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Nas sociedades antigas, os grandes festejos populares eram compreendidos como uma espécie de ferramenta voltada à purificação da vida – os momentos de folia serviam de respiro permissivo para que as comunidades se reorganizassem a partir do caos.
E o que Carnaval brasileiro tem a ver com isso? Praticamente nada.
Encerrado o fuzuê de 2024, o que se vê é um rastro de lixo, violência, vandalismo e doenças. Nem a epidemia de dengue foi capaz de inibir a festa da carne deste ano.
A seguir, selecionamos algumas das inúmeras situações constrangedoras, revoltantes e bizarras registradas nos últimos dias na imprensa e nas redes sociais. E que revelam um país subdesenvolvido, sempre à beira do descontrole.
Bloquinho dos políticos
O destaque da nossa comissão de frente é o presidente da Câmara dos Deputados e líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), que atravessou a Marquês de Sapucaí acompanhado de um dos maiores bicheiros da história da contravenção carioca – Anísio Abraão Davi, presidente de honra da Beija-Flor.
A escola de samba homenageou uma figura histórica de Alagoas e recebeu um patrocínio de R$ 8 milhões da prefeitura de Maceió (comandada por João Henrique Caldas, do PL, aliado de Lira). O deputado ainda se divertiu em Salvador com dois candidatos baianos à sua sucessão, Elmar Nascimento (UB) e Antonio Brito (PSD).
Também foi notícia:
Cabelo platinado – Depois que o prefeito de Recife, João Campos, (PSB), platinou os cabelos para participar da abertura da folia na cidade, outros políticos resolveram imitá-lo (alguns apenas no Instagram, por meio da edição de imagens). Até o petista Lindbergh Farias (mais conhecido como “o namorado da Gleisi”) aderiu à moda, conhecida como “nevou”.
O ministro e o incendiário – Silvio Almeida, chefe da pasta dos Direitos Humanos, recebeu duras críticas por desfilar pela Vai-Vai, escola paulistana considerada um “reduto do PCC” em uma investigação da Polícia Civil. Para piorar, ele apareceu em um carro alegórico com uma estátua pichada do bandeirante Borba Gato (que divide opiniões quanto ao seu papel histórico) e acompanhado do motoboy Paulo Roberto da Silva Lima, preso em 2021 por atear fogo ao monumento original.
Autopromoção – Almeida também esteve no Rio para participar da apresentação da Portela (e por isso foi acusado de usar o Carnaval para se promover).
"Ódio do bem"? – A Vai-Vai, que homenageou os 40 anos do movimento hip-hop, ainda causou polêmica por demonizar a imagem de policiais (e foi condenada por membros da Frente da Segurança Pública da Câmara)
Beijo triplo – Irmão mais novo de Ciro e Cid gomes e prefeito da cidade-sede do clã, Sobral (CE), Ivo Gomes (PDT), viralizou nas redes graças a um beijo triplo (proposto por duas foliãs agradecidas pelo seu trabalho).
Invasão – Filho do ex-presidiário José Dirceu, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) teve sua casa, na cidade paranaense de Cruzeiro do Oeste, invadida e assaltada. Segundo ele, que não estava no local, os bandidos aforam agressivos com sua mãe, mas ela não sofreu ferimentos graves.
Insegurança – O já citado Elmar Nascimento também não foi poupado pelos ladrões carnavalescos. Ele teve seu celular roubado após descer do trio elétrico do cantor Bell Marques, na capital baiana.
Bloquinho da imprensa
Acredite se quiser: para o site de esquerda Opera Mundi (criado pelo jornalista Breno Altman, conhecido por apoiar o Hamas e relativizar os assassinatos cometidos pelo grupo terrorista), o Carnaval de 2024 foi marcado por uma grande onda de manifestações pró-Palestina.
Segundo um texto publicado na terça-feira (13), “As festividades de rua celebradas ao longo de fevereiro reforçam o caráter anticolonial do tradicional feriado brasileiro em meio às ofensivas israelenses na Faixa de Gaza”.
