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A deputada federal Tabata Amaral
A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP): Harvard e Ruanda| Foto: EVARISTO SA/AFP

Saiu há pouco pela editora Companhia das Letras a autobiografia de Tabata Amaral, intitulada Nosso lugar: O caminho que me levou à luta por mais mulheres na política. Ela começa como uma menina de favela que cresce via educação e termina defendendo que o Brasil atropele a autonomia dos partidos e as eleições livres para seguir o modelo de Ruanda. É sério.

Conforme o relato, Tabata nasceu numa área bem pobre de São Paulo, filha de uma empregada doméstica solteira que vivia em regime análogo à escravidão. Era uma retirante baiana da cidade de Iaçu. Casou-se pouco depois com outro retirante, este oriundo do sertão da Paraíba, que registrou sua filha e fez mais outro. Tabata cresceu acreditando que o paraibano fosse o seu pai biológico, e que o seu irmão fosse de pai e de mãe. Assim, nos anos 90 ela era uma filha de retirantes em um lugar da periferia de São Paulo aonde o saneamento básico e a eletricidade não tinham chegado direito. Era justamente aquela figura que se classifica como parda, e vira depois “negra” no somatório de pretos e pardos, para corroborar a tese do racismo estrutural.

Outra coisa que poderia tornar Tabata parte de uma triste estatística é o problema de drogas na família. Como tantas mulheres, a mãe de Tabata passou a sustentar um homem que bebia demais, e depois passou a usar crack. Tabata não parece ter digerido isso muito bem, pois afirma que “a dependência química é uma doença complexa e não tem nada a ver com quão boa ou esforçada uma pessoa é.” (Ênfase minha.) Se não tem nada a ver com esforço, é vão esforçar-se para sair do vício. Se é complexo, é justo admitir que características pessoais sejam fatores determinantes, ao contrário de doenças de origem puramente física, como o câncer de mama. Por causa do paraibano, Tabata e o irmão foram tachados pela vizinhança como futuros drogados.

Esse lugar de São Paulo era a Vila Missionária, cujo nome vem da forte presença de missionários católicos no local. E foram eles que fizeram a diferença na vida de Tabata. Ela sempre foi muito próxima da igreja, era coroinha e estudava na escola das freiras. Daí para a frente, Tabata seria sempre e sempre uma boa menina pronta para dizer sim aos professores, que a fizeram valorizar a educação como um meio de sair da pobreza.

Boa menina

Ela insiste muito ao longo do livro que as pessoas que a guiaram são os professores, e não, como insistem os anticapitalistas, os empresários. É bem crível. De acordo com os valores da família dela, “escola é coisa de gente rica”. O pai foi cobrador de ônibus, a mãe bordava, e Tabata achava que seria bordadeira também. Dada a dificuldade de convencer pais pobres a deixarem os filhos na escola (dificuldade que o Bolsa Família inclusive enfrenta), a mentalidade dos de Tabata não era nada atípica. Tabata desvia do seu padrão doméstico ao se tornar a boa menina primeiro da igreja, e depois dos professores.

Digamos assim: a classe média brasileira tradicionalmente valoriza os estudos formais. Diz que valoriza “os estudos”, acrescento “formais” porque o aprendizado em si mesmo, às vezes alcançado por autodidatismo ou cursos livres, não é tão valorizado assim. “Os estudos” culminam com em diploma universitário, que é interpretado mais como uma licença para exercer um trabalho bem remunerado do que como um índice de conhecimento adquirido no curso.

Daí pra frente, dois traços caracterizariam a vida de Tabata: a obediência aos professores e o esforço para agradá-los. Esse esforço, no começo, fez com que estudasse muito e ganhasse várias olimpíadas escolares. A primeira, em 2005, foi a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Ela estava na quinta série (hoje sexto ano). Ganhou uma bolsa do CNPq de cem reais por mês. Os pais ficaram felizes e usaram o dinheiro para bater uma laje. Só assim Tabata, os pais e o irmão deixaram de dormir todos juntos no mesmo cômodo.

