• Carregando...
Monumento em memória dos escravos na Tanzânia. A escultura foi feita por Clara Sornas em 1997.
Monumento em memória dos escravos na Tanzânia. A escultura foi feita por Clara Sornas em 1997.| Foto: BigStock

A esquerda adora promover "reparações". Mas só até onde a história e a verdade não contradizem suas narrativas simplistas do passado.

A especialista em realeza britânica Hilary Fordwich puxou o tapete do apresentador da CNN Don Lemon nesta terça-feira (20), quando ele perguntou se a monarquia britânica deveria pagar reparações pelo colonialismo e pela escravidão.

Lemon disse a Fordwich: "Há quem peça reparações pelo colonialismo. Estão imaginando cem bilhões de dólares aqui, vinte e quatro bilhões ali, quinhentos milhões acolá..."

Pulando o clickbait, vocês não vão acreditar no que aconteceu depois.

Primeiro, Fordwich reconheceu que há gente pedindo reparações, mas em seguida virou a discussão ao avesso. Disse que a monarquia britânica seria o alvo errado para buscarem reparações.

Em vez disso, os proponentes de reparações deveriam olhar primeiro para "o começo da cadeia de suprimento" — isto é, para os reinos africanos que escravizaram os africanos e os venderam — em vez dos britânicos, que foram uma força chave na eliminação global da escravidão.

"Qual foi a primeira nação do mundo a abolir a escravidão?", foi a pergunta retórica de Fordwich. Depois, ela mesma respondeu: foi a nação britânica.

"Na Grã-Bretanha, aboliu-se a escravidão. Dois mil homens da marinha morreram em alto mar tentando parar a escravidão. Por quê? Porque reis africanos estavam pegando o seu próprio povo no laço", disse ela. "Eles os deixavam em gaiolas, esperando nas praias."

Ela deu este incrível arremate final:

Acho que você está totalmente certo. Se as reparações tiverem de ser pagas, precisamos ir até o começo dessa cadeia de suprimento e dizer: quem estava pegando seu próprio povo no laço e enjaulando-o? Com certeza, é daí que esse pessoal precisaria começar.

Vale assistir ao recorte só para ver a cara de Lemon e a sua reação ao ser desafiado por uma discussão "honesta" da escravidão e da História [o áudio está em inglês].

As discussões sobre reparações são oportunas, haja vista o lançamento de "The Woman King", uma produção hollywoodiana que conta a história de um grupo de guerreiras africanas do século XIX do reino do Daomé. O filme retrata as protagonistas como proto-libertadoras panafricanistas que combatem o imperialismo e a escravidão, mas a verdade é bem o contrário.

O Daomé, localizado onde hoje está o Benim, e outros reinos africanos eram, amiúde, entusiastas do escravagismo. A cidade portuária de Anomabo, por exemplo, que hoje está em Gana, se tornou um poderoso polo central do comércio escravagista. Sua considerável riqueza, construída sobretudo com o comércio transatlântico de escravos, se exauriu quando o Império Britânico e outras potências ocidentais não apenas se voltaram à prática da escravidão, como usaram a força para dar-lhe um fim. [Quanto à importância do Reino do Daomé para a cultura brasileira, veja-se este artigo. (N. t.)]

A prática da escravidão, global e quase universal, que aperreou a civilização através da sua História, chegou ao fim na maior parte por causa da ascensão do poder do Ocidente. Gana e Benim devem pagar reparações agora?

Essas questões espinhosas são, de alguma maneira, deixadas de lado no debate sobre a culpabilidade histórica. Mas de repente elas são importantes, uma vez que a questão foi levada a sério pelos esquerdistas que desenham políticas públicas.

Um artigo recente da Vox expôs a maneira como as reparações estão sendo discutidas por governos locais e instituições para capitalizar o "grande awokening" que começou a sério em 2020. ["Awokening": trocadilho com "woke" (lacrador) e "awakening" (despertar). Algo como "o despertar para a lacração". (N. t.)]

Aparentemente, tornou-se uma proposta séria em algumas localidades. Cito a Vox:

"Os defensores continuam a exigir reparações do governo federal. Mas os governos e instituições municipais não estão esperando para darem a sua mãozinha na justiça reparativa.

