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O presidente dos EUA, Joe Biden, durante coletiva de imprensa na Cúpula do 75º aniversário da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Washington, DC, EUA, 10 de julho de 2024.
O presidente dos EUA, Joe Biden, durante coletiva de imprensa na Cúpula do 75º aniversário da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Washington, DC, EUA, 10 de julho de 2024.| Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO

Durante a maior parte deste ano, a eleição presidencial americana parecia que seria uma colisão em câmera lenta entre Donald Trump e Joe Biden. No meio de 2023, Trump havia disparado para uma liderança incontestável entre os eleitores das primárias republicanas. Apesar de suas baixas taxas de aprovação, Joe Biden nunca enfrentou um desafiante significativo nas primárias.

No entanto, no último mês, a longa e esperada revanche entre Trump e Biden caiu por terra. Biden finalmente anunciou que desistirá de sua candidatura à reeleição — o primeiro presidente em exercício desde 1968 a abrir mão da chance de reeleição.

A desastrosa performance de Biden no debate de 27 de junho com Trump deu um golpe brutal em sua campanha de reeleição. Isso alimentou os temores de que Biden não seria capaz de mudar fundamentalmente a dinâmica da corrida e lançou uma ofensiva crescente da coalizão progressista: editoriais pediram que ele desistisse, e as reclamações nos bastidores de democratas eleitos aumentaram até se tornarem exigências públicas para que ele “passasse o bastão.” As doações secaram e o establishment democrata enviou sinais de que estava disposto a infligir mais dor política a Biden se ele não atendesse aos seus desejos.

Biden sabia que não poderia lutar uma guerra em duas frentes contra seus colegas democratas e um Partido Republicano unificado em torno de Donald Trump. Já os críticos democratas de Biden haviam dado a Trump considerável munição que ele poderia usar contra o presidente na eleição geral. Por exemplo, o congressista de Massachusetts Seth Moulton escreveu um artigo de opinião para o jornal Boston Globe levantando dúvidas sobre a memória de Biden.

Tais alegações poderiam servir não apenas como material para anúncios de campanha no outono, mas também como substância para questionar a aptidão de Biden para permanecer como presidente. Ao contrário de Trump após o vídeo de Access Hollywood, [Nota da tradução: o vídeo do site Access Hollywood, gravado em 2005 e divulgado em outubro de 2016, revelou comentários vulgares e degradantes feitos por Donald Trump sobre mulheres. No vídeo, Trump, que estava em um ônibus com o apresentador Billy Bush, descreveu seu comportamento sexualmente agressivo e se gabou de beijar e apalpar mulheres sem consentimento] Biden enfrentava vários meses a mais na campanha eleitoral geral. E embora o vídeo de Access Hollywood fosse prejudicial, foi um vazamento único. Cada aparição de Biden após o primeiro debate foi escrutinada sob a ótica de sua idade e capacidade de servir; o veredicto não foi positivo. Teria sido mais três meses e meio brutais disso, com muita coisa em jogo.

Ainda assim, seria um erro atribuir a queda de Biden exclusivamente àquele debate. Seus desafios à reeleição eram mais estruturais. Ele tem uma taxa de aprovação líquida negativa desde setembro de 2021, logo após a retirada do Afeganistão. A inflação, a proliferação de crises internacionais e sua guinada à esquerda em questões de identidade minaram fundamentalmente sua presidência. A idade de Biden era tanto um símbolo quanto uma causa para as dúvidas dos eleitores sobre ele; suas aparições públicas cada vez mais desarticuladas apenas confirmaram a sensação de que ele não estava à altura do trabalho da presidência.

Em seu anúncio de retirada no X, Biden também endossou Kamala Harris como a candidata do partido, iniciando uma onda de apoio a ela por parte de outros democratas. O senador da Virgínia, Mark Warner; o representante da Carolina do Sul, Jim Clyburn (cujo apoio foi decisivo em 2020); e Bill e Hillary Clinton estão entre os numerosos democratas de alto nível que apoiaram a vice-presidente.

Outros importantes quadros democratas foram mais circunspectos. Barack Obama simplesmente endossou "um processo do qual um candidato excepcional emerge." Biden não pode simplesmente entregar a nomeação a Harris, é claro; ela provavelmente teria que conquistá-la através desse “processo”, seja lá o que isso venha a ser. Independentemente de Harris ser ou não a candidata final do partido, a decisão de Biden de desistir termina um período de paralisia que tomou conta do Partido Democrata no último mês.

Neste confronto histórico entre o establishment progressista e o presidente em exercício dos Estados Unidos, o establishment progressista venceu. Desde o início de sua carreira em Washington em 1972, Joe Biden sempre foi um homem do partido. Agora o partido decidiu que é hora de ele ir embora.

©2024 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Bowing to Reality

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