Tabata ganhou medalha de prata numa competição escolar, e seus professores insistiram para que o colégio Etapa, de elite, a aceitasse como bolsista junto com os medalhistas de ouro. Segundo ela, esse “foi um dos muitos momentos em que um professor sonhou algo para mim antes mesmo que eu soubesse da possibilidade desse sonho.” A escola a aceitou, e ela se enturmou com os cê-dê-efes, a despeito da diferença de classe social e do linguajar de nordestino pobre. Os meninos ricos mostravam muita curiosidade sobre como é a vida em favela, e faziam perguntas esdrúxulas.

Ativismo pela educação

O irmão de Tabata fazia um percurso diferente. A escola dele era ruim, os professores faltavam, e ele não era especialmente estudioso. Na escola dela, todos perguntavam qual curso superior os alunos iriam fazer, sem que houvesse a perspectiva de simplesmente não fazer curso superior nenhum. Tabata poderia se perguntar agora se isso não é um problema, mas não o fez.

De acordo com a moralidade de classe média brasileira que ela aprendeu com os professores, o correto e natural é fazer curso superior, e ser altruísta é querer que todo mundo faça curso superior. No lar de Tabata, incorria-se no vício oposto, e ninguém sequer pensava em fazer curso superior. Assim, ela começou a dizer que “queria ser astrofísica. [Ela] não fazia ideia do que um astrofísico ou um cientista faziam, mas a [sua] resposta parecia deixar as pessoas impressionadas, então [continuou] a repeti-la.”

Perante a discrepância entre a própria situação e a do irmão – e com um empurrãozinho dos professores –, Tabata começa a se envolver em projetos ligados a educação. Surge assim a Tabata ativista da educação, que vai para escolas de pobres falar sobre oportunidades e dar aulas em cursinhos preparatórios para vestibulares.

Inflexão em Harvard

Depois de muito estudar e prestar vestibulares, Tabata foi aprovada em Harvard. Ao mesmo tempo, o pai se matou, ela ficou arrasada, e além de tudo não queria ficar longe do lar. Mas os professores argumentavam que, “se [ela] não fosse para os Estados Unidos, talvez se passassem muitos anos até que outra pessoa da periferia tivesse as mesmas oportunidades.”

É um argumento esquisito, do tipo que gente de classe média não ouve. Eu sou baiana, o leitor tem grandes chances de ser sulista, e nunca nenhum de nós deve ter sido instado a fazer algo sob a alegação de que seria o único baiano ou sulista a ter tal oportunidade em muito tempo. Há vários motivos para instar alguém a ir pra Harvard; jogar a pessoa num balaio e dizer que ela é uma bolinha sorteada em muito tempo não é dos melhores. Esse é o tipo de coisa que gente não muito sensata de classe média se sente à vontade para dizer ao pobre.

Tabata foi então a Harvard, e mudou de mentalidade novamente. Primeiro ela era uma típica pobre, futura bordadeira; depois (em termos de valores) vira uma típica brasileira de classe média, que valoriza os estudos e tem sensibilidade social. Em Harvard, mudam os professores, e ela vira uma típica progressista americana: obcecada por raça, gênero e sopa de letras.

Diz ela: “Foi na faculdade que aprendi sobre a luta por igualdade entre homens e mulheres e sobre a importância de eu também lutar contra o racismo e a homofobia, por exemplo. No entanto, vários dos meus amigos não estavam passando pela mesma transformação. Isso levava muitas conversas a terminar em discussões nas quais eu dizia que eles eram preconceituosos, e eles respondiam que Harvard estava fazendo uma lavagem cerebral em mim e me transformando numa radical. Levou algum tempo até que eu aprendesse a me posicionar sem afastá-los de mim.”

Isso explica por que ela faz um revisionismo narrando fatos da própria biografia. Ela sempre reforça o machismo que impede as mulheres de subirem na vida e participar da política partidária. Mas cresceu com um irmão homem em casa, que precisou que ela abrisse as portas do ensino superior, e que não ingressou na política partidária.