Também foi notícia:
FrevoNews – Alguém na GloboNews teve a brilhante ideia de colocar adereços de Carnaval nos apresentadores para “trazer mais leveza” aos telejornais. O resultado, claro, foi vexatório. Agora seremos assombrados, durante muitos anos, pela imagem do comentarista Valdo Cruz tentando dançar frevo.
Jornalismo de serviço – Uma colunista do site Metrópoles inovou no quesito “dicas para o Carnaval”. Ela ensinou “três posições sexuais para facilitar uma rapidinha, sem nem precisar tirar a roupa”.
Cuma? – Outro veículo “vermelho”, Outras Palavras, afirma que “a felicidade é subversiva”. Diz o texto: “Vista antes como conversadora e burguesa, ela pode criar sensibilidades criativas e antissistêmicas. Diante de um mundo gris, é preciso novos vínculos afetivos e eróticos; nem repressores, nem coisificantes”. Entendeu?
Só pensam naquilo – A Folha de S. Paulo abriu espaço para artistas e celebridades falarem mal do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Não quero nem pensar no Bolsonaro hoje”, disse a atriz Alline Moraes. “Vou festejar o plantão da Globo anunciando a prisão do Bolsonaro”, avisou o ator e diretor Enrique Diaz. “Bolsonaro tem que ser preso e de forma exemplar”, afirmou o ator Paulo Betti.
Bloquinho dos famosos
Nenhuma celebridade foi tão citada neste ano quanto Ivete Sangalo. Especialmente pelo seu embate com Baby do Brasil em pleno circuito Campo Grande, em Salvador.
A ex-Consuelo, que também é pastora, fazia uma participação no desfile de “Veveta” quando, inesperadamente, resolveu dar um alerta: “Todos atentos, porque nós entramos em apocalipse. O arrebatamento tem tudo para acontecer entre 5 e 10 anos”.
“Não vou deixar acontecer, porque não tem apocalipse quando a gente maceta ele”, respondeu a dona do trio elétrico, fazendo uma referência à música ‘Macetando’, sua aposta para o Carnaval deste ano.
No mundo “secular”, a reação de Ivete foi considerada bem-humorada e elegante. Já os evangélicos se horrorizaram com o fato de alguém ignorar uma mensagem de Deus e, ainda por cima, acreditar que é possível macetar o arrebatamento.
Ivete também teve de enfrentar vários contratempos de ordem técnica durante o Carnaval (entre eles a explosão de um tubo de gás carbônico em seu trio, que deixou duas pessoas feridas) e chegou a chorar durante um dos desfiles.
Mas, no fim das contas, saiu por cima. ‘Macetando’, seu primeiro hit em anos, chegou ao topo do ranking brasileiro de streamings, um feito inédito para a axé music.
Também foi notícia:
Ziriguidum falhou – A polícia prendeu o vocalista da banda Ziriguidum instantes antes de ele subir no palco em Minas Gerais. O motivo: o artista deve pensão alimentícia e tinha um mandado de prisão em aberto no Estado.
Imperdoável – O cantor baiano Igor Kannário (que também já foi vereador e deputado federal) teve de fugir do público em Barra dos Coqueiros (SE) após iniciar um show com atraso e encerrá-lo antes do previsto. Acabou levando uns tabefes dos foliões indignados até conseguir se proteger.
Salvador tem salvação? – Dois integrantes do grupo de pagode Revelação foram assaltados e tiveram todos os seus pertences roubados em Salvador. Um deles tentou reagir e foi esfaqueado.
Cada um no seu quadrado – E a Deborah Secco não deu muita bola para o marido.
PIPOCA
O brasileiro anônimo perdeu o freio na folia de Momo. Desde sexta-feira, episódios de violência, roubos, superlotação, tumulto, atendimentos médicos e acidentes eram registrados a todo momento pela imprensa e o cidadão comