Se você pesquisar “capitalismo luta contra o racismo” no Google, os principais resultados da pesquisa mostrarão artigos como: “O capitalismo é racista?”, “Capitalismo sem racismo: ciência ou fantasia” e “A ascensão do capitalismo e o surgimento do racismo”.
Lendo esses títulos, parece que o modelo econômico mais triunfante que o mundo já viu está enraizado em uma estrutura racista e hegemônica destinada a beneficiar os senhores da sociedade. Ainda bem que temos o Google para abrir nossos olhos para esse sistema desumano.
Brincadeiras à parte, a sociedade ocidental (pós)moderna vê o capitalismo como o elefante muito feio na sala. Ela não quer admitir que é uma engrenagem crucial que mantém a civilização funcionando e prefere cobiçar sonhos impossíveis, como o socialismo, buscando ver o mundo através de lentes cor de rosa.
Somos levados a acreditar que o livre mercado é a força responsável por grande parte da injustiça, racismo e desigualdade vistos no mundo moderno. Mas isso é verdade?
O que o capitalismo fez
O fato é que o capitalismo como sistema sempre foi uma força para o bem, e isso inclui a tumultuada história dos Estados Unidos. Mesmo durante as eras da Reconstrução e Jim Crow, períodos que viram abusos desenfreados dos direitos civis perpetrados nas comunidades negras, o capitalismo foi a graça salvadora, ajudando as pessoas a superar sua situação, a adversidade que enfrentaram e uma cultura ainda se recuperando dos efeitos da violência da guerra civil.
Como Milton Friedman afirmou em seu livro Capitalismo e Liberdade:“É um fato histórico impressionante que o desenvolvimento do capitalismo tenha sido acompanhado por uma grande redução na medida em que determinados grupos religiosos, raciais ou sociais operaram sob desvantagens especiais em relação às suas atividades econômicas; foram, como diz o ditado, discriminados”.
Com forças nas mídias sociais, redes legadas e o governo trabalhando para minar a ideia de que o capitalismo é uma força para promover a liberdade individual e capacitação do indivíduo como agente, é importante revisitar algumas histórias de como o livre mercado tirou as pessoas da pobreza e combateu o racismo.
'O Pai do Harlem'
Philip A. Payton (1876-1917) foi um empresário imobiliário negro do século 20 no Harlem, bairro de Nova York. A segregação de fato ainda estava presente nas cidades americanas na época. Manhattan não foi exceção. Com a aquisição de unidades brownstone [casas populares geminadas, com fachadas de pedras marrons] depois que várias famílias brancas se mudaram, Payton atuou para fornecer mais moradias para locatários negros no [distrito de] Upper West Side. Considerando a tensão racial da época, é seguro dizer que os proprietários não ficaram muito felizes com isso.
A Hudson Realty Company pretendia ressegregar a área comprando as unidades de propriedade de negros e despejando os inquilinos. Payton retribuiu o favor às unidades de propriedade de brancos e as ofereceu a locatários negros anteriormente despejados. Payton prevaleceu no final quando a Hudson Reality desistiu de seu objetivo de ressegregação. Tentativas posteriores foram feitas por associações imobiliárias que usaram qualificações raciais para impedir que famílias negras alugassem, mas também foram duramente derrotadas por Payton e outros empresários negros que se inspiraram em seu exemplo.
A Afro-American Realty Company de Payton cresceu para US$ 1 milhão em ativos e ajudou inúmeras famílias negras a se mudarem para áreas onde desejavam morar - não apenas para onde a cidade as relegou. Ele usou o mercado livre e a demanda por moradias melhores para prestar um serviço à sua comunidade. Apesar dos obstáculos raciais, Payton prevaleceu porque, no final das contas, ele entendeu que a discriminação não é páreo para a vontade do povo. Como ele certa vez anunciou: “O próprio preconceito que até agora funcionou contra nós pode ser transformado e usado em nosso benefício”.
A Rainha dos Cosméticos
Sarah Breedlove nasceu em Louisiana, apenas quatro anos depois que a Proclamação de Emancipação foi assinada pelo presidente Abraham Lincoln. Tendo ficado órfã aos sete anos de idade e forçada à servidão doméstica para sobreviver, Breedlove teve uma perspectiva muito sombria no início de sua vida. Mais tarde, ela se lembraria como "(...) tive pouca ou nenhuma oportunidade quando comecei... tendo ficado sem mãe ou pai...".