Tudo o que ela aprendeu por experiência própria foi que a educação – não a cor branca, não o sexo masculino, não a heterossexualidade – é capaz de tirar alguém da pobreza. Tabata não é negra nem lésbica. Para ser “privilegiada”, essa favelada filha de retirantes só falta ser homem – coisa que o seu desafortunado pai era. Como pode uma pessoa com histórico desse acatar o identitarismo? Só mesmo sendo bovina perante seus professores.

Da educação para a política

Tabata explica que em Harvard os alunos são estimulados a fazer atividades filantrópicas durante as férias. Uma dessas atividades se deu no Brasil. Aqui, ela foi para Sobral e Salvador comparar dois casos opostos: “uma cidade relativamente pobre e do interior estava tendo duas vezes mais sucesso em alfabetizar e ensinar matemática para seus alunos do que uma grande capital.” Para o brasileiro médio, que vive repetindo que faltam recursos para a educação, essa é uma senhora descoberta.

A explicação de Tabata para as discrepâncias é a política. Primeiro, em Salvador, como na maioria dos municípios brasileiros, os diretores de escola são indicação política. Segundo, há o interesse eleitoreiro de prefeitos em “não dar IBOPE” à gestão anterior, de modo que bons projetos são descontinuados quando um grupo político rival vence a eleição. Em Sobral, a educação só se estabeleceu após a consolidação de um grupo no poder.

Dado que a razão era política, fazia sentido entrar para a política para resolvê-lo. Tabata poderia fazer do problema das indicações políticas para a direção o objeto de sua campanha, dado que o problema da educação é consensual. Mas não, em Harvard ela aprendeu que tem que ficar com negócio de mulher pra lá e pra cá, torrando a paciência alheia com panfleto de feminista. Uma pena, porque o problema apontado por ela é de solução bem tangível.

Misandria

O sistema eleitoral do Brasil tem um problema sério com os partidos. Inclusive é uma mulher, Marina Silva, a melhor prova disso. Resolvera fundar a REDE e sair candidata à presidência em 2014, mas foi impedida pela justiça eleitoral.

Tabata não menciona esse caso. Toda a sua narrativa acerca da política é enquadrada na visão misândrica do mundo. Por exemplo: a mãe dela só foi convencida a apoiar a sua candidatura no final da campanha, e quem o convenceu foi o adorável padrasto Tony, do sertão sergipano, que a ajudou muito a fazer a campanha na Vila Missionária. Mas ainda assim os homens, confundidos com os partidos, são retratados como tarados que assediam moças e as impedem de entrar na política.

Palavras dela com ênfase minha: “era comum que as integrantes da minha equipe vissem homens olhando as suas redes sociais e tirando a aliança do dedo enquanto faziam reuniões com elas, ouvissem piadas completamente inaceitáveis e fossem convidadas para sair nos contextos mais inapropriados possíveis. No entanto, foi um acontecimento em particular que nos fez decidir que as mulheres do nosso time só fariam reuniões em lugares públicos, sobretudo se estivessem sozinhas.

Alguma foi agarrada? Não: “Em uma reunião com duas integrantes de nossa equipe, o coordenador da campanha de um candidato a deputado estadual e um outro membro do partido mostraram planilhas com valores absurdos e começaram a dizer que nós tínhamos a obrigação de apoiá-los. Elas disseram que não tínhamos como fazer isso, ao que eles começaram a falar alto e em tom ameaçador.”

Se as mulheres do Oriente Médio precisassem de feministas desse quilate, estavam fritas! Basta falar grosso, que põe pra correr. E mais: nem em lugar público ela fica sozinha! “Eu tinha ido a uma feira com o objetivo de conversar com as pessoas [durante a campanha], mas, por alguma razão, o lugar estava bastante vazio. Assim que cheguei, alguns homens começaram a fazer piadas muito pesadas. Fiquei com tanto medo que saí correndo para encontrar o pessoal que tinha ido comigo e pedi para irmos embora. Ao longo daquele dia, eu senti muita raiva, pois eles tinham conseguido que eu desistisse do que havia ido fazer ali, que era falar das minhas propostas. Depois desse dia, eu nunca mais fiquei sozinha durante a campanha, mas pensava constantemente quão errado era que eu tivesse que estar com outras pessoas para me sentir segura, ainda que eu estivesse numa feira durante o dia.”

