Um dia depois da eleição que inseriu o presidente Xi Jinping no dogma do Partido Comunista da China, uma das universidades de elite do país abriu um centro de pesquisa dedicado à ideologia e aos pensamentos do líder. Nos dias seguintes, outras 40 universidades seguiram o exemplo, dando um jeito de criar seus próprios centros de pesquisa sobre "O Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas em uma Nova Era".
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Esse é o exemplo mais recente da diminuição do espaço para o pensamento independente na China moderna e do controle ideológico, mais forte do que nunca, imposto pelo presidente Xi, de acordo com especialistas do país e internacionais. Além disso, a diminuição do espaço para um debate construtivo cria um conflito com a ambição chinesa de se tornar uma potência acadêmica global.
"Isso me parece um grande revés para as universidades chinesas", disse Edward Vickers, um especialista em educação chinesa da Universidade Kyushu, no Japão.
“Fraqueza ideológica”
Em um discurso em dezembro do ano passado, Xi declarou que as universidades deveriam ser fortalezas do partido e que professores deveriam disseminar a "ideologia avançada" e defender firmemente as leis do Partido Comunista.
Seis meses depois, a fiscalização anticorrupção do partido concluiu uma auditoria nas universidades de elite do país e acusou 14 delas de fraqueza ideológica por não se esforçarem o suficiente para ensinar e defender as leis do Partido Comunista.
Parece que o setor de educação superior aprendeu sua lição.
A primeira a anunciar um centro de pesquisa dedicado ao Pensamento de Xi Jinping foi a Universidade Renmin da China, em Beijing, uma das instituições de ensino superior mais respeitadas da nação e parceira de mais de 200 universidades ao redor do mundo.
O centro foi inaugurado no dia 25 de outubro, apenas um dia depois dos delegados do Partido Comunista terem votado com unanimidade pela inclusão da expressão "O Pensamento de Xi Jinping" no vocabulário constitucional do regime, ao lado de Pensamento de Mao Zedong (também conhecido como Maoísmo) e Teoria de Deng Xiaoping (ou Teoria dos Três Mundos).
"Do ponto de vista do desenvolvimento do nosso país, o estabelecimento do centro de pesquisa tem uma importância história significativa", afirmou Liu Wei, presidente da universidade e diretor do novo centro, para a mídia chinesa.
"É uma grande responsabilidade dada para as escolas do nosso tempo".
Ainda que o partido valorize o estudo de qualidade, o objetivo desses centros é, segundo alguns críticos, dar valor acadêmico para o partido e aumentar sua legitimidade.
Mudança no clima politico
Mas os grandes acadêmicos da nação podem não levar esses centros tão a sério: a Universidade de Pequim tem um centro dedicado à Teoria de Deng Xiaoping que é inegavelmente periférico ao grande trabalho acadêmico produzido pela instituição.
Ainda assim, a fundação de tantos centros em um período tão curto de tempo pode simbolizar uma mudança considerável no clima político no qual professores e alunos estão inseridos.
"Ainda que Xi seja realmente popular com muitos chineses, tentativas de impor esse tipo de controle ideológico nas universidades não devem criar relações harmoniosas entre a academia e a liderança do partido", afirma Vickers.
"Muitos professores, especialmente em disciplinas de humanidades e ciências sociais, acham que essa atmosfera mais estrita ideologicamente é desmoralizante. Mas é pouco provável que isso provoque uma grande resistência".
Menos recursos para pesquisas
Esses centros devem também tirar recursos de outros projetos de pesquisa, alerta Wu Qiang, um professor aposentado de política da Universidade Tsinghua, também em Beijing. "Nos últimos cinco anos as universidades se transformaram em máquinas que servem diretamente às necessidades da ideologia e da liderança do partido".
Um homem que vivenciou diretamente esse controle crescente é Qiao Mu, ex-professor de jornalismo que foi rebaixado das universidades de estudos internacionais de Beijing por ter uma visão mais crítica. Em setembro, Mu pediu demissão e deixou a China para viver nos EUA. Para ele, esses centros são "míopes" e um "sinal da degeneração" das universidades chinesas.
"De um lado, as universidades querem usar esses centros para garantir fundos e privilégios. Por outro lado, elas querem mostrar sua lealdade política", ele explica. "Isso é contrário aos princípios da educação superior, que é promover o espírito da independência e da liberdade de pensamento".
Panteão comunista
A inserção do nome de Xi na Constituição o eleva ao mesmo nível de Mao e Deng no Panteão do Partido Comunista. Seu "pensamento" se tornará agora parte da ementa das aulas obrigatórias de ideologia para estudantes chineses da escola primária à universidade.
Qualquer discordância às crenças dele serão vistas como um ataque ao partido e, portanto, como uma tentativa de afetar a segurança nacional. Para muitos especialistas, esse é um caminho perigoso.
A tentativa de Mao de alavancar o crescimento industrial se transformou em uma grande escassez de alimentos que matou dezenas de milhões de pessoas no começo da década de 60. O partido disse ter aprendido as lições daquele período. Mas os críticos afirmam que o desenvolvimento recente é um sintoma que o partido está mais inclinado a ensinar do que aprender.
"Resta pouca dúvida que o espaço para debate crítico sobre a política pública está sendo esmagado", afirma Vickers. "O partido não está ouvindo – e investe no controle da mensagem em vários níveis".
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