Apesar disso, Breedlove continuaria trabalhando duro e eventualmente desenvolveria sua própria linha de cuidados com os cabelos. Como o mercado afro-americano era amplamente negligenciado na época, Breedlove aproveitou a oportunidade para atender a um grupo demográfico crescente e começou a vender seus próprios produtos para o cabelo.
Mais tarde, ela seria conhecida como 'Madame CJ Walker' depois de se casar com Charles Walker, em 1906. Assim como o petróleo recém-explorado, seu negócio se expandiu rapidamente, encontrando força nas comunidades negras em todo o país. Uma operação de pequeno porte cresceu para incluir uma fábrica, uma escola de beleza e um salão de cabeleireiro. CJ Walker era conhecida por contratar mulheres para cargos de alta gerência e pessoal, algo insondável na época. No auge da empresa, observa-se que vários milhares de mulheres foram empregadas como agentes de vendas e inúmeras outras treinadas em cuidados com os cabelos.
A empresa de Madame Walker valeria cerca de US$ 10 milhões na moeda atual. Ela é a primeira mulher milionária registrada na história americana - um feito incrível por mérito próprio, mas ainda mais surpreendente quando você considera que ela viveu durante uma época em que os negros ainda eram vistos como cidadãos de segunda classe. Walker pegou a adversidade que experimentou e construiu um negócio literalmente do zero. Sem a cultura subjacente de empreendedorismo e o sistema de livre mercado, quem pode dizer se sua empresa teria sido formada?
Pedido por correspondência lutou contra Jim Crow
A marcha para a liberdade que culminou na Lei dos Direitos Civis de 1964 evoca imagens de passeatas, protestos e o famoso discurso de Martin Luther King no National Mall. Um aspecto menos conhecido foi o surgimento de mercados alternativos que ajudaram a combater as políticas econômicas racistas, que, em última análise, buscavam restringir, e não promover, os mercados. Sob Jim Crow, as comunidades negras foram restringidas em suas decisões de compra pública. Eles foram impedidos de ir a certas lojas, restaurantes e lugares comuns. Se eles conseguissem comprar mercadorias de uma loja de propriedade de brancos, eram recebidos com comentários racistas, tons condescendentes e até preços predatórios.
A Sears revolucionou a experiência do comprador com o uso de catálogos, permitindo que os consumidores encomendassem mercadorias pelo correio para suas casas. Isso colocou a empresa em uma enorme vantagem ao expandir seu mercado, atendendo a muitos milhares de clientes a mais do que uma típica loja física poderia. Admitida hoje, a ideia de encomendar e receber seu produto sem sair de casa foi uma invenção nova - e potencialmente salvadora - para as famílias do século 20.
Essa inovação permitiu que os negros do sul encomendassem itens indisponíveis em suas lojas segregadas. Com o pedido pelo correio, os clientes negros também não precisavam experimentar o racismo e a desumanidade que vivenciavam durante algumas saídas públicas; eles podiam pedir o que quisessem quando quisessem, assim como o branco médio da época. A inovação capitalista não apenas beneficiou as empresas envolvidas, mas também serviu para agregar valor a diversas comunidades; neste caso, funcionou como uma fuga para tantos consumidores negros constrangidos por Jim Crow.
Algo para lembrar
Estas são apenas algumas histórias de como o capitalismo de livre mercado ajudou a empurrar as pessoas acima do racismo sob o qual muitas vezes viviam. Os legados de Madame Walker, Philip Payton e muitos outros empresários negros do século 20 subsistem até hoje. Com multimilionários e bilionários como Rihanna, Beyonce, Kanye West, Drake, Oprah Winfrey, Tyler Perry, Jay Z, Michael Jordan, fica claro que o capitalismo é uma força socioeconômica que capacita as pessoas a inovar para melhorar a si mesmas e suas comunidades, ao contrário de ser o fornecedor do racismo e da injustiça modernos, como o Google levaria a acreditar.
©2022 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.
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