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A disseminação da Covid-19 ao redor do mundo levou a medidas extraordinárias, ainda que muitas vezes não testadas, por parte de indivíduos e instituições a fim de limitar as infecções. Escolas, restaurantes, locais de entretenimento e muitos outros negócios foram obrigados a fechar sob a convincente teoria de que as doenças infecciosas se espalham mais rapidamente quando as pessoas se reúnem. O fim do terceiro ano da pandemia se aproxima, e a China continua exigindo que milhões de pessoas fiquem em casa.
Com mais de dois anos de dados agora disponíveis, é evidente que mesmo os críticos dos lockdowns – que isolaram grandes grupos de pessoas com mais de 99% de probabilidade de não serem infectados – subestimaram os custos e superestimaram os benefícios da medida.
O suposto benefício é retardar a propagação até que vacinas e tratamentos estejam disponíveis para reduzir a mortalidade pela doença. Em muitos casos, os lockdowns aceleraram a disseminação em vez de reduzi-la, porque a demanda e a oferta de prevenção são maiores quando as pessoas trabalham juntas em grandes grupos do que quando estão isoladas em grupos pequenos. Entre todos os lugares, a China é que deveria estar mais ciente de como as pessoas podem ser improdutivas quando o Estado exige que produzam em pequenos grupos. O chamado Grande Salto Adiante do líder Mao exigia que os aldeões produzissem aço em seus quintais, resultando em muito desperdício e pouco aço utilizável, porque a produção só é viável em usinas muito maiores. Vimos nos EUA que grandes grupos podem ser bastante eficazes para retardar a propagação, com professores, alunos, médicos, enfermeiras e outros sendo acometidos (de hora em hora) por mais infecções de Covid-19 em casa do que no trabalho ou na escola.
As restrições de viagem às vezes funcionaram. O Havaí atrasou as mortes por Covid-19 até que as vacinas estivessem disponíveis, reduzindo assim o total de mortes no longo prazo em cerca de 2 mil. Mas a economia do Havaí sofreu. Estimo que cada uma das 2 mil vidas salvas custou de 8 a 11 milhões de dólares, o que é alto, mas não muito diferente dos tipos de compensações que muitos cidadãos comuns fazem em suas próprias vidas.
A China não deve esperar os mesmos resultados porque, sem as vantagens geográficas do Havaí, isolar suas cidades custa muito mais. Além disso, com vacinas e tratamentos já disponíveis, as intervenções não farmacêuticas atrasarão amplamente as mortes por Covid-19, em vez de reduzi-las ou evitá-las. Mais uma vez, os EUA oferecem lições: os estados governados por democratas, que aplicaram políticas rigorosas contra o vírus, encolheram suas economias e impuseram custos duradouros às crianças sem nenhum benefício perceptível à saúde.
Embora concebidas e promovidas por autoridades de saúde pública, as políticas pandêmicas também prejudicaram a saúde. As mortes por drogas e álcool já eram altas antes da pandemia, mas as autoridades de saúde falharam em monitorar se suas políticas durante a pandemia as estavam aumentando. O resultado nos EUA foi um aumento na mortalidade por álcool e drogas de 20% a 30% acima do esperado.
Em um artigo a ser publicado, Rob Arnott e eu analisamos todas as causas de morte e as comparamos com as taxas de mortalidade anteriores à pandemia. De abril de 2020 até o final de 2021, os americanos morreram de causas não relacionadas à Covid-19 a uma taxa média anual de 97 mil acima das tendências anteriores. A análise preliminar sugere que o excesso de mortalidade continua em 2022 a uma taxa igualmente alta. Como magnitudes para comparação, observamos que, se estipularmos um valor médio de 10 milhões de dólares para cada vida, o excesso de mortes não relacionadas à Covid-19 nos EUA até o final de 2021 custou mais de um trilhão de dólares. Além desses custos de mortalidade, existem muitos outros custos econômicos e de saúde, totalizando trilhões de dólares apenas nos EUA.
Com tantos custos e tão poucos benefícios, não é de admirar que os cidadãos chineses estejam arriscando a vida e a liberdade para protestar contra as atuais políticas de pandemia de seu país.
Casey B. Mulligan é professor de Economia da Universidade de Chicago e membro do Conselho de Assuntos Econômicos da Casa Branca entre 2018 e 2019.
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©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.