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Mensagens do Estado Islâmico em Raqqa, na Síria | CK/KRSTRINGER
Mensagens do Estado Islâmico em Raqqa, na Síria| Foto: CK/KRSTRINGER

Quando a adolescente de 15 anos Lisa W. começou a usar roupas longas no início do ano passado, o fato causou estranhamento em seus colegas e professores na pacata cidade de Pulsnitz, no leste da Alemanha. A conversão dela ao islamismo foi notada quase que imediatamente numa parte do país em que 0,5% da população é muçulmana e onde os efeitos contra a política pró-refugiados de Angela Merkel haviam sido os mais fortes do que em qualquer outra parte do país. 

A escola onde Lisa W. estudava logo entrou em contato com sua mãe e padrasto para tratar das sutis mudanças da menina, afirmaram os promotores. Porém, em um dia de julho de 2016, quando a jovem disse a seus pais que iria dormir no fim de semana na casa de uma amiga e retornar no domingo, eles não suspeitaram de nada, conforme afirmaram posteriormente. 

Naquele momento, segundo os investigadores acreditam, a jovem de 15 anos já havia decidido juntar-se ao Estado Islâmico (ISIS, na sigla em inglês). Eles disseram que, após conversar on-line com membros do grupo extremista, ela saiu da casa dos pais e viajou rumo ao território do ISIS, onde acredita-se que tenha permanecido por 12 meses. O caso incitou grandes críticas às autoridades alemãs com diversos questionamentos sobre a razão de a adolescente não ter sido impedida de viajar para fora do país apesar de mostrar possíveis sinais de radicalização. 

Arrependimento

Mais de um ano depois, sabe-se que Lisa W. foi detida por autoridades iraquianas, apesar das circunstâncias exatas da operação que levou à sua prisão ainda permanecerem incertas. Oficiais alemães conversaram com a jovem, agora com 16 anos, em uma base militar iraquiana onde médicos americanos a estão tratando por conta de alguns ferimentos, de acordo com a rede de televisão alemã ARD. 

Porém, a Alemanha ainda não oficializou um pedido de extradição, indicando que a jovem pode enfrentar acusações tanto no Iraque quanto em seu país de origem. Se sentenciada no Iraque, Lisa W. pode enfrentar a pena de morte, embora oficiais da inteligência alemã estejam em processo de discussão com seus correspondentes iraquianos para promover o retorno da jovem à Europa. 

Em conversa com a ARD, a moça de 16 anos disse que tinha esperanças de um retorno seguro à Alemanha e que ela se arrependia de sua decisão de juntar-se ao Estado Islâmico. “Eu quero ir para casa de volta à minha família”, ela afirmou. 

Recrutamento

Enquanto oficiais estão deliberando como levá-la de volta à Alemanha, especialistas em prevenção e pesquisadores se questionam, em primeiro lugar, sobre por que ela deixou a Europa. O caso de Lisa W. colocou novamente diante dos holofotes a capacidade do grupo extremista em atrair meninos e meninas para sua causa ao redor da Europa, mesmo que em geral o grupo de adultos recrutados tenha caído. 

Terroristas jovens e menores de idade têm se tornado uma preocupação na Alemanha, onde diversos grupos de menores foram desmantelados apenas no ano passado. Em fevereiro de 2016, uma jovem de 15 anos esfaqueou um policial em um ataque supostamente motivado pelo Estado Islâmico. Em julho do ano passado, um refugiado afegão de 17 anos atacou passageiros em um trem na Baviera após jurar lealdade ao grupo. Em dezembro, um menino de 12 anos com pais iraquianos foi pego planejando um ataque a bomba em uma feira de Natal alemã. 

“O Estado Islâmico tornou o recrutamento e a radicalização de jovens entre 17 e 23 anos em uma produção em massa pela simples razão de que é improvável que eles sejam espiões do governo”, disse Daniel Koehler, diretor do Instituto Alemão de Estudos em Radicalização e Desradicalização. 

O grupo extremista tem frequentemente utilizado vídeos, músicas e até mesmo jogos para recrutar jovens europeus na internet. Crianças, no entanto, são especialmente suscetíveis porque lhes falta experiência em saber separar a realidade da ficção e normalmente não são inclusas nos grupos-alvo das estratégicas de desradicalização promovidas por agências do governo e organizações não-governamentais. 

Por conta de sua estrutura federal, o que coloca os governos regionais no comando da polícia e assuntos de segurança local, a Alemanha tem estado ainda mais lenta do que outros países da Europa em formular tais estratégias. Em diversos estados, professores e familiares preocupados podiam entrar em contato com uma linha direta associada às autoridades locais a partir de julho passado. No entanto, não havia nenhum programa deste tipo no estado da Saxônia, onde fica Pulsnitz, cidade onde Lisa W. morava. 

Lá, um centro de contra-radicalização foi inaugurado pelas autoridades em março – quatro anos após o Estado Islâmico apoderar-se daquela que funciona como sua capital, a cidade síria de Raqqa, e muito tempo depois de Lisa W. e cerca de outros 900 alemães deixarem seus lares rumo ao território do grupo.

Tradução de Maíra Santos
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