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Entrevista

Ativista trans se manifesta contra as políticas de gênero de Joe Biden

O ativista trans Scott Newgent fala do perigo que é normalizar a cirurgia de mudança de sexo. (Foto: Reprodução/ Twitter)

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Scott Newgent é um transgênero de 47 anos que vive no Texas. Ele é fundador da TReVoices, grupo de ativistas trans que se opõem ao ativismo transgênero radical e buscam falar a políticos e famílias sobre a realidade da disforia de gênero. Aqui, ele é entrevistado por Madeleine Kearns e fala sobre as medidas de Joe Biden para os transgêneros.

Madeleine Kearns: Oi, Scott. Obrigada por conversar comigo hoje. Nós já estamos em contato há algum tempo e parece que não sou a única repórter interessada em sua opinião e atitudes para esclarecer o público sobre o perigo do extremismo transgênero. J. K. Rowling o descreve como “herói”. O comediante Graeme Linehan disse reconhecê-lo como “alma irmã”. E acredito que você está num excelente livro que nós, que estamos preocupados com a ideologia de gênero, estamos lendo.

Para os que não o conhecem, vou explicar como você se envolveu no debate sobre os trans. Você nasceu mulher e fez cirurgia de mudança de sexo há seis anos, com 41 anos de idade. Para constar, citarei uma lista de algumas das consequências da transição “como é chamada”, da forma como você mesmo a descreveu (e deu provas na forma de prontuários médicos, imagens e outros documentos).

  •  Sete cirurgias
  • Uma embolia pulmonar
  • Um ataque cardíaco por estresse
  • Septicemia
  • Uma infecção que se prolongou por 17 meses
  • 16 rodadas de antibióticos
  • 3 semanas recebendo antibiótico intravenoso
  • Perda total de cabelo
  • Perda de função de um dos braços
  • Cirurgia de reconstrução de um dos braços
  • Danos permanentes aos pulmões e coração
  • Danos à bexiga
  • Insônia
  • Alucinações
  • Crescimento de pelos dentro da uretra
  • Síndrome de estresse pós-traumático
  • US$1 milhã em custos médicos
  • Casa, carro, emprego e carreira perdidos
  • Casamento desfeito
  • Temporariamente incapaz de ver os filhos
  • Até aqui, incapaz de processar o cirurgião responsável, em parte porque não há padrões para o cuidado com os pacientes transgêneros.

Esse é um bom resumo?

Scott Newgent: Sim. E vários desmaios causados pela dor.

MK: Acho que uma das primeiras perguntas que vêm à mente do leitor ao se deparar com essa lista é: por que você se submeteu a isso tudo? O que você esperava da transição? Você entendia os riscos ao começar o processo?

SN: Barbara Kay, uma escritora canadense que virou amiga, me fez a mesma pergunta recentemente. Ela disso: “você já parou para pensar no porquê disso tudo?” E escrevi a resposta na forma de um capítulo das minhas memórias. Ela respondeu dizendo: “Tem que haver um motivo maior do que esse”. E daí comecei a reescrever. E quase tive um colapso. Percebi que havia muitos outros motivos para o que fiz.

Venho de uma família dominada por homens e que gerou vários atletas. Muito novo, percebi que aquela personalidade dominada por homens causou problemas na minha infância. Tipo, “Kellie, você precisa fazer isso, dessa forma”.  E comecei a pensar, depois de conversar com a Barbara, que teria sido mais fácil para mim nascer homem. Comecei a analisar as estruturas da minha vida e as minhas dificuldades e percebi que, se eu tivesse absorvido outros cromossomos na barriga da minha mãe, eu seria o homem típico.

Minha esposa, da qual me separei, era uma católica devota. Digo, quase a ponto de eu considerar a religiosidade dela uma doença mental. E ela não suportava a ideia de ser lésbica. Ela dizia que eu parecia homem. E eu tinha chegado a um ponto em minha vida em que estava cansada de ser lésbica. Pensei sobre minha infância e comecei a achar que talvez ela tivesse razão. E comecei a pesquisar toda essa coisa de transgênero. Achei que talvez houvesse algo de errado comigo. Talvez eu tivesse nascido no corpo errado.

MK: Então deixe-me perguntar uma coisa. Ao passar por essas cirurgias e fazer a transição, você teve a impressão de que realmente mudaria de sexo?

SN: Sim, eles realmente lhe dizem isso.

