Estudantes pró-Palestina presos durante uma ação policial na Universidade de Columbia, em Nova York.| Foto: EFE/EPA/Stephani Spindel
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A história, ainda recente, das redes sociais é marcada por uma certa busca por exclusividade – principalmente por parte dos mais jovens.

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A regra é: se o seus pais usam o mesmo aplicativo que você, alguma coisa está errada.

Por isso o Facebook perdeu público para o Instagram, que por sua vez foi trocado pelo TikTok (cujo trono logo será tomado por outra plataforma).

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Segundo os especialistas na área, esse desejo de participar de ambientes virtuais seletivos vem se tornando ainda mais intenso entre os indivíduos da Geração Z, aqueles nascidos entre meados da década de 1990 e o ano de 2010.

Este, por sinal, é o público-alvo do Sidechat, um APP que entrou no centro da crise em curso nas universidades americanas desde os ataques do Hamas a Israel, em outubro de 2023.

De acordo com o jornal The New York Times, há acampamentos pró-Palestina montados em cerca de 40 instituições de ensino superior do país – em 15 delas, a polícia precisou intervir para evitar conflitos violentos.

E o principal meio de comunicação dos manifestantes é justamente o Sidechat, que combina duas características “perfeitas” para o momento: só pode ser usado por universitários e permite o anonimato.

Graças ao segundo recurso, o discurso de ódio rola solto nas postagens. As ofensas, intimidações e ameaças (inclusive de morte) partem dos dois lados dessa guerra cultural.

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Mas o antissemitismo supera, em muito, a islamofobia nos conteúdos analisados por educadores, autoridades de segurança e, agora, políticos.

Em uma nota divulgada em março, Nick Bartley, porta-voz do Comitê de Educação da Câmara, liderado pelo Partido Republicano, expressou sua preocupação com o uso da plataforma e incluiu outros setores dos campi na controvérsia.

“O Sidechat permitiu que estudantes, professores e funcionários publicassem mensagens antissemitas anonimamente. O comitê, no âmbito da sua investigação, quer saber como as universidades estão lidando com essa questão”, afirmou.

Para se ter uma ideia do grau de assédio verificado nos posts do aplicativo, usuários pró-Palestina da Universidade de Columbia, em Nova York, chegaram a compartilhar a localização do dormitório de um aluno judeu para que o lugar fosse vandalizado.

O motivo da revolta? O rapaz apenas retirou um panfleto de cunho político que estava colado na parede de um corredor da instituição.

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Em uma audiência realizada pelo comitê no último dia 17 de abril, a presidente da Columbia, Minouche Shafik, engrossou o coro dos descontentes com o Sidechat.

Para ela, a plataforma é “venenosa” e foi palco “dos casos mais flagrantes de antissemitismo, islamofobia e racismo ocorridos nas redes sociais”.

Situações semelhantes foram observadas em Harvard, Brown, Yale, Tufts, Princeton e nas universidades do Texas, Califórnia, Pensilvânia e Carolina do Norte. Esta última foi a única que tomou algum tipo de atitude: bloqueou o acesso ao Sidechat no Wi-Fi de seu campus.

“A plataforma demonstrou um desrespeito imprudente pelo bem-estar dos jovens e uma indiferença total ao bullying”, disse o presidente da instituição, James L. Oblinger, em um comunicado oficial.

O esforço de Oblinger, contudo, é praticamente simbólico, pois os estudantes seguem acessando o APP por meio das redes de dados de seus dispositivos pessoais.

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De forma geral, os reitores afirmam estar de mãos atadas, pois proibir a utilização de um aplicativo de troca de mensagens fere os ideais americanos de liberdade de expressão.

Em março, durante uma reunião aberta ao público, a presidente da Brown, Christina Paxson, foi questionada se uma universidade poderia impedir o acesso ao Sidechat.

“Deixando de lado a preocupação com a censura, que levamos muito a sério, a resposta é: não”, disse.

