O álcool está presente na vida dos jovens cada vez mais cedo no Brasil. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feito ano passado, aponta que 55% de adolescentes com idade entre 13 e 15 anos – o equivalente a 1,44 milhão de pessoas – já tiveram contato com bebidas alcoólicas. Em 2012, esse índice era de 50,3%.
A mesma pesquisa também mostrou que um em cada cinco jovens desta faixa etária já passou por pelo menos um episódio de embriaguez.
Embora a venda de álcool para menores de 18 anos seja proibida, o acesso a bebidas ocorre ainda dentro de casa e coloca meninos e meninas sob os riscos de uma substância que pode levar à dependência. Alertar crianças, adolescentes e adultos sobre isso faz parte do trabalho do “Antes da Saideira”, projeto curitibano fundado pela jornalista e publicitária Isabella Collares, de 36 anos. A iniciativa de educomunicação busca promover o debate crítico sobre a banalização do uso do álcool entre jovens e adolescentes.
“Desde criança sempre quis entender por que motivo as pessoas sentem vontade de ‘sair da casinha’. Vi que existia uma maneira diferente das pessoas se portarem e uma certa glamorização ao beber. O projeto procura tratar essa temática além da questão moral”, explica Isabella, que obteve bagagem na área atuando como professora do ensino fundamental e voluntariando em clínicas de reabilitação para dependentes químicos e na comunidade de Alcoólicos Anônimos (A.A).
Em três meses de atuação, o “Antes da Saideira” já alcançou, através de palestras e outras ações presenciais em universidades e escolas, cerca de 650 pessoas das mais variadas idades. Também há vídeos especiais publicados no canal do projeto no YouTube. Para cada público, é necessária uma abordagem especial. “O que se mantém em todas as palestras é a tentativa de chamar as pessoas para a lucidez sobre o impacto da publicidade e do jornalismo no consumo do álcool. É importante ver, antes de qualquer coisa, esse impacto midiático em escolhas do dia a dia”, assinala Isabella.
Para a jornalista, o conceito de liberdade para escolher consumir uma bebida alcoólica é relativo. O livre arbítrio do consumidor, analisa a criadora do projeto, será diretamente influenciado pelos estímulos a que for submetido. “Se eu tenho uma balança e só tenho um tipo de estímulo, um dos lados estará com peso desigual. Como podemos cobrar das pessoas uma postura diferente se só colocamos incentivo no lado do consumo?”, questiona.
Pensando nisso, as ações do “Antes da Saideira” não focam apenas a prevenção ou conscientização dos jovens. A ideia é que o público atendido aprenda a colocar para fora seus traços de força, a partir do autoconhecimento – o que ajudaria a tornar mais consciente suas escolhas de consumo.
“O alcoolismo existe em todas as faixas etárias. O álcool é uma droga livre, banalizada e aproveitada pela publicidade. Não falam nos bastidores o que acontece, mas é assustadora a proporção de casos de dependência”, observa Isabella, ao calcular que, hoje, de cada dez pessoas, pelo menos uma tem um dependente de álcool na família ou conhece alguém que já teve problemas relacionados com a bebida. “Infelizmente, isso se tornou um tabu”, pontua.
Vaquinha
Em março de 2018, o projeto “Antes da Saideira” será levado para uma aldeia da tribo Tupinambá, na Bahia, após um convite para atuar com problemas de alcoolismo entre indígenas. A iniciativa, no entanto, ainda precisa arrecadar fundos para pagar passagens dos voluntários até o Nordeste. Os interessados em colaborar podem fazer doações através deste link.
Também é possível solicitar palestras do projeto em Curitiba e outras cidades. O contato pode ser feito através do telefone (41) 98835-6434, pela página do projeto no Facebook ou pelo site www.antesdasaideira.com.br.