MK: Certo. Vamos passar do pessoal para o político. O presidente Biden prometeu aprovar a Lei de Igualdade que pretende redefinir o sexo e incluir a identidade de gênero na lei federal antidiscriminação. Você passou pela transição. O sexo e a “identidade de gênero” são a mesma coisa...

SN: Maddy, você sabe que não tenho ideia do que as pessoas consideram sexo e gênero. Vou dizer o que penso a respeito. Não entendo toda essa bobagem. Não sei o que isso significa. Então será que você pode me perguntar algo em inglês?

MK: Pergunto isso porque a política pretende redefinir o sexo da forma como ele lhe foi apresentado pelos cirurgiões — como “identidade de gênero” —, como se isso fosse a cura para todos os seus problemas. É este o raciocínio que está se consagrando em lei. Você acha que isso ajudará as pessoas?

SN: Não, não vai ajudar. É o seguinte. Você não pode mudar de gênero. Você é quem é biologicamente. Se eu morrer e você me enterrar e tirar meus ossos da cova daqui a cem anos, eles dirão: “Era uma mulher”. Isso não muda. O que você pode fazer é tornar a pessoa diferente. Chamo isso de “híbrido”, o que você cria ao pegar mulheres, tirar o estrogênio e aplicar testosterona. E isso gera uma coisa totalmente diferente. Eu penso e parece diferente, mas isso é também diferente de ser homem. Criei algo único. E o que não entendo na comunidade trans é porque ela não aceita essa realidade.

MK: Uma das coisas que a Lei de Igualdade pretende, semelhante ao que os decretos sobre “identidade de gênero” recém-assinados, é obrigar espaços, equipes esportivas e abrigos femininos a incluírem pessoas que são biologicamente homens. Sei que você nutre simpatia pelas pessoas que sofrem para aceitar seu sexo biológico. Levando em conta isso, você acha que essas medidas são úteis e justas?

SN: Elas não vão ajudar em nada. Nem são justas, porque o que você está fazendo é basicamente permitir homens em espaços femininos. Não há base para “ei, sabe de uma coisa? Essa pessoa toma estrogênio há 20 anos. Essa pessoa toma estrogênio há 10. Temos um estudo aqui que diz que é neste ponto que o corpo usa toda a força do ponto de vista masculino”.

O que estamos fazendo na sociedade é permitir que um pensamento, uma sensação, uma ilusão dite a legislação. Não estamos voltando à realidade. Não estamos realizando estudos porque, quando fazemos isso, os estudos vão contra o que os ativistas trans dizem. É o mesmo que dizer “Ei, sabe de uma coisa, mulheres? Vocês lutaram todos esses anos por direitos e vamos dá-los aos homens também”.

É absolutamente errado. E isso está fazendo surgir na sociedade – o que é hilário – pessoas que nunca passaram pela transição, que nunca acompanharam a transição de ninguém, e que querem embarcar no trem dos direitos LGBTQ e me dizer o que é e o que não é o movimento trans. E eles parecem acreditar nessa histeria de que é possível trocar de gênero, e que isso não é um grande problema. Ah, e se você não gostar pode voltar atrás, que é outra fantasia que inventaram. A transição é um procedimento médico complexo e não resolve nada. Isso é o que as pessoas não entendem. A transição não resolve os transtornos mentais. Não cura a ansiedade. Na verdade, ela piora.

MK: Há outra política trans que está em alta no momento. A administração Trump determinou que você pode se identificar como trans nas Forças Armadas, desde que você permaneça com seu sexo biológico, e que você não pode se submeter ao tratamento para disforia de gênero nem exigir “acomodações especiais”. O que você pensa da decisão de Biden de revogar isso?

SN: E ter transgêneros nas Forças Armadas?

MK: Sim, pessoas com disforia de gênero.

SN: E disforia de gênero é basicamente sentir que você nasceu no corpo errado e que você é do sexo oposto?

MK: A Sociedade Norte-americana de Psiquiatria define a disforia de gênero como sentimentos clinicamente significativos dessa natureza, do tipo que exige tratamento contínuo.

SN: Sei a resposta para isso, mas estou perguntando se disforia de gênero é acreditar que você é do sexo oposto ou não ou acreditar que é do sexo oposto e que nasceu no corpo errado? O que é disforia de gênero?

MK: Disforia de gênero é definida clinicamente como uma sensação de incongruência entre sua identidade de gênero e seu sexo – o que é algo circular para mim, porque a questão básica ainda permanece: o que é identidade de gênero? Estudo a identidade de gênero há anos e o mais perto que cheguei de defini-la é por meio dessa associação misteriosa, inegável e potencialmente conclusão com o sexo.

