Depois de sua carreira memorável na NBA e antes de sua morte trágica aos 41 anos, Kobe Bryant escreveu uma carta para si mesmo. Para si mesmo quando ele tinha 17 anos, para ser mais preciso.
A essa altura, Bryant já tinha acumulado cinco campeonatos da NBA e uma fortuna de US$680 milhões. Mas Bryant não tinha adquirido apenas bens materiais. O Mamba Negra também amealhara muita sabedoria, o que fica claro na carta, intitulada “Carta para mim mesmo quando jovem”.
Eis o que o ex-astro do Lakers escreveu:
Caro Kobe Bryant de 17 anos,
Quando seu sonho de virar jogador do Laker se realizar, amanhã, você precisará descobrir uma forma de investir no futuro da sua família e amigos. Parece algo simples e você talvez ache que isso é óbvio, mas reserve algum tempo para pensar melhor nisso.
Eu disse INVESTIR.
Eu não disse DAR.
Deixe-me explicar.
Meramente dar coisas materiais para seus irmãos e amigos parece ser a decisão mais acertada. Você os ama e eles sempre estiveram presentes, então o certo é que eles compartilhem de seu sucesso e de tudo o que o acompanha. Então compre um carro, uma casa, paguem as contas deles. Você quer que eles tenham uma vida confortável e bela, não é?
Mas chegará o dia em que você perceberá que, por mais que acredite estar fazendo a coisa certa, na verdade você os estará prejudicando. Você perceberá que está cuidando deles porque isso faz com que VOCÊ se sinta bem, com que VOCÊ fique feliz ao vê-los sorrindo e sem preocupações no mundo — e isso é extremamente egoísta de sua parte. Ainda que você fique satisfeito com si mesmo, aos poucos você acaba consumindo os sonhos e as ambições deles. Você acrescenta bens materiais às vidas deles, mas lhes tira as maiores dádivas de todas: a independência e a possibilidade de crescimento pessoal.
Entenda que você está prestes a se tornar o líder da família, o que envolve fazer escolhas difíceis, mesmo que seus irmãos e amigos não as compreendam de pronto.
Invista no futuro deles. Não apenas dê.
Use seu sucesso, riqueza e influência para colocá-los na melhor posição de reconhecerem seus sonhos e de encontrarem um objetivo real na vida. Matricule-os na escola, marque entrevistas de empregos para eles e os ajude a se tornarem líderes. Cobre deles o mesmo nível de esforço e dedicação necessários para que você chegasse aonde chegou agora e aonde um dia ainda vai chegar.
Estou escrevendo isso agora para que você possa dar início a esse processo imediatamente e para que você não tenha de lidar com a dor e a luta para tirá-los do vício que você lhes propiciou. Esse vício só leva à raiva, ressentimento e à inveja de todos os envolvidos, inclusive de você mesmo.
Com o passar do tempo, você os verá crescendo independentemente, tendo suas próprias ambições e vidas, e sua relação com todos será muito melhor.
Eu poderia lhe escrever muitas outras coisas, mas, aos 17 anos, sei que você não tem foco o bastante para ler 2.000 palavras.
Da próxima vez que lhe escrever, talvez eu fale sobre o problema de misturar família e negócios. O conselho mais importante que posso lhe dar é tomar cuidado para que seus pais continuem sendo PAIS, e não agentes.
Antes de assinar o primeiro contrato, estabeleça um orçamento para seus pais — um orçamento que vai permitir que eles tenham uma bela vida, com um negócio próspero e que você os coloque no caminho do sucesso de longo prazo. Assim, os filhos e netos dos seus filhos poderão investir no futuro deles quando for a hora.
Sua vida está prestes a mudar e as coisas estão prestes a lhe chegar muito rápido. Mas se permita refletir sobre isso quando estiver deitado à noite, depois de nove horas de treino.
Confie em mim: organizar as coisas desde o princípio evitará muitas lágrimas e dor de cabeça, algumas das quais continuam até hoje.
Com amor,
Kobe
Há muita coisa a analisar aqui, mas a mensagem principal é simples: dar coisas às pessoas talvez faça com que você se sinta bem, mas nem sempre as ajuda. Na verdade, disse Bryant, isso pode prejudicá-las.
Os problemas de Bryant com a famílias estão bem documentados. Em 2001, os pais dele, Joe e Pam Bryant, não foram ao casamento dele em Dana Point, na Califórnia. Suas irmãs Sharia e Shaya também não.
Ao longo dos anos, houve muitas rixas na família de Bryant, boa parte motivada por dinheiro. Houve até tentativas de leiloar itens pessoais de Bryant depois que o astro da NBA retirou a ajuda financeira aos parentes.
“Quando você DÁ e eles TIRAM, qual o limite?”, tuitou Kobe Bryant na época, usando as hashtags “magoado”, “sem aviso” e “amor?”
Muitas pessoas podem dizer que Bryant era responsável por cuidar dos seus familiares. Afinal de contas, ele era riquíssimo. Por que não lhes dar algo?
Economia e ação humana
Há quem diga que a melhor forma de entender a economia é por meio da ação humana, e a melhor forma de entender a ação humana é por meio do estudo dos incentivos.
Incentivos, para citar os autores do best-seller Freakonomics, são “as bases da vida contemporânea”. Eles moldam constantemente nossos pensamentos e comportamentos de um jeito tanto positivo quanto negativo.
A grandeza de Bryant foi uma história dos bons incentivos. Aquelas “nove horas de treinamento por dia” de que fala Bryant não aconteceram por acidente. Ele foi motivado por vários incentivos: riqueza, fama, campeonatos e a vontade de ser o melhor.
A carta de Bryant para si mesmo jovem era, em certo sentido, um alerta quanto à criação de maus incentivos.
No começo da carreira, Bryant começou a dar a seus familiares grandes somas de dinheiro. Ele foi abençoado com uma fortuna e se sentia bem em compartilhá-la com os entes queridos. Mas ele percebeu que isso estava gerando consequências desagradáveis. Ele percebeu que, para alguns familiares, a generosidade estava “tolhendo seus sonhos e ambições”. O dinheiro se tornara “um vício” para eles. Bryant parecia acreditar que, dando conforto à sua família, na verdade ele estava inibindo o crescimento dela.
Generosidade sábia
Escrevendo para sua versão mais jovem, Bryant disse que faria várias coisas de outra forma. Ele não tiraria o dinheiro da família, mas lhes daria dinheiro de uma forma mais direcionada, mais sábia. Os seres humanos são chamados a crescer e criar, não apenas a consumir. Não que Bryant não tivesse dinheiro o bastante para dar; ele tinha. Mas ele passou a acreditar que seu dinheiro estava causando um efeito corrosivo, e não um saudável.
Há um limite tênue entre dar aos necessitados ou aqueles que você ama e deixar os outros confortáveis demais com essa situação. Eis um dos motivos para os Pais Fundadores dos Estados Unidos se revelarem céticos quanto ao assistencialismo governamental aos pobres.
“Acho que a melhor forma de fazer o bem aos pobres e não deixá-los à vontade com a pobreza” disse Ben Franklin, “e sim tirá-los ou guiá-los para longe dela”.
Os que têm muito são chamados a serem generosos, mas precisamos também ser sábios se não quisermos tirar das pessoas a dignidade do trabalho e do amadurecimento humano.
Kobe Bryant entendeu isso melhor do que muita gente.
Jonathan Miltimore é editor do FEE.org.
© 2020 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês
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