Eles quebraram janelas e promoveram tumultos nas ruas de Washington durante a posse do presidente Donald Trump. Em Charlottesville, juntaram-se a manifestantes liberais para contraprotestar uma manifestação de supremacistas brancos. E, esta semana, derrubaram uma estátua de bronze de uma figura dos Confederados, em Durham, Carolina do Norte.
Na terça-feira Trump insistiu que os contramanifestantes em Charlottesville agiram com violência e foram igualmente culpados pela agitação que deixou uma mulher de 32 anos morta e outras pessoas hospitalizadas. “E a ‘alt-left’ (esquerda alternativa) que atacou a ‘alt-right’ (direita alternativa)?” Trump perguntou. “Será que ela carrega qualquer indício de culpa?”
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Anarquistas e antifascistas, frequentemente descritos como a Antifa (o bloco antifascista), são facções da extrema esquerda que não se sentem representados pelo Partido Democrata centrista. Eles ganharam visibilidade adicional na era de Trump e frequentemente são todos agrupados juntos, embora nem todos os antifascistas se identifiquem como anarquistas.
“A presidência de Trump sem dúvida encorajou os movimentos fascistas e racistas em todo o país, e há um momento em que os anarquistas se dispõem a reagir a tudo isso de maneira que muitos outros não se prontificam a fazer”, explicou Samantha Miller, 32 anos, anarquista de Washington que ajudou a organizar os protestos do dia da posse de Trump.
Mas essa abordagem – na qual as pessoas se dispõem a praticar algum grau de violência ou depredação de bens para alcançar uma meta social ou política – já existia muito antes da presidência de Trump.
Origens do anarquismo
Andrej Grubacic, anarquista e teórico do anarquismo que dirige o departamento de antropologia do Instituto de Estudos Integrais da Califórnia, disse que o anarquismo tornou-se um movimento internacional durante a primeira era da globalização, no final dos anos 1800, uma época de migrações pelo mundo afora.
Muitas pessoas migraram entre a Europa, Ásia e Américas em busca de uma vida melhor, mas nem sempre a encontraram.
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“Os migrantes não descobriram ruas pavimentadas de ouro, como esperavam”, disse Grubacic. “Descobriram muitas minas de carvão e empregos em fábricas, com condições de trabalho péssimas.”
Mesmo naquela época, os anarquistas estavam associados à violência. Mas, segundo Grubacic, naquela época atos de violência contra pessoas no poder eram uma parte aceita da política radical. As pessoas os enxergavam como uma maneira de formar movimentos de justiça social e interromper guerras.
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Durante a Revolta de Haymarket, em Chicago, em 1886, uma bomba foi atirada numa manifestação popular trabalhista em defesa da carga horária de oito horas de trabalho diárias. Pelo menos oito pessoas morreram. Anarquistas foram condenados pelo crime e sentenciados à morte, embora não houvesse provas convincentes contra eles, e muitos criticaram o julgamento. Os homens passaram a ser vistos como mártires do movimento trabalhista.
Assassinato presidencial
Em 1901, Leon Czolgosz, anarquista autoproclamado, assassinou o presidente americano William McKinley, um crime que foi repudiado por muitos anarquistas, por considerar que prejudicava seu movimento. Czolgosz disse ter sido inspirado por Emma Goldman, uma das figuras anarquistas mais famosas. Goldman, que não o conhecia, escreveu sobre o assassinato na “Free Society”, uma revista anarquista popular da época.
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“Não me importo com o que diz a turba; mas, àqueles que ainda são capazes de entender, eu diria que o anarquismo, sendo uma filosofia de vida, visa estabelecer um estado social em que a composição interna do homem e as condições que o cercam possam fundir-se harmoniosamente, para que ele possa utilizar todas as forças para ampliar e embelezar a vida que o cerca”, ela escreveu.
“A esses eu também diria que não advogo a violência; o governo o faz, e a força gera a força. Esse é um fato que não pode ser eliminado submetendo alguns homens e mulheres à justiça, nem com a adoção de leis mais rígidas –isso apenas tende a aumentá-lo.”
A violência prejudicou a reputação do movimento anarquista em todo o mundo, e, no início do século 20, os anarquistas mudaram seu nome, passando a descrever-se como libertários. Na maioria dos países hoje, sendo os Estados Unidos uma das exceções, o libertarismo é sinônimo de anarquismo.”
Antifascistas e black blocs
Quando nazistas e fascistas chegaram ao poder na Europa, na década de 1930, emergiram grupos antifascistas. Na década de 1980, o cenário do punk rock também alimentou o crescimento desses grupos nos Estados Unidos. Eles também vêm crescendo devido à brutalidade policial e ao movimento Black Lives Matter (as vidas de negros têm importância).
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Embora esses grupos compartilhem com os anarquistas várias semelhanças e suas táticas de protesto, seu objetivo é combater a política fascista e racista. Os anarquistas na América, por exemplo, também consideram que o governo e a Constituição são inerentemente racistas, e, segundo anarquistas de Washington, que o governo americano por inteiro deveria ser abolido e recriado em escala muito menor.
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O anarquismo no século 21 é mais comumente associado às táticas dos chamados “black blocs” –protestos em que os participantes usam roupas inteiramente pretas e máscaras pretas para ocultar sua identidade, já que frequentemente depredam bens. Com isso, torna-se mais difícil identificar participantes e acusá-los criminalmente. A tática do “black bloc” foi usada no protesto do dia da posse de Donald Trump em 2017.
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Grubacic disse que é possível ser anarquista e rejeitar a violência.
“Muitos anarquistas discordam da ideia de quebrar vidraças. Mas é uma discordância tática prática, não uma divergência moral”, ele explicou.
“Quebrar vidraças é uma maneira de mostrar que não vamos simplesmente ser bonzinhos e ficar calados. Estamos aqui e vamos fazer tudo que pudermos para impedir o assassinato de milhões de pessoas. É uma maneira de mostrar que levamos a sério nossa oposição às guerras e à violência contra seres humanos.”
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