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O Departamento de Saúde de São Francisco decidiu isolar os moradores de rua em hotéis. Não satisfeito, agora ele distribui bebida e maconha de graça.
O Departamento de Saúde de São Francisco decidiu isolar os moradores de rua em hotéis. Não satisfeito, agora ele distribui bebida e maconha de graça.| Foto: Pixabay

As autoridades de São Francisco negam o envolvimento direto num programa controverso financiado pela iniciativa privada que fornece álcool, maconha e cigarros de graça para os moradores de rua que estão vivendo nos hotéis da cidade durante a pandemia de Covid-19.

Depois que notícias sobre a distribuição desses itens especiais vazaram, provocando vergonha nas redes sociais, o Departamento de Saúde Pública da cidade emitiu uma nota dizendo que “rumores de que os hóspedes no programa de moradia alternativa de São Francisco estão recebendo álcool, maconha e cigarros pagos com o dinheiro do contribuinte são falsos”.

Mas não são. O Departamento de Saúde Pública, que administra e supervisiona o programa, conta com funcionários públicos como médicos, enfermeiras, assistentes sociais e seguranças. O departamento administra, armazena e distribui as substâncias. Os funcionários estão envolvidos. Portanto, o programa é, sim, financiado pelo contribuinte, mesmo que um grupo de fora da prefeitura financie parte dele. De acordo com a porta-voz do Departamento de Saúde Pública, Jenna Lane, os filantropos que ajudaram a comprar as substâncias querem permanecer anônimos.

O objetivo do programa é manter os moradores de rua, em sua maioria viciados, fora de perigo durante a pandemia. A ideia é que, conseguindo as substâncias de graça, os hóspedes talvez tenham um incentivo para permanecerem nos abrigos pagos pelo governo. Outro objetivo do programa é proteger as pessoas do coronavírus. A cidade não quer que os moradores de rua vaguem pelos bairros à procura dessas substâncias, potencialmente infectando outras pessoas.

“O uso controlado de álcool e tabaco permite aumentar a quantidade de hóspedes que permanecem isolados ou em quarentena e, mais importante, protege a saúde das pessoas que talvez possam precisar de leitos hospitalares ocupados pela abstinência do álcool”, diz Lane.

Lane diz ainda que a fornecimento dessas substâncias não pretende necessariamente proteger as pessoas da desintoxicação perigosa e sem supervisão. Os moradores de rua são avaliados para que se determine que substâncias eles preferem consumir e cuja falta os deixarão numa situação incômoda. “Muitos hóspedes da quarentena nos dizem que eles usam essas substâncias diariamente”, diz Lane, “e esse período sob nossos cuidados permite que algumas pessoas tenham contato pela primeira vez com tratamentos e terapias de redução de danos”.

Mas o Departamento de Saúde Pública não esclareceu quais serviços de tratamento ao vício são oferecidos e se há alguma pessoa em tratamento. De qualquer forma, “terapia de redução de danos” tem a ver com reduzir as consequências negativas associadas ao uso de drogas, não com a cura do vício.

Os detalhes do programa de distribuição de substâncias – até onde eles foram revelados — são fascinantes. O álcool é servido com refeições (que também são fornecidas de graça) e o Departamento de Saúde Pública, sob a orientação dos médicos, determina quanto cada pessoa recebe. Será que o médico dá uma receita para uma dose diária de cinco Sierra Nevadas, sete doses de Tito’s ou uma bela garrafa de Sangiovese? E quem faz as compras? O Departamento de Saúde Pública não diz.

Os funcionários do Departamento de Saúde Pública ajudam comprando maconha para os hóspedes que preferem essa droga. No papel, o objetivo é o uso medicinal, embora médicos sejam proibidos de prescrever maconha e o seguro não cobre esse tipo de substância. Na Califórnia, o preço médio de 30 gramas de maconha de qualidade média é US$207.

Os hóspedes que gostam de fumar recebem cigarros que são divididos pela equipe médica e entregues em embalagens plásticas. A quantidade que cada um recebe é “determina por médicos que calculam o mínimo possível para se alcançar os objetivos de saúde pública do isolamento e quarentena”, diz Lane. Quando perguntada se esses hóspedes recebem marcas genéricas ou de luxo, Lane disse que os médicos é que determinam a qualidade do produto. Quase todos os quartos de hotel em São Francisco são para não-fumantes, mas essas regras aparentemente foram suspensas, ao menos para aqueles cuja hospedagem é paga com dinheiro público.

É de se imaginar que o Departamento de Saúde Pública exige que as pessoas que recebem essas substâncias permaneçam em quarentena, mas a cidade apenas pede que os moradores de rua fiquem isolados. “A cidade de São Francisco pede aos hóspedes em isolamento e quarentena que permaneçam em seus quartos”, diz Lane. “O Departamento de Saúde Pública está administrando o uso dessas substâncias para que os hóspedes não tenham de ir às ruas para obtê-las”. Mas não há seguranças monitorando as entradas e saídas e ninguém está preso.

O programa não garante a proteção nem dos moradores de rua abrigados em hotéis nem do público em geral. Os contribuintes de São Francisco estão pagando a conta para que essas pessoas bebam, fumem e fiquem chapadas enquanto moram de graça em hotéis. Não por acaso do Departamento de Saúde Pública e seus misteriosos doadores tentam esconder ao máximo os detalhes do programa.

Erica Sandberg é repórter em São Francisco.

© 2020 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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