Moderação de conteúdo é feita por universitários e ferramentas de inteligência artificial

Nas entrevistas que concede à imprensa, Sebastian Gil, um dos criadores do Sidechat, insiste em repetir um único discurso.

Segundo ele, o aplicativo mantém uma equipe de 30 moderadores de conteúdo, além de uma inteligência artificial treinada para identificar postagens “ameaçadoras, ofensivas ou profanas”.

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E, a julgar por suas declarações mais recentes, a única medida concreta tomada pela plataforma após o início das tensões foi a de também excluir posts que mencionem, diretamente, nomes de alunos.

As mensagens problemáticas, no entanto, continuam sendo removidas apenas depois de já terem ido ao ar.

Outra crítica ao aplicativo dá conta da moderação em si. Questiona-se o quanto do material é analisado apenas por ferramentas de I.A. e, principalmente, o fato de a maioria dos moderadores serem estudantes das próprias universidades incluídas na rede social.

A revista especializada em tecnologia Wired conversou sobre o tema com dois alunos de origens diferentes da Brown, no estado de Rhode Island, uma das universidades mais antigas e tradicionais dos EUA.

Ambos costumam publicar artigos com foco no ambiente “divisivo” das instituições de ensino superior do país.

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“A inteligência artificial não consegue simplesmente detectar toda a retórica e linguagem desumanizantes. Isso é algo que não pode ser decidido filtrando palavras-chave ou apenas interpretando a mensagem pelo valor nominal”, disse o palestino Aboud Ashhab.

Já o estudante judeu Andrew Rovinsky acredita que o Sidechat não deveria operar com moderadores universitários.

“Porque, obviamente, cada um de nós tem seus próprios preconceitos e noções sobre o que é e o que não é discurso de ódio. E também somos partes diretamente interessadas nesse ecossistema online.”

Em 2023, o Sidechat comprou outro aplicativo acusado de permitir ameaças racistas

Na verdade, a “semente” de toda essa tensão foi plantada há cerca de dez anos, com o surgimento da plataforma Yik Yak.

Bastante popular no início de suas atividades, a rede social logo ganhou a adesão dos universitários americanos por permitir que os usuários acessassem mensagens publicadas por pessoas distantes a um raio de apenas 8 quilômetros.

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Porém, quatro anos depois da estreia, o Yik Yak morreu na praia, sob acusações de permitir conteúdos tóxicos e ameaças racistas.

A empresa decidiu relançar o produto em 2021. Dois anos depois, foi comprada por outro aplicativo semelhante recém-chegado ao mercado: o Sidechat.

A proposta de Sebastian Gil e seus sócios consistia em combinar funcionalidades do Yik Yak com alguns conceitos do Facebook em seus primórdios – quando a rede de Mark Zuckerberg era voltada exclusivamente para estudantes universitários.

Mas, sintomaticamente, a novidade já entrou no ar com uma característica considerada “segregacionista” por seus críticos: o APP só pode ser baixado por donos de iPhones.

Em 2022, antes mesmo dos protestos pró-Palestina nos EUA, uma matéria do site Boston.com já alertava para esse caráter do aplicativo.

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Ouvido pela reportagem, um aluno da Tufts University, em Massachusetts, disse que os usuários do sistema Android eram ridicularizados por não poderem usar certos recursos disponíveis somente para iPhone – e, segundo ele, o Sidechat reforçava essa forma de bullying.

“É como se fosse chato conversar comigo porque não tenho dinheiro suficiente. Isso me faz sentir mal, porque é algo que não está realmente sob meu controle”, afirmou, na época, o rapaz.

Não foi por falta de aviso, portanto, que o Sidechat poderia criar tensão nas interações virtuais entre os estudantes.

Com o estrago já feito, as autoridades agora pressionam seus criadores para desenvolver ferramentas capazes de moderar os conteúdos com mais efetividade – um desafio a ser superado desde o advento do anonimato online.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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