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Katie Ledecky, dos EUA, compete em uma bateria de 800m livre medley feminino das competições de natação nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, na Arena Paris La Défense, 02 de agosto de 2024.
Katie Ledecky, dos EUA, compete em uma bateria de 800m livre medley feminino das competições de natação nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, na Arena Paris La Défense, 02 de agosto de 2024.| Foto: EFE/EPA/RITCHIE B. TONGO

Os Jogos Olímpicos terminaram e, com eles, toda uma galeria de imagens dramáticas: da desolação de Carolina Marín à epopeia dos marchadores, passando pelo vertiginoso mundo dos velocistas. Todos eles nos deixam um legado comum: a beleza dos corpos submetidos ao esforço de ser graça no ar; uma beleza virtuosa, no sentido ético da palavra, uma virtude feita carne.

As piscinas sempre me fascinaram. Em particular, as piscinas olímpicas. Tão longas, tão implacáveis. Uma das minhas primeiras lembranças olímpicas está relacionada a elas. Foi nos Jogos de Londres de 2012 e Michael Phelps era a sensação. Ele nadou de forma estranha, sem entusiasmo: estava lá, porque tinha que estar. Mas, mesmo com essa predisposição, foi um espetáculo visual. Aqueles braços tão longos, o movimento antes de se lançar à piscina, a borboleta perfeita, a virada subaquática excepcional. Lembro que naquele verão não conseguia tirar os olhos da tela, acordava cedo pela manhã para assistir às eliminatórias e, à tarde, fazia todo o possível para ver as finais. Estava fascinada.

Nesses dias, pensei muito naquele fervor. Na admiração que esses primeiros Jogos Olímpicos geraram em mim. Em como passei da natação para a natação sincronizada, depois para a canoagem, e em seguida para o atletismo e a ginástica artística; em como me dei conta de que essa competição não era apenas uma festa do esporte, mas também uma celebração da beleza.

Os Jogos Olímpicos têm um certo je ne sais quoi que os diferencia de outras competições esportivas, de outros campeonatos mundiais e encontros internacionais. Talvez porque se trata de uma mistura de competições de diferentes disciplinas realizadas em um mesmo lugar. Ou porque, nas Olimpíadas, os atletas não têm como objetivo apenas a vitória, mas anseiam e buscam a glória. E pode ser também devido ao fato de que é uma exibição de uma beleza impressionante, em diferentes formatos e com diferentes matizes, mas com coordenadas que apontam na mesma direção: a almejada — e muitas vezes inatingível — perfeição do movimento. Uma perfeição moldada pela graça.

Beleza encarnada

Esses Jogos de Paris nos deixaram momentos repletos de excelência extraordinária. De grandíssima precisão, com atletas em estado de graça realizando movimentos apoteóticos. Momentos que já ficaram para a história: a corrida masculina dos cem metros rasos, extremamente acirrada, mas que, por um tronco ligeiramente adiantado, deu o ouro a Noah Lyles; Léon Marchand na piscina, protagonista de um espetáculo físico que o coroou como digno sucessor do tubarão de Baltimore, Michael Phelps; Katie Ledecky, um prodígio de braços e ombros que nadou (e dominou e venceu) a prova dos 1.500 metros livres como se estivesse nadando algumas voltas na piscina do jardim de sua casa.

Ou Stephen Nedoroscik com uma vitoriosa rotina no cavalo com alças e Simone Biles exercendo aquele domínio inigualável no all-around. Ou o efeito visual das saltadoras chinesas Yuxi Chen e Hongchan Quan, que, durante a final da plataforma sincronizada, conseguiram estar tão sincronizadas que chegaram a parecer uma única saltadora. Ou tantos outros momentos — tantíssimos — que tornam visível uma presença: o rastro da beleza em cada movimento.

Claro, a beleza não é o objetivo do esporte de competição; não é o primeiro objetivo que os atletas de elite perseguem quando se submetem voluntariamente, dia após dia, ano após ano, a esses rigorosos planos de treinamento. A beleza não é o seu objetivo, mas é uma presença constante e um veículo que serve para transmitir e tornar palpável uma realidade concreta: a beleza do rigor, mas, acima de tudo, a beleza do ser humano.

O grande David Foster Wallace dizia em um ensaio sobre Roger Federer que a beleza dos atletas de elite era de um tipo que nada tinha a ver com sexo ou com as normas culturais. Trata-se de uma relação — entre ela e o esporte — que se assemelha à que existe entre a coragem e a guerra. Beleza cinética, ele disse que se chamava.

É a beleza do esforço e da tenacidade, de um movimento aperfeiçoado, após horas e horas de lapidação de sua trajetória no ar — e na água. É a beleza do esforço e da renúncia, da determinação, do dom e também do trabalho. É a beleza do talento reconhecido, do talento esculpido, do talento posto em ação. É a beleza das virtudes humanas tatuadas na carne, porque o esporte é uma das poucas atividades que não admite engano, em que não se pode blefar: por mais talento que você tenha, se não o trabalhar, ficará na linha de partida.

É a beleza da virtude, da educação nos costumes cívicos do respeito ao rival, do companheirismo e do trabalho em equipe, da generosidade e da paciência. É uma beleza que não se consegue descrever em palavras, porque é escorregadia, porque escapa, porque só admite a experiência para sua plena compreensão.

Mas, acima de tudo, é a beleza que se encarna na reconciliação dos seres humanos com o fato de terem um corpo.

©2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol: La “belleza cinética” de los Juegos Olímpicos

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