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Desde que o casamento foi redefinido pela Suprema Corte dos Estados Unidos, a instituição passou por transformações que a enfraqueceram.
Desde que o casamento foi redefinido pela Suprema Corte dos Estados Unidos, a instituição passou por transformações que a enfraqueceram.| Foto: Pixabay

Há uma década, o presidente Barack Obama afirmava que o casamento une um homem e uma mulher. O mesmo disseram 45 estados e o governo federal.

Os únicos estados a redefinirem o casamento o fizeram por meio de tribunais ativistas ou, 2009, por meio da ação legislativa. Nas urnas, os cidadãos votaram contra a redefinição. A maioria concordava com Obama.

Aí em 2012, Obama “evoluiu” e a Suprema Corte aceitou casos que envolviam a lei marital.

Nada na Constituição dos Estados Unidos respondiam à pergunta que estão: o que é um casamento? A Suprema Corte deveria ter deixado a decisão para o povo. Mas, em 2013, ela reforçou a definição federal do casamento como uma união entre um homem e uma mulher, numa votação 5-4.

O tribunal também rejeitou um pedido para que ele usasse a definição de casamento adotada em 2008 durante um referendo no qual os californianos – sim, californianos – rejeitaram a decisão de um tribunal ativista.

Somente em 2015 a Suprema Corte, novamente numa votação 5-4, redefiniu o casamento para todo o país, provocando quatro dissidências irrefutáveis.

Os defensores do casamento entre pessoas do mesmo sexo diziam que buscavam apenas a “liberdade para se casar”. Casais homossexuais já eram livres para viver como bem entendessem, mas a batalha jurídica dizia respeito à definição de casamento para toda a sociedade. Tudo tinha a ver com afirmação — por parte do governo e todos os demais.

Não é de se surpreender que, depois que a campanha do “viva e deixe viver” saiu vitoriosa, teve início uma campanha para fechar agências católicas de adoção e para perseguir confeiteiros e floristas evangélicos.

Isso mostra que a luta nunca foi por “viva e deixe viver” – isso foi apenas uma postura tática.

A redefinição de família e casamento

Essas foram as primeiras consequências da redefinição, mas consequências mais profundas afetarão o casamento em si. A lei molda a cultura; a cultura molda as crenças; e as crenças moldam a ação.

A lei agora ensina que mães e pais são substituíveis, que o casamento tem a ver apenas com uma relação consensual entre adultos, com quem que os envolvidos prefiram. Isso enfraquece a verdade de que uma criança merece um pai e mãe – um de cada.

Isso também afeta negativamente qualquer justificativa sensata para as normas maritais. Afinal, se o casamento tem a ver apenas com uma conexão romântica, por que exigir monogamia?

Não há nada de mágico no número dois, como os defensores do “poliamor” dizem. Se o casamento não é a união entre um homem e uma mulher, por que ele deveria envolver ou pressupor exclusividade sexual? Se o casamento não é uma união ampla inerentemente orientada para a criação dos filhos, por que ela deveria ser perpétua?

Os defensores da redefinição do casamento não foram capazes de responder a essas perguntas quando lhes pediram para mostrar que o fim da complementariedade sexual não prejudica as demais normais maritais. Hoje, eles cada vez mais admitem que não pretendem defender a monogamia, exclusividade e permanência.

O casamento entre pessoas do mesmo sexo não criou esses problemas. Muitos norte-americanos já tinham cedido à erosão das normais maritais depois da Revolução Sexual – com a ascensão da coabitação, filhos fora do casamento, divórcio sem justa causa e cultura do “ficar”.

Não é de se surpreender, pois, que muitos questionem a relevância da norma homem-mulher. A redefinição jurídica é uma consequência do colapso cultural do casamento.

A monogamia saiu de moda

Mas o casamento entre pessoas do mesmo sexo é o catalisador de outros problemas. Já vemos formadores de opinião respeitáveis defendendo “casais triplos”, “não-monogamia ética” e “relações abertas”. Isso era previsível; nós e outras pessoas previmos isso.