SN: Certo. Então eis o que o Departamento de Defesa de Trump fez. Eles olharam para a “disforia de gênero”. Olharam para as Forças Armadas. Tentaram encontrar estudos. Tentaram descobrir o que fazer com as pessoas com disforia de gênero, o que fazer com os trans. E descobriram o que todos já tinham descoberto, que se restringe a “eu sinto isso, eu me sentia assim”.

Então o que ele fez foi eliminar as pessoas das Forças Armadas, e por um bom motivo. Até que a sociedade consiga definir o que é o transgenderismo, precisamos dar um passo atrás e dizer: “Sabe, vamos deixar que os estudos apareçam. Vamos nos afastar dos esportes. Vamos nos afastar das Forças Armadas. Vamos deixar as outras pessoas à vontade porque somos uma porção minúscula da sociedade”. Uma vez que surjam estudos que definam o que somos ou não, como podemos fazer a transição e daí descobriremos como agir em sociedade.

Biden está simplesmente cedendo aos ativistas trans que dizem que mulheres trans são mulheres. Mas não são. A realidade é que as mulheres trans são homens que tomam estrogênio. Isso é bem diferente. Não é preconceito, é a realidade. Isso se chama proteger as mulheres. Então concordo com Trump nisso 100%, 150% enquanto pessoa trans.

MK: Ao longo da campanha presidencial de 2020, vários candidatos democratas expressaram o desejo de ajudar e facilitar a transição de crianças. O que você acha isso?

SN: Isso é difícil para mim porque passei pela transição. Lido com pessoas que passaram por ela. Conheci algumas crianças que se tornaram adultos e se mataram, percebendo que só depois da transição estavam no corpo errado. Tenho três filhos em idade na qual é legal e possível fazer a transição nos Estados Unidos.

Se eu pudesse dar uma chacoalhada em Biden... Ele é um idiota de permitir que as crianças passem por isso. Um idiota. A transição é uma cirurgia plástica. Ela cria uma ilusão. Se você acredita nela pensando que ela muda tudo, você acaba no estudo de longo prazo que nos diz que a maior probabilidade de suicídio é dez anos depois da transição. Por quê? Porque você tem de encarar a realidade em algum momento. Então estamos pegando crianças que sofrem de um transtorno mental, que sofrem de disforia, que não se encaixam, e as estamos colocando num grupo de pessoas que são consideradas super-heróis para que elas se submetam à transição.

E essas crianças crescerão e chegarão aos 25 anos. E elas dirão “Ei, mãe e pai, não posso ter filhos. 90% da população jamais namoraria comigo. Tenho osteoporose precoce. Meu coração é do tamanho do coração de uma criança de 12 anos porque interrompi minha puberdade. Tenho ansiedade. Tenho tudo isso e, quer saber de uma coisa? Agora estou no corpo errado. Agora vou cometer suicídio”. Temos um presidente que defende isso porque é idiota e incapaz de dizer “Quer saber? Talvez vocês devessem estudar melhor isso”.

Você pode não gostar do Trump, mas ele fazia as coisas mais difíceis. Biden não. Tem uma parte do partido dele que apoia os trans e ele não tem a menor ideia do que seja isso. E isso me incomoda. As coisa das crianças me incomoda.

MK: Um dos motivos para o debate ser tão obscuro é a falsa divisão entre direita e esquerda que parece se aplicar a todos os assuntos. No Reino Unido, Keira Bell, uma jovem que começou o processo irreversível de tratamento semelhante ao seu antes dos 16 anos, recentemente ganhou um caso na Suprema Corte do Reino Unido, que determinou que o Serviço Nacional de Saúde interrompesse todos os tratamentos antes dos 16 anos. Você gostaria de ver decisões assim nos Estados Unidos?

SN: Sim, conheço bem o caso. Antes de mais nada, a Keira é uma pessoa muito forte, que salvou muitas vidas. Agradeço muito a ela. Mas o que aconteceu no Reino Unido é algo que não acontece nos Estados Unidos. As pessoas defenderam essa causa com união. Havia mulheres, homens, pessoas de partidos diferentes e um juiz.

