Pesquisadores da Universidade de Washington mostraram que gordura visceral (aquela que deixa a “barriga de chope” protuberante) responde por 77% da associação de Alzheimer com o sobrepeso.| Foto: Kaboompics.com
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O organismo humano armazena o excesso de alimentação de duas formas: na gordura dérmica, logo abaixo da pele, e na gordura visceral, entre os órgãos internos. Esta última, que tem como um dos sinais a “barriga de chope”, pode ser um sinal de alerta de décadas antes de uma pessoa desenvolver a doença de Alzheimer, de acordo com um novo estudo.

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O trabalho foi apresentado na semana passada (2) na conferência anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA, na sigla em inglês). O principal resultado foi que a já conhecida associação entre sobrepeso e Alzheimer pode ser explicada em 77% pela gordura visceral, que foi associada ao acúmulo de proteínas no cérebro, hoje uma das principais hipóteses para explicar a doença.

“Este resultado crucial foi descoberto porque investigamos a progressão da doença de Alzheimer a partir do começo da meia-idade”, entre os quarentões e cinquentões, disse a líder do estudo, a médica Mahsa Dolatshahi, que faz pesquisa de pós-doutorado na Faculdade de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, Missouri (EUA).

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“Modificações como a perda de peso e a redução da gordura visceral são mais eficazes como um modo de prevenir ou frear o início da doença”, afirmou Dolatshahi.

Como foi feito o estudo sobre Alzheimer

A amostra do estudo foi de 80 pessoas de meia idade, com média de 49 anos, 57% das quais eram obesas. Elas foram examinadas com tomografias cerebrais e ressonância magnética do corpo, além de testes de níveis de glicose, insulina e colesterol. As tomografias avaliaram o acúmulo de proteínas específicas no cérebro — as proteínas beta-amiloide e tau, associadas à doença de Alzheimer. A ressonância magnética do abdômen mediu o volume de gordura dérmica e visceral.

Os 77% do efeito da gordura visceral descobertos pelos cientistas dizem respeito especificamente ao acúmulo das proteínas beta-amiloide e tau no cérebro, que levam à neurodegeneração progressiva observada pela morte dos neurônios. A gordura dérmica não mostrou relação com o risco maior de Alzheimer associado ao sobrepeso.

“Até onde sabemos, nosso estudo é o único a ter demonstrado essas descobertas para a meia-idade, quando os nossos pacientes estão a décadas de desenvolver os primeiros sintomas da demência que resulta da doença de Alzheimer”, disse Dolatshahi.

Há mais resultados. A maior resistência à insulina, um sinal de risco de diabetes, e o nível menor de HDL (o chamado “colesterol bom”) também foram associados a ter mais placas de beta-amiloide no cérebro. Os efeitos nocivos da gordura visceral eram parcialmente mitigados quando os níveis de HDL eram mais altos.

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Na mesma conferência, o mesmo grupo de pesquisadores mostrou que a obesidade e a gordura visceral reduzem o fluxo da corrente sanguínea no cérebro.

“Nosso trabalho tem um impacto considerável em política de saúde porque quase três a cada quatro americanos têm sobrepeso ou são obesos”, disse Cyrus Raji, líder do laboratório que realizou o estudo.

No Brasil, segundo um levantamento deste ano feito pela revista médica The Lancet, quase um terço das mulheres e mais de um quarto dos homens são obesos.

Benefícios cerebrais de estilo de vida saudável já eram conhecidos

Quase sete milhões de pessoas com 65 anos ou mais vivem com Alzheimer nos Estados Unidos, de acordo com a Associação de Alzheimer do país.

Segundo Ivan Okamoto, neurologista do Núcleo de Excelência em Memória (Nemo) do Hospital Albert Einstein, um milhão e meio de pessoas vivem com demência no Brasil, sendo o Alzheimer um dos tipos de neurodegeneração na terceira idade.

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Okamoto cita um estudo da Finlândia, conhecido como “FINGER”, que aplicou uma série de intervenções em um grupo de idosos, e acompanhou outro grupo sem intervenções para comparação. Entre as intervenções estavam exercícios aeróbicos e musculação, que reduzem a gordura visceral, além de dieta balanceada, que ajuda a evitar sua formação. Havia outras, por exemplo uma rotina de desafios à cabeça como palavras cruzadas e aprendizado de uma nova língua, além de mais atividades sociais. O estudo não isolou o efeito de cada intervenção, mas em conjunto elas evitaram “entre 30 e 40% dos casos”, disse o especialista.

Pedro Brandão, neurologista do Hospital Sírio-Libanês em Brasília e pesquisador do Alzheimer, recomenda para a prevenção do Alzheimer “manter uma rotina de exercícios físicos, participar de atividades que estimulem o cérebro e manter um bom nível de interação social”, além de ficar de olho na pressão arterial, evitar tabaco, controlar níveis de glicose e ter dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]