Após os levantes de justiça social de 2020, cidades como Asheville, da Carolina do Norte; Providence, de Rhode Island; e Burlington, de Vermont, criaram comissões e forças-tarefas de reparação. Eleitores de Greenbelt, em Maryland, e Detroit, aprovaram comissões que irão estudar reparações por meio de ballot measures. "[Trata-se de medidas que constarão na extensa cédula de votação que os cidadãos dos EUA recebem na hora da eleição. (N. t.)]

A Califórnia lançou uma Força-Tarefa de Reparação em 2021 que foi criada para "(1) estudar e desenvolver propostas de reparação para os afro-americanos; (2) recomendar meios apropriados de educar o público californiano quanto às descobertas da força-tarefa; e (3) recomendar remédios apropriados em consideração das descobertas da Força-Tarefa."

Suas descobertas mais recentes sugeriram que as disparidades raciais na sociedade se baseiam no racismo institucional e na supremacia branca. Suas recomendações à guisa de remédios vão desde o despoliciamento de bairros predominantemente negros até pagamentos diretos às famílias negras do estado.

Muitas dessas sugestões provavelmente criariam mais desigualdade e miséria para os negros californianos, porém a premissa subjacente é, em essência, que os governos devem pagar e continuar pagando até a equidade melhorar.

Mas isso é mesmo justo ou benéfico?

A questão de se grupos inteiros de pessoas merecem "reparações" já é filosoficamente arriscada. Decerto pode fazer sentido que alguém que tenha sido escravizado ou perdido suas propriedades graças à escravidão seja indenizado diretamente. Mas e membros familiares de quatro, cinco ou seis gerações depois?

Decifrar a história específica para descobrir quem de fato foi vítima também pode ser problemático. Tomem como exemplo as histórias recentes das supostas valas comuns de crianças indígenas perto de uma escola católica do Canadá. A história desencadeou vandalismo e ataques a igrejas no Canadá.

Contudo, após investigações, viu-se que a história não era verdadeira, ou, no mínimo, nenhuma evidência foi encontrada.

As reparações serão baseadas em testes genéticos? Especificamente, uma one drop rule com implicações de que uma gota do DNA de um grupo oficialmente oprimido trará um estipêndio do governo não só para você, mas também para a sua posteridade? [No caso do Brasil, a história se complica mais ainda, haja vista o fato de que negros e mulatos também foram donos de escravos. (N. t.)]

Esse parece ser o caso de algumas das iniciativas federais e locais.

Por exemplo: em 2021, Oakland, na Califórnia, lançou um programa de renda básica universal [sic] que daria dinheiro só a "negros, indígenas e outras pessoas de cor."

Em janeiro de 2021, o estado de Vermont anunciou que uma rodada precoce das vacinas de Covid estaria disponível para "todos os residentes negros, indígenas e outras pessoas de cor que são residentes permanentes de Vermont com 16 anos ou mais."

O governo Biden, em abril, anunciou vários "Planos de Ação para a Equidade" que acrescentavam programas de consciência racial à burocracia federal.

Tais iniciativas podem ser uma violação das leis de direito civil e da 14ª Emenda, mas isso não tem impedido algumas agências governamentais municipais, estaduais e federais de tentar. A posição nova e lacradora é que favoritismo e segregação, raciais e legais, são coisas boas, e os defensores têm muito bom grado em dobrar ou atropelar as leis que estiverem no caminho.

Legais ou não, planos de reparação são profundamente falhos e amiúde criam injustiças novas em sua implementação. No fim, baseiam-se na premissa de que o único jeito de ir pra frente na sociedade é reivindicar a condição de vítima e extorquir o próximo.

"Isso leva os EUA a um caminho para a ruína em vários aspectos", escreveu J. L. Reiter no Substack de John Hulsman. "As reparações são incalculáveis, pois nenhuma das variáveis necessárias existe; impraticáveis, pois não podem ser levadas a cabo sem grave dano econômico; e antipolíticas, já que vão desviar os EUA do progresso contínuo rumo à igualdade racial enquanto exacerbam os ânimos inter-raciais."

Com certeza.

A maioria dos americanos fora das nossas instituições de elite na certa já reconhece isso e se opõe a preferências raciais legais e ações afirmativas. As pesquisas de opinião sobre as reparações também mostram que amplas maiorias estão contra elas.

Ainda assim, a revolução lacradora, feita de cima para baixo, continua. Por isso precisamos levar as propostas de reparação a sério, e em literalidade. E rejeitá-las.

©2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]