrir uma filial na cidadezinha onde moro na Inglaterra e eu fui à cerimônia de inauguração num bar. Fora a coordenadora e uns poucos jovens barbados tímidos, os oito outros membros presentes à festa eram pessoas de meia idade ou idosos — o que é bastante incomum num movimento de ativistas ou aspirantes a ativistas.
Fiquei surpreso ao perceber o quanto gostei deles. Óbvio que eles eram pessoas boas, gentis e também inteligentes. Eles eram explicitamente esquerdistas, mas não anseio pelo dia em que vou desgostar das pessoas apenas porque elas têm opiniões diferentes das minhas.
A coordenadora era uma mulher de seus trinta e poucos anos e que dizia com orgulho que acabara de vir de um protesto — no caso, o grupo derramou uma substância preta parecida com petróleo na sede de um banco, o maior financiador das indústrias de petróleo e gás no Reino Unido. Ela não falou se foi presa durante o ato, mas membros do Extinction Rebellion não costumam tentar fugir da polícia. Eles aceitam e até procuram a ação judicial, embora alguns deles tenham sido inocentados porque o juiz considerou que agiam de boa fé.
Algumas coisas que os presentes propuseram durante a reunião faziam sentido. A melhora do transporte público me pareceu de suma importância num país pequeno como o Reino Unido. Isso certamente melhoraria imensamente a qualidade de vida. Foi quando eles passaram a falar em “mudar o sistema” que comecei a me sentir na universidade, nos anos 1970.
Eles exigiam o fim das emissões de carbono até 2025, assim como o fim do uso de combustíveis fósseis. Até lá, toda a eletricidade deveria ser gerada por fontes renováveis. O surpreendente é que ninguém parece ter parado para pensar nas consequências disso: racionamento de energia, casas sem aquecimento, banhos frios, o fim do transporte e da distribuição veicular, o fim da produção industrial, e assim por diante. Para eles, as mudanças climáticas são infinitamente mais reais e mais importantes do que as consequências dessas demandas. Eles demonstravam um fervor quase religioso.
Eles tampouco pararam para pensar que nada do que o Reino Unido faça fará a menor diferença, mesmo que o país deixe de emitir o dióxido de carbono excedente e mesmo que a teoria das mudanças climáticas esteja totalmente correta. Que tal se eles tentassem derramar substâncias parecidas com petróleo na sede um banco chinês?
Surpreendentemente, nem a situação atual do mundo passou por suas cabeças. Se bem que, se tivessem pensado nisso, eles sem dúvida diriam que a situação atual só confirma a opinião deles de que devemos nos ater às fontes de energia renováveis. Eles deram um novo sentido à expressão “lutar contra moinhos de vento”.
Deixei a reunião mais cedo, sabendo que aquela bobagem é perigosa, mas sentindo também um estranho carinho por aquelas pessoas. Elas queriam, assim como talvez todos nós queiramos (ainda que alguns saibam que é impossível), um mundo onde não seja preciso fazer concessões para se ter aquilo que se deseja.
Theodore Dalrymple é colaborador do City Journal, membro do Manhattan Institute e autor de vários livros.
©2022 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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