É impressionante que ela tenha conseguido se eleger. Brasileira que diz que não pode ir à rua em público falar com homens é doida ou loroteira. Tabata não é exatamente a primeira mulher a se eleger a algo no Brasil. Já tivemos até “presidenta”!

No mais, todos os ataques dirigidos a ela eram causados pelo machismo; os homens malvados ficam falando que ela é cria de empresários por não aceitarem uma mulher naquele espaço. Não obstante, nenhum ataque sofrido por ela na campanha foi uma facada. Esta, quem levou foi um homem branco heterossexual.

Depois, os mesmos anticapitalistas que demonizam as relações de Tabata com empresários alegaram que a Globo e os judeus estavam por trás de uma facada cenográfica para eleger um neoliberal. Eu acho mais fácil acusá-los de antissemitismo do que de machismo. Eles acham que a plagiária Chaui é uma pensadora respeitável!

Partidos malvados

Mas voltemos à questão partidária. Tabata participou de uma organização apartidária progressista que formas lideranças jovens e tenta enquadrá-las em qualquer partido que aceite conversar. Os partidos eram somente PDT, REDE, Cidadania (ex PPS), PSB e PV. Os partidos são descritos como antros de homens malvados que fazem piadas e flertam. (Mulheres são umas santas, não flertam.)

Malvados, não querem viabilizar “candidaturas femininas” por puro machismo. Têm a chave do cofre, decidem o tempo de TV, e – por machismo, claro – decidiram que a novata não teria lugar de destaque no seu primeiro pleito. Qual é a solução de Tabata para isso? Atropelar a autonomia dos partidos e criar cota. Tem que ter cota para candidaturas dentro dos partidos, e cota para o dinheiro gasto pelo partido com “candidaturas femininas”. Parece até que uma figura como Marina Silva, capaz de criar um partido, não existe.

Ruanda, aí vamos nós!

Mas a misandria e o ataque aos partidos não para por aí. O país que Tabata escolhe como exemplo para o Brasil é nada mais que Ruanda. O argumento made in Harvard é muito simples: as mulheres são mais éticas do que os homens, de maneira que a corrupção cai quando muitas mulheres são eleitas. Assim, mesmo que o povo (composto em sua maioria por mulheres) não queira eleger uma grande proporção de políticos fêmeas, o bom Estado deve criar cotas nas casas legislativas para mulheres, e isso é para o bem de todos. Um país que fez isso e terminou elegendo 62% é Ruanda – cuja população masculina adulta foi dizimada pela guerra tribal.

Talvez devamos deixar o tráfico comer solto, pra matar um montão de homens e só sobrar mulher para ocupar os assentos. Aí a corrupção acaba!

Para que não se diga que estou exagerando, cito o livro, da página 159 em diante: “os meus estudos começaram a me mostrar que, se as mulheres estivessem realmente representadas na política [i. e., com candidatas do mesmo sexo, não importando as ideias], o mundo seria um lugar muito melhor. E ele seria melhor para todos, não apenas para as mulheres – por isso que essa batalha deve ser dos homens também. Pesquisas conduzidas mundo afora já demonstram que uma maior participação das mulheres na política acarreta melhora nos índices sociais, econômicos e de combate à corrupção. As mulheres, de modo geral, trabalham de maneira colaborativa e suprapartidária, e alguns estudos mais recentes apontam que uma maior presença feminina na política não só abre mais espaço para pautas relacionadas aos direitos das mulheres […] como também contribui para uma melhor saúde da população, e para a diminuição das pequenas e grandes corrupções.” (Ênfase minha.)

