Berlim está vivendo uma crise habitacional. A população cresce mais do que a oferta de habitações e o resultado, claro, é que os preços das propriedades e dos alugueis aumenta rapidamente. A cidade, que costumava ser barata em comparação a outras metrópoles, hoje é proibitivamente cara.
A escassez de habitação sem dúvida afeta o padrão de vida. Em muitas cidades europeias – Londres e Paris são os exemplos mais notáveis – o preço das habitações e dos alugueis engolem boa parte da renda das pessoas. É quase impossível para alguém viver com um salário médio, muito menos com um salário baixo. Isso não é nada bom.
Qual a solução para a crise habitacional de Berlim, de acordo com os principais partidos políticos? Aluguel subsidiado e desapropriação – exatamente as soluções criadas na República Democrática Alemã, também conhecida como Alemanha Oriental. É deprimente pensar que a população bem-educada da cidade, com uma lembrança recente dessas políticas catastróficas, hoje em dia defende tais medidas. A maioria dos cidadãos, e não uma minoria militante, provavelmente apoiará a realização de um referendo municipal sobre a nacionalização de apartamentos.
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Os princípios de oferta e demanda são de fácil compreensão, mas mesmo assim eles parecem quase ausentes do pensamento dos universitários e das pessoas com doutorado. Vale a pena perguntar por que as coisas chegaram a este ponto.
Quando as pessoas enfrentam dificuldades, a primeira reação delas é culpar alguém. É uma reação primitiva, sem dúvida, mas ainda assim uma reação que não desaparece em condições de prosperidade e abundância – talvez a abundância até reforce essa reação, já que as dificuldades parecem anômalas em tais condições. Viver num pais com um enorme excedente comercial e ainda assim ter dificuldades para encontrar um lugar para viver parece algo incongruente, que merece uma explicação. A aparente injustiça da propriedade privada serve como a mais simples e mais agradável das explicações. Exproprie os expropriadores – e tudo ficará bem.
Essa explicação e solução vêm acompanhadas da recompensa psicológica do ódio virtuoso direcionado àqueles que supostamente causaram o problema. É mais fácil desapropriar uma casa do que construí-la. A imposição de um incômodo aos ricos – apenas uma empresa berlinense de capital aberto é dona de 30 mil apartamentos – é a recompensa em si, independentemente das consequências.
A Alemanha Oriental foi um exemplo contundente do que acontece quando as desapropriações e os alugueis subsidiados se transformam na base da política habitacional; ainda assim, passados apenas trinta anos, é provável que a situação se repita. A alocação habitacional de acordo com critérios políticos, como lealdade e conexões com alguém do partido, se tornará comum. As pessoas que moram em Nova York têm certeza de que sua cidade, ao contrário de Berlim, aprendeu com essas experiências? Ou será que eles dirão, como o Presidente John Kennedy, “Ich bin ein Berliner” [“Eu sou um berlinense”]?
*Theodore Dalrymple é editor colaborador do City Journal e autor de vários livros, entre eles Não Com Um Estrondo, Mas Com Um Gemido e A Faca Entrou.
Tradução de Paulo Polzonoff Jr.
©2019 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.