O que não previmos foram as manchetes sobre as identidades não-binárias e transgêneros. Há dez anos, poucos norte-americanos pensavam no “T” da sigla “LGBT”. Hoje, o tema da identidade de gênero parece dominar a discussão sobre sexualidade e moralidade sexual.

Há uma lógica nisso. Se somos incapazes de manifestar nossa identidade sexual onde ela mais importa – no casamento – questionaremos se ele é realmente importante. Daí a pressão para que vejamos o gênero como algo “fluido”, que existe em meio a um “espectro” de opções não-binárias.

Há uma lógica mais profunda também. Por trás da pressão pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo havia um dualismo corpo-eu — a ideia de que somos entes não-físicos habitando corpos físicos, ou espíritos em máquinas. Daí porque a configuração dos atos sexuais parece não ser importante.

A verdadeira união num só corpo, a base do casamento, foi considerada algo ilusório. O que importa é a união emocional e a forma como os parceiros usam o corpo para criar sensações e sentimentos agradáveis.

Claro que dois homens ou duas mulheres (ou casais triplos ou ainda grupos maiores) conseguem isso. Mas a lógica foge ao casamento. Se o corpo está apenas agindo fisicamente, o sexo é menor importante do que a identidade.

Isso tem consequências trágicas, sobretudo para as crianças.

O sofrimento das crianças

Quase impensável há uma década, certos profissionais da saúde dizem que crianças que sofrem de disforia de gênero estão presas no corpo errado, mesmo que seus corpos sejam apenas invólucros, como explicou um especialista.

Alguns médicos hoje prescrevem drogas bloqueadoras de puberdade para crianças saudáveis, mas incapazes de aceitar seus corpos. Eles prescrevem terapia hormonal para adolescentes a fim de que seus corpos se adequem às suas identidades de gênero.

Como parte de um estudo financiado pelo governo, médicos realizaram até duplas mastectomias em meninas — incluindo duas de 13 anos.

Essas transformações não eram defendidas por movimentos tradicionais. Elas vieram de pessoas que tinham o poder político, econômico e cultural para promover a ideologia sexual-liberalizante.

Foi uma mudança imposta de cima para baixo – da forma como Hollywood retrata os personagens LGBT até executivos que boicotam estados por causa de leis de liberdade religiosa. Depois de perderem seguidas vezes nas urnas – até mesmo na Califórnia —os ativistas encontraram outros caminhos: tribunais ideologicamente amigáveis, agências federais e grandes empresas.

Depois de assegurarem a redefinição de casamento, eles recorreram ao “T”, com a administração Obama redefinindo “sexo” como “identidade de gênero” e impondo uma política nova às escolas.

Depois de conseguirem o apoio do governo, os ativistas se puseram a eliminar os dissidentes. O ex-candidato à Presidência Beto O’Rourke quer tirar a isenção de impostos das igrejas. O megadoador político Tim Gill prometeu gastar fortunas para “punir os maus”.

Quem são os “maus”? Aqueles que se recusam a aceitar a nova ortodoxia sexual.

Todos nós, incluindo os que se identificam como LGBT, somos feitos à imagem de Deus, merecemos dignidade e respeito. É por causa da nossa dignidade e respeito que as instituições que servem ao bem comum — como a família baseada no casamento — devem ser apoiadas, não prejudicadas ou redefinidas. Direitos básicos como o da liberdade religiosa devem ser mantidos, não violados. A moral saudável e a ecologia física – especialmente das crianças – deve ser preservada.

O “progresso” da última década custa muito caro.

Ryan T. Anderson é pesquisador da Heritage Foundation, onde pesquisa e escreve sobre casamento, bioética, liberdade religiosa e filosofia política.

Robert George é professor de jurisprudência na Princeton University. Ele também faz parte do conselho da Heritage Foundation.

© 2020 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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