E essa decisão foi tomada, por sinal, porque o juiz disse “Ei, não vamos ficar falando de como me sinto ou me sentia. Vamos falar de fatos”. Assim, sempre que a Mermaids [ONG britânica que defende a mudança de sexo para crianças] e os ativistas gritavam “Mas as pessoas vão se matar!”, o juiz perguntava: “Onde está a pesquisa sobre isso?”. Se eles diziam “Bloqueadores de puberdade são seguros”, o juiz perguntava “Onde está a pesquisa sobre isso?” E se eles diziam “Ajuda a resolver transtornos mentais. Aqui está o estudo”, o juiz dizia “Aquele que foi corrigido? Vocês têm uma pesquisa que não tenha sido corrigida e que diz que a transição ajuda mesmo nos transtornos mentais? Não? Então a gente não vai fazer isso”.

Então tudo se resume ao fato de não entendermos direito o que acontece às pessoas que se submetem à transição. O que temos é uma lista de problemas, de transtornos mentais, disso e daquilo, e sabe de uma coisa? Não é uma boa ideia. Não tem nada a ver com o posicionamento político. O que mais me incomoda é que hoje temos cinco projetos de lei que tentam impedir a transição nos Estados Unidos, todos apoiados por republicanos conservadores e evangélicos. Todas as pessoas que apoiam essas medidas são cristãs.

Já conversei com muita gente sobre isso. Eles tentam transformar isso numa questão religiosa. Tipo, “Estou representando a cristandade, estou representando o movimento evangélico”, coisa assim. E eu digo: “Que tal representar as crianças para mantê-las seguras?” Aqui temos um trans. Aqui, um gay. Aqui, um evangélico. Aqui, um republicano. Aqui um democrata. Temos pessoas de todos os tipos. Certo. Então você não pode nos chamar de preconceituosos. Porque chamamos pessoas de todos os tipos. Estamos todos aqui. Agora vamos falar dos fatos. Como eles fizeram no Reino Unido.

Mas ninguém está fazendo isso. Os políticos propõem essas leis que sabem que não serão aprovadas. Eles sabem. Um senador, não vou dizer o nome, desligou na minha cara porque eu disse “Vamos ter depoimentos?”

Mas então por que propor o projeto? O que você pretende? Seu nome no jornal? É por isso? Porque, vou lhe dizer, converso com cerca de 20 crianças que querem se matar e você ri da minha proposta de uma sessão de depoimentos porque tudo o que você quer é que os outros evangélicos digam “Ah, que pessoa boa! Que bom cristão”. E quanto às crianças?

MK: Última pergunta. A maioria das pessoas entende, depois da lista que mencionei no começo, que você passou por dificuldades. E elas não querem dificultar ainda mais as coisas para você. Menciono isso porque, ainda que haja muitos ativistas com os quais é impossível conversar, há pessoas bem intencionadas que só querem ajudar as minorias e que talvez estejam perdidas. Que leis ou medidas sociais ajudariam pessoas numa situação parecida com a sua?

SN: Quero dizer, antes de tudo, que a disforia de gênero é um transtorno mental. Não há como a transição ajudar alguém com disforia de gênero. A disforia de gênero é um problema de dentro para fora. Você tem que se resolver por dentro antes. Não por fora. Dito isso, desde o princípio dos tempos nós mudamos nossa aparência. Usamos batom há quantos anos? Usámos máscara facial há quantos anos? Todos tentamos melhorar nossa aparência. Por isso, precisamos analisar os trans com cuidado. As pessoas trans não se sentem à vontade com sua aparência, por isso tomam hormônios sintéticos para criar a ilusão de que são do sexo oposto. Jamais será uma mudança biológica.

É uma ilusão. Dizer isso não é discurso de ódio; é a realidade. Eu a vivi. Conversei com centenas de pessoas que a viveram. Uma parcela reduzida dos trans é que estão gritando. Infelizmente, pessoas que não querem confusão não se expressam. Elas não precisam nem querem.

A maioria das mulheres que põe silicone não saem pela rua dizendo “Nasci com seios pequenos. Viu como ficou maravilhoso?” Não. Você implantou silicone. Os seios não são seus. Não corra pela rua chamando a atenção para eles, isso é loucura. Se você quer se submeter a uma cirurgia plástica, ótimo. Se quer ter a ilusão de viver no sexo oposto, ótimo – faça-o como adulto, peça regulamentações e padrões médicos de cuidado. Não deixe ninguém se intrometer. Mas não diga “Ah, quer saber de uma coisa? 99,99% da sociedade vai se acovardar diante do 0,01% que tem um transtorno mental e que tenta curá-lo da forma errada”. Isso é estupidez. É política. Biden não está ajudando ninguém.

Madeleine Kearns é redatora na National Review.

© 2021 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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