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Eduardo Moreira e Juliana Baroni na pré-estreia do documentário 'Vai pra Cuba, Eduardo!'
Eduardo Moreira e Juliana Baroni na pré-estreia do documentário ‘Vai pra Cuba, Eduardo!’| Foto: Dilvulgação/Léo Orestes

Hoje incorporada ao vocabulário cotidiano, a expressão “socialista de iPhone” só não foi superada por outro clássico do gênero: mandar alguém para Cuba. 

Desde que se “converteu” ao esquerdismo, há pouco menos de dez anos, o empresário carioca Eduardo Moreira perdeu as contas de quantas vezes foi mandado para a ilha sequestrada pelo comunismo desde o final da década de 1950. 

Até que, em fevereiro deste ano, o ex-sócio do banco Pactual finalmente foi. E voltou com um documentário que romantiza a ditadura, minimiza o sofrimento da população e, num tom escolar, reforça todos os clichês possíveis sobre as supostas conquistas da revolução.

‘Vai pra Cuba, Eduardo!’ é a primeira produção internacional do Instituto Conhecimento Liberta, empreitada de Moreira que surgiu como uma plataforma online de cursos “progressistas”, expandiu suas atividades para o jornalismo (no canal do YouTube ICL Notícias) e atualmente busca crescer na área dos documentários. 

A proposta do ICL é investir pesado para rivalizar com a produtora Brasil Paralelo, atuante no campo conservador. Tanto que o grupo recentemente anunciou a chegada de um novo sócio: o youtuber Felipe Neto. 

O filme ainda marca a estreia na direção da mulher de Moreira, a atriz Juliana Baroni. Intérprete da ex-primeira dama Marisa Letícia (1950-2017) no longa ‘Lula, o Filho do Brasil’ (2009), ela até hoje é mais famosa por ter sido a paquita Jujuba do ‘Xou da Xuxa’. 

Figura central do ICL Notícias, Eduardo Moreira também é o protagonista do próprio documentário, que começa com o casal arrumando as malas antes de viajar. Enquanto isso, ele conta sua trajetória idealizada de milionário “consciente”.

“De repente eu surgi com uns papos estranhos. Em vez de grana, eu estava querendo saber de MST. Virei um traidor de classe. E sempre que aparece um, ele tem que ser aniquilado”, diz. 

Já no aeroporto, os dois se encontram com Frei Betto, ex-assessor especial do presidente Lula e um dos principais divulgadores da Teologia da Libertação. Admirado por Fidel Castro, com quem se encontrou pela primeira vez em 1981, ele atua como guia da equipe durante a jornada. 

Com exceção de alguns takes rápidos que mostram pessoas numa fila para receber comida e a dificuldade para se recolher o lixo no país, ‘Vai pra Cuba, Eduardo!’ é uma defesa do regime comunista sem qualquer fundo crítico. 

Pior que isso. Moreira narra sua experiência no país como se estivesse visitando a Disneylândia comunista, com um ar de deslumbramento e encanto. 

E mesmo quando a produção traz à tona temas mais recentes e ainda pouco conhecidos do grande público, como a realização de eleições e a possibilidade de abrir comércios e até comprar imóveis, a abordagem é sempre superficial. 

Os motivos são óbvios: existe apenas um partido (o comunista) e a permissão para possuir uma propriedade privada é limitadíssima (e muito cara). 

Sobram então as entrevistas, no mínimo curiosas, com deputados, intelectuais e o ditador Miguel Díaz-Canel – além de cidadãos visivelmente obrigados a falar bem do regime (que, segundo estimativas, pode ter matado quase 100 mil pessoas ao longo dos últimos 65 anos). 

Frei Betto compara Che a Jesus em bate-papo sobre o filme no YouTube 

Após ser exibido em uma sessão para convidados num cinema de São Paulo, ‘Vai pra Cuba, Eduardo!’ estreou oficialmente no YouTube no dia 13 de agosto (data do aniversário de Fidel Castro).

Em seguida à apresentação, Eduardo Moreira, Juliana Baroni e Frei Betto participaram de um bate-papo ao vivo, com direito a uma intervenção à distância de Leonardo Boff, principal expoente da Teologia da Libertação. 

Moreira e Betto (Juliana quase não falou) fizeram uma defesa do filme e da própria ditadura cubana.

“Cuba tem uma democracia socialista. Ela é muito mais verdadeira do que a capitalista, que é uma farsa. Aqui no Brasil todos temos o direito de escolher nossos dirigentes, porém o trabalho deles raramente é feito para todos, somente para os segmentos privilegiados”, diz Frei Betto.

Sobre a quase inexistência da internet no país, Moreira afirma: “Em Cuba, um aperto de mão ou um abraço valem mais do que uma selfie pra postar no instagram”. 

“As pessoas criticam Cuba, que exporta médicos, mas não criticam aqueles que exportam armas”, diz o empresário em outro momento. 

Os dois ainda se juntam para comentar os obstáculos enfrentados pelos cidadãos que desejam deixar a ilha. “Essas pessoas foram treinadas e formadas a vida inteira com recursos de toda a comunidade. É justo que se crie um controle sobre a saída delas”, afirma Moreira 

O frade arremata: “Liberdade [de ir e vir], no Brasil, é para uma minoria que tem recursos. Sua faxineira não pode tirar férias em outros estados, porque não tem dinheiro para isso”.

Por fim, Betto compara o sanguinário guerrilheiro Che Guevara com ninguém menos que Jesus Cristo. “Depois da revolução, Che se dedicou a libertar outros povos. Foi para a Bolívia e lá sacrificou a própria vida. Isso me faz lembrar de Jesus, que disse: ‘Eu vim para que todos tenham vida’.” 

Dos participantes do bate-papo, não consta que nenhum more, de fato, em Cuba.

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