Enquanto os norte-americanos começam a debater como reabrir nossa sociedade diante da pandemia de Covid-19, parece que estamos divididos em três grupos: os que acreditam que o vírus não é sério demais e querem reabrir tudo o mais rápido possível (a minoria do povo norte-americano, de acordo com as pesquisas); os que acreditam que o vírus é extremamente sério e querem que tudo permaneça fechado (outra minoria do povo norte-americano); e, por fim, aqueles que acreditam que o vírus é sério, que o estrago econômico causado pela Covid-19 é sério e que teremos de reabrir o país com cuidado (a grande maioria dos norte-americanos).
Embora políticos dos dois lados do debate esperam ver seus oponentes como pertencentes aos primeiro e segundo grupos a verdade é que o debate honesto se dá no terceiro grupo.
Então como seria a estratégia de reabertura?
A questão se baseia em outra, mais profunda: que suposições estamos fazendo?
Claro que todo queremos reduzir as mortes ao máximo. Mas quais as suposições contidas nas medidas que estamos tomando?
Estamos supondo que uma vacina surgirá daqui a 3, 6, 12 ou 18 meses? Estamos supondo que a imunidade do rebanho atingirá 60% ou 80% da população? Estamos supondo que as medidas terapêuticas reduziram a taxa de letalidade em 20%, 30% ou 100%, e em que prazo?
Também queremos reduzir o dano econômico ao máximo. E, de novo, temos de nos perguntarmos quais as suposições incluídas em nossas medidas públicas.
Estamos supondo que uma redução de 75% nos lugares dos restaurantes salvará 50% desses estabelecimentos? Estamos supondo que os consumidores continuarão praticando o distanciamento social daqui a seis meses? Estamos supondo que o governo estará disposto a criar trilhões a mais em dívidas apesar de uma queda no apetite internacional por dívidas?
A questão dessas suposições é fundamental para as nossas políticas. Isso porque, se supomos o pior — nenhuma terapia capaz de diminuir a taxa de letalidade da doença, nenhuma vacina nos próximos 18 meses e uma economia que simplesmente não pode funcionar a 25% ou até 50% de sua capacidade — então somos obrigados a chegar a uma conclusão simples: na falta de qualquer alteração significativa no status quo, temos de usar a chamada estratégia de avalanche controlada.
Essa estratégia foi batizada por cientistas israelenses que sugerem que a melhor forma de reduzir mortes e conseguir a imunidade do rebanho seria separar a população e expor os menos vulneráveis à covid-19 a fim de que eles desenvolvam anticorpos — em resumo, fazer no campo da saúde pública o mesmo que alguns resorts de inverno fazem quando criam pequenas avalanches para evitar uma avalanche mortal.
O fato é que de 40% a 50% de todas as mortes da União Europeia ocorreram em casas de repouso. O mesmo vale para a Califórnia. Se as autoridades tivessem protegido as casas de repouso, a taxa de letalidade no mundo industrializado seria a metade da atual.
Também é verdade que a taxa de letalidade da Covid-19 varia muito de acordo com a idade: no fim de abril, das 37.308 mortes registradas pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças, apenas 1.036 eram de pessoas com menos de 45 anos e só 51 de pessoas com menos de 25.
Até mesmo entre os mais jovens, a maioria das mortes era de pessoas com comorbidades.
Os cientistas israelenses sugerem que proteger os mais velhos e vulneráveis e depois permitir que a imunidade do rebanho se desenvolva entre os menos vulneráveis reduziria drasticamente a mortalidade em mais de 40%, reduziria a quantidade de pessoas que precisam de UTI em mais de 60% e diminuiria o tempo necessário para dar liberdade à população de baixo risco em meses.
Obviamente não se trata de uma estratégia infalível — não existe estratégia infalível. Mas talvez seja uma estratégia melhor do que simplesmente ficar esperando e vendo a economia mundial implodir, sabendo que nossa esperança por uma solução mágica provavelmente não se concretizará.
Ben Shapiro é apresentador do "Ben Shapiro Show" e editor-chefe do DailyWire.com.
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