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Policiais mudam de lugar as flores colocadas na Praça Santa Ana, em homenagem às vítimas do atentado desta segunda-feira (22) | BEN STANSALL/AFP
Policiais mudam de lugar as flores colocadas na Praça Santa Ana, em homenagem às vítimas do atentado desta segunda-feira (22)| Foto: BEN STANSALL/AFP

Uma das consequências mais estranhas do terrorismo no início do século XXI é que induz à nostalgia de um certo tipo anterior de terrorismo. A substituição da ideologia política pelo fanatismo religioso corroeu os constrangimentos autoimpostos que limitavam a violência terrorista no passado.

Nos anos 1970 e 1980, as faccões terroristas emitiam comunicados explicando suas agendas políticas; suas demandas eram claras e seus alvos eram específicos e compreensíveis. Nestes tempos, os grupos terroristas — como a Fração do Exército Vermelho na Alemanha e as Brigadas Vermelhas na Itália — se engajavam em atos de violência altamente seletivos. Por mais radicais ou revolucionários que fossem estes grupos em suas ideologias, a maioria era conservadora nas operações, usando um repertório de táticas muito limitado contra um estreito conjunto de alvos.

Naquela época, o terrorismo queria — para usar o muito citado comentário de Brian Jenkins, da RAND Corporation — “muitas pessoas assistindo, muitas pessoas ouvindo e não muitas pessoas mortas”. Agora, como vimos em Manchester na noite passada, as coisas são diferentes.

Terror indiscriminado

Embora a identidade e os motivos do homem-bomba neste caso ainda não tenham sido revelados, o que temos agora são indivíduos fanáticos (os chamados lobos solitários) e uma série de redes internacionais bastante separadas que, soltas, se reforçam mutuamente. Os seus seguidores combinam crenças medievais religiosas com armamentos modernos e um nível de fanatismo que se expressa, primariamente, em bombardeios suicidas e uma vontade de usar a violência indiscriminada em larga escala.

Não seria inapropriado sugerir que os terroristas islâmicos inspirariam menos apreensão pública se eles restringissem seus planos assassinos contra políticos, diplomatas, policiais, juízes e soldados. Era assim que agiam as organizações ideológicas e etnonacionalistas mais “tradicionais”, que dominavam a cena terrorista entre os anos 1960 e 1990.

A ameaça do terror indiscriminado, mesmo que nossa Inteligência e polícia melhorem muito seu trabalho, permanecerá conosco por algum tempo. Isso torna ainda mais importante lidar com as causas deste tipo de terrorismo, em vez de apenas tentarmos nos defender contra ele.

Desde o 11 de Setembro, as polícias do Ocidente focaram seu trabalho em capturar ou matar jihadistas, ao invés de tentar solucionar o que os motiva e o porquê de algumas comunidades os apoiarem, apesar dos seus chocantes atos de terror.

Extremistas políticos tendem a imitar uns aos outros. Após os ataques contra Paris e Berlim, a questão para o Reino Unido se tornou mais um “quando” do que um “se” haveria um tipo semelhante de ataque destrutivo e indiscriminado.

Um ataque terrorista como este é o mais difícil de interromper, e mais ainda de prevenir. Mas é importante lembrar todos aqueles ataques que nunca se materializaram por causa da vigilância e das estratégias de prevenção das forças britânicas de combate ao terrorismo. O ataque terrorista de ontem a Manchester traumatizou a todos nós que vivemos no Reino Unido, mas nós não devemos permitir que isso nos envenene e nos divida.

*Professor especializado em estudos de segurança na Universidade de Wolverhampton, no Reino Unido

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