Antes da manhã desta quarta-feira, 13 de março de 2019, a Escola Estadual Professor Raul Brasil era conhecida apenas como uma escola tradicional e segura, instalada num bairro tradicional e seguro de Suzano, cidade localizada a 50 quilômetros de São Paulo. O ensino de qualidade e a tradição de dar voz aos alunos faziam a fama da instituição, que surgiu em 1950, como o 1º Grupo Escolar de Suzano – era a primeira escola do município, que havia sido fundado dois anos antes, por um desmembramento de Mogi das Cruzes.
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O bairro onde fica a escola, o Jardim Imperador, se caracteriza pelas residências de classe média, em geral imóveis com cinco metros de frente, garagem na entrada e três ou quatro cômodos da metade para o fundo e valor estimado entre R$ 400 mil e R$ 500 mil. Suas ruas amplas e arborizadas formam uma espécie de oásis: a região se mantém tranquila, ainda que fique bem no centro da cidade e posicionada de forma estratégica.
No entorno da escola Raul Brasil ficam um hospital privado, o Santa Maria, e a Associação Cultural Suzanense, centro de eventos da forte comunidade japonesa. Também está perto do único shopping da cidade, da estação de trem e do acesso para o Rodoanel e para a Rodovia Ayrton Senna, que leva tanto para São José dos Campos, por um lado, quanto para Guarulhos e São Paulo, por outro.
Espaços amplos
Fundada em 1948, a escola foi rebatizada dez anos depois, em homenagem a Raul Brasil, um professor nascido na cidade vizinha de Mogi das Cruzes. A estrutura ampla, com espaço para jogar xadrez e damas, e a grande quantidade de árvores ao longo do espaço, dão à escola uma espécie de charme bucólico. Além do ensino de quinta série até o ensino médio, para 1.067 alunos, a escola também abriga um centro de idiomas gratuito, o Centro de Estudos de Línguas.
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“Minha filha estudou espanhol por três anos e agora faz curso de francês”, diz Natanael Oliveira de Souza, de 54 anos, nascido em Curitiba e morador de Suzano há 11 anos – ele mantém, em um dos três cômodos de sua casa, o Biblioteca Comunitária Espaço do Saber, uma pequena biblioteca aberta para os moradores do bairro onde vive, o Jardim Gardênia. Sua filha, Melissa Vitória Silva de Souza, tem 16 anos. “Ontem mesmo (terça-feira) ela estava na escola, é assustador imaginar que poderia ser uma das vítimas”.
Ariel Ramos Siqueira Veiga, de 17 anos, foi aluna do Raul Brasil há dois anos. Não perdeu nenhum amigo no massacre, ainda que, na fuga, um primo tenha torcido o tornozelo e outro ex-colega tenha fraturado a perna. “Todo mundo na cidade elogia o colégio, dizem que é um dos melhores, e realmente é”, ela afirma. “Os professores são ótimos, a escola tem vários projetos, é muito aberta para a participação dos alunos”.
A ex-aluna lembra que o local é amplo e tranquilo, mas também muito seguro. “São dois portões grandes, de ferro, abertos só por dentro. Tem câmera na entrada, muros altos e funcionários nos acessos e nos corredores. Era uma das escolas mais seguras para os alunos e tinha fama de ser uma das mais difíceis da cidade para quem queria matar aulas”.
Bons indicadores
O colégio fica próximo à avenida Armando Salles de Oliveira, uma das quatro vias principais que cortam o centro da cidade – as outras são Francisco Glicério, Benjamin Constant e Antonio Marques Figueira, todos homens de expressão na história da República do país. Apesar de a área territorial do município ser ampla (são 206.236 km²), a faixa central é formada por poucos quarteirões. Suzano tem hoje estimados 294.638 habitantes, e só em 2018 alcançou o número mínimo de 200 mil eleitores para realizar eleições com segundos turnos.
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) da cidade é de 0,765, e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita está em R$ 32.871,69. São 14,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, muito inferior às 30,3 mortes para 100 mil da média brasileira. A taxa de escolarização é de 96,7% – um são 41.986 alunos do ensino fundamental e 15.041 do ensino médio.
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Nada disso impediu que dois moradores da região, vizinhos e ex-alunos do Raul Brasil, invadissem a escola a pretexto de pedir para retomar os estudos, que haviam abandonado. Ao longo de todo o dia, os moradores e frequentadores de Suzano, consternados, andaram cabisbaixos, comentando em voz baixa sobre o massacre. Quaisquer atividades recreativas ou educacionais, mesmo escolas de música, de balé e de futebol, foram interrompidas nesta quarta-feira que marcou a história da escola, do bairro e da cidade.
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