Antes vimos que os partidos, tal como estão, são coisa de homens malvados. Agora vemos o porquê de ela não visar a uma reforma que liberalizasse as candidaturas e os registros de partidos: ela não acredita na ideia de existirem partidos tocando uma democracia. Acredita que mulheres são mais éticas do que homens, e que a autonomia dos partidos (coisas masculinas) deve ser atropelada pelo Estado com a finalidade de plantar mulheres no meio deles, e, se não der certo, tome-lhe cota para o legislativo.

Sigamos: “Uma outra decisão que mudou completamente a história da participação feminina na política em diversos países foi a criação de cota, ou reserva de cadeiras, nos próprios parlamentos. Essa é uma das maneiras mais rápidas de combater os estereótipos e preconceitos e aumentar a inclusão das mulheres na política. […] Como parte do esforço da recuperação de Ruanda após o genocídio, uma nova Constituição foi escrita e ratificada em 2003, a qual criou uma exigência de que as mulheres ocupassem pelo menos 30% dos assentos públicos. Hoje, as mulheres representam 62% da legislatura nacional, muito mais, proporcionalmente, do que qualquer outro país.”

Conviria dizer que após o genocídio as mulheres eram uns 70% da população ruandesa, mas ela continua assim: “Isso se deve, em grande parte, ao grupo suprapartidário Fórum Parlamentar das Mulheres de Ruanda, que desenvolveu uma estratégia segundo a qual legisladoras veteranas concorrem pelas cadeiras abertas e as novas candidatas pelos lugares reservados. […] A discussão sobre a criação de cotas de gênero no Congresso brasileiro ainda enfrenta muita resistência, tanto de uma parte de considerável dos parlamentares homens como da sociedade. Aqui, é fundamental nos aprofundarmos nas experiências de outros países e deixarmos os nossos preconceitos e achismos de lado ao participar desse debate.” Nenhum balanço do que as ruandesas fizeram de eficaz é oferecido. Tabata é movida pela “certeza de que a plena participação das mulheres na política vai contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, desenvolvida e ética”(ênfase minha). Se as mulheres são tão superiores, por que não cassar o direito ao voto e candidatura dos homens logo?

Uma moda que escapou ao meu radar foi essa de afirmar que mulheres são mais éticas e portanto devem ter mais cadeiras legislativas. Uma amiga que foi representante estudantil, porém, conta que isso tem pelo menos dez anos, e ela própria resolveu averiguar.

Estudos em países com boas instituições mostram que mulheres são menos propensas a aceitar entrar em esquemas ilícitos. Há estudos concluindo que isso é só mais uma consequência de mulheres serem avessas a risco do que homens. Trocando em miúdos, a razão para mulheres parecerem mais éticas nesses países é a mesma para o seguro automobilístico ser mais barato para mulheres. O risco de ser pega fala alto. Por outro lado, num país corrupto, ser honesto é que gera riscos. Em Gana, testou-se a receita mágica de Harvard sem sucesso.

Os precedentes

Nenhuma palavra é dita sobre Dilma Rousseff ou Cristina Kirchner; é como se a experiência sul-americana sumisse por causa de uma meia dúzia de papers autodeclarados científicos. Para além dos exemplos óbvios das duas “presidentas”, há a legislação venezuelana. A Venezuela, em 2015, inovou ao criar cotas para mulheres dentro dos partidos. Não consta que a Venezuela tenha se tornado menos corrupta depois disso. É mais factível ver aí a mão do poder central, chavista, esmagando a autonomia dos partidos.

Ameaçadora, Tabata aconselha as mulheres a procurarem partidos que levem a sério as “candidaturas femininas” porque “hoje, existe um entendimento de que, se ficar comprovado que um partido apresentou uma candidatura-laranja, todas as candidaturas daquela legenda serão cassadas.” Ao cabo, os progressistas deram poder aos juízes de cassar legendas! E note-se que segundo Steven Levitsky, na contracapa do livro, Tabata é a melhor aluna que ele já teve em Harvard!

Há um precedente brasileiro em que os partidos são vistos como fatores de desagregação e corrupção, que devem ser substituídos por uma força ética. Esse precedente pode ser melhor conhecido na obra de Miguel Reale intitulada ABC do Integralismo (José Olympio, 1935).

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