É de cair o queixo a rapidez com que os países do Golfo Pérsico conseguem construir arranha-céus e estádios, transformando trechos de deserto em cidades hipertecnológicas praticamente da noite para o dia. A Arábia Saudita quer superar a todos. No livro dos sonhos do príncipe Mohammed bin Salman está um distrito industrial inteiro, Neom, que deve desafiar as leis do planejamento urbano e se transformar em uma incubadora de novas tecnologias na foz do Golfo de Aqaba (Mar Vermelho).
Dentro desse distrito, o projeto mais importante é a Linha (The Line, em inglês), uma cidade que parece ter saído da mente de um roteirista de ficção científica: um muro espelhado de 500 metros de altura, 170 quilômetros de comprimento e 200 metros de espessura. As pessoas não viverão “além”, mas “dentro” dessa muralha hipertecnológica, em uma cidade linear na qual só se poderá deslocar de elevador (para viagens verticais, de um andar a outro, de 0 a 500 metros) ou de metrô (para viagens horizontais, ao longo dos 170 km de muro), sem carros. Até 2030, o primeiro segmento de 2,4 km será inaugurado, precisamente para cumprir, ao menos simbolicamente, o objetivo Vision 2030 desejado pelo príncipe para a modernização de seu reino.
Mas a que preço? Pelos relatórios que antecederam a Copa do Mundo no Catar, sabemos o alto preço humano pago pelos trabalhadores na construção dos enormes estádios do emirado, quase todos imigrantes asiáticos empregados como mão-de-obra em condições de semiescravidão. Também a Linha está cobrando seu preço humano cada vez mais alto. Apenas para os trabalhos preparatórios, 6.000 habitantes da região foram deslocados (estimativas da associação de direitos humanos Alqst), membros da tribo huwaitat. Pelo menos três vilarejos foram arrasados, como pode ser visto nas fotos de satélite: Khuraybah, Sharma e Gayal foram literalmente destruídas. As tropas receberam permissão para atirar em quem resiste, de acordo com um corajoso testemunho dado à BBC por um coronel saudita exilado em Londres.
De acordo com o coronel exilado al Enezi, que pediu baixa para não cumprir as ordens em 2020, a instrução era peremptória: “qualquer um que continue a se opor à expropriação deve ser morto, portanto o uso de força letal é autorizado contra qualquer pessoa que decida permanecer em sua casa”. Pelo menos uma vítima dessa operação de limpeza e recolhimento tem um nome e foi confirmada por várias fontes: seu nome era Abdul Rahim al Huwaiti, ele se recusou a aceitar a comissão que avaliaria sua casa para fins de desapropriação. Ele havia postado vários vídeos em seus perfis sociais, denunciando a arbitrariedade das desapropriações. Por esse motivo, foi morto pelo exército no dia seguinte. Na mesma operação, 47 pessoas foram presas, das quais cinco poderiam ser condenadas à morte.
Embora não haja confirmação independente dessas notícias, esses métodos bruscos são coerentes com o que foi observado no passado, na política de modernização acelerada de Mohammed bin Salman. Mesmo o novo distrito tecnológico de Jeddah custou a demolição de 63 quarteirões, deixando cerca de 1 milhão de pessoas desabrigadas, com pouco aviso prévio (no máximo um mês) e indenização irrisória.
Tudo em nome do meio ambiente. Porque a Linha será a primeira cidade do mundo com “emissão zero”, com serviços essenciais sempre a cinco minutos de caminhada da casa de cada um de seus cidadãos e transporte (como vimos) totalmente elétrico. Pois esse é o futuro pós-petrolífero sonhado por bin Salman e seus emires emuladores. A que preço humano, porém, aparentemente não importa.
Stefano Magni, jornalista e ensaísta, é bacharel em Ciências Políticas, autor de “Contro gli statosauri, per il federalismo” e professor associado no curso de Geografia Econômica da faculdade de Jurisprudência da Università degli Studi di Milano.
©2024 La Nuova Bussola Quotidiana. Publicado com permissão. Original em italiano: “La Linea saudita: l'alto costo umano del sogno ecologista”.
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