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Psicologia

As opiniões políticas não precisam triunfar sobre as relações pessoais

Corrigir as pessoas próximas nas redes sociais pode ser prejudicial para as relações. Afinal, que importância tem o que seu vizinho pensa sobre imigração?
Corrigir as pessoas próximas nas redes sociais pode ser prejudicial para as relações. Afinal, que importância tem o que seu vizinho pensa sobre imigração? (Foto: Pixabay)

Algumas pessoas estão falando bobagem na Internet, neste exato momento. Alguns estão falando bobagem nas redes sociais e há uma boa chance de você ser amigo de ao menos uma dessas pessoas. As pessoas entendem errado as coisas o tempo todo.

O fato de as pessoas errarem abre várias oportunidades de escolha. Você pode intervir ou não. Se você intervier, pode ou não discordar. Se discordar, pode argumentar e correr o risco de arruinar a relação – ou não.

Talvez você não conheça a pessoa que está falando bobagem. Talvez haja uma relação prestes a acontecer e, ainda que talvez ela não seja nada, talvez ela se torne uma relação cheia de realizações. Talvez você ganhe um conhecido, um amigo e até um cônjuge. Mais uma vez, você tem diante de si várias escolhas.

No clima belicoso de hoje, uma opção não muito mencionada é falar com alguém que está falando bobagem, mas sem discordar dessa pessoa. Pode parecer estranho e até impossível fazer isso, sobretudo se você considera o que ela está dizendo ofensivo ou repugnante. Como fazer isso? Você pode deixar que a outra pessoa fale bobagens.

Um dos aspectos mais malignos da nossa cultura é o fato de considerarmos uma virtude o ato de corrigir ou advertir as outras pessoas por opiniões com as quais discordamos. Mas essa em geral é a pior atitude, sobretudo se você pretende fazer com que a outra pessoa mude de ideia e criar uma amizade.

Se você deixar que as pessoas falem bobagem, isso pode dar início a uma revolução nas suas relações. Poucas pessoas gostam de ser corrigidas e, na maior parte dos assuntos – como a opinião do seu vizinho sobre a política de imigração ou os moradores de rua, por exemplo – suas opiniões profundamente incorretas são, no fundo, irrelevantes para a relação entre vocês. Você mantém relações no trabalho, em casa, com seus vizinhos e na sua comunidade, nas lojas que você frequenta, com seus amigos, em todos os lugares. Poucas dessas relações têm a ver com política e nenhuma delas precisa ser prejudicada só porque tem um problema com as opiniões dos outros a ponto de não poder ignorar o fato de você discordar delas.

Depois que você deixa que os outros digam bobagem, você perceberá várias formas de se relacionar com pessoas que mantém crenças falsas, por mais ofensivas que você as considere. Você pode demonstrar curiosidade por aquilo no que as acreditam, o que pode fazê-lo questionar as opiniões delas, ouvir suas respostas e entender melhor os pontos de vista. Isso permitirá que você aprenda com a pessoa com a qual você está discutindo, o que geralmente é recíproco e as faz ouvirem e aprenderem com você. Você estabelecerá uma ligação e desenvolverá relações novas e mais profundas. Você acabará por entender pessoas com as quais discorda e elas o entenderão melhor — e elas querem isso. Se você realmente defende valores diferentes dos do seu parceiro de conversa, vocês serão capazes de compreender as motivações de cada um com o coração aberto, como opiniões divergentes de pessoas de bom coração. Barreiras e diferenças serão derrubadas, ainda que as discordâncias possam persistir.

A psicologia humana é tal que uma das formas mais eficientes de fazer com que o outro mude de opinião, se este é seu objetivo, é por meio da confiança e do respeito. Permitir que os amigos tenham opiniões e acreditem em coisas que você considera mentira, e permitir que eles saibam que vocês ainda são amigos, é algo que pode promover justamente essas virtudes comuns. As pesquisas mostram que uma sensação de segurança psicológico, que nasce quando se respeita o bastante as pessoas para permitir que as discordâncias sejam coadjuvantes na relação, é fundamental para se influenciar os outros.

Talvez nosso objetivo não seja mudar a opinião de ninguém. E não precisa ser mesmo. Nossa vida melhora quando aumentamos a quantidade de relações positivas e saudáveis que temos. Permitir que os amigos se enganem é um antídoto à solidão, uma oportunidade de tirar proveito da diversidade de pensamento e uma forma de aprofundar e reforçar nossas amizades. Segui tem frente, em muitos casos, é simplesmente deixar as pessoas falarem bobagem.

Peter Boghossian é professor do departamento de filosofia da Portland State University. James Lindsay é escritor e pesquisador.

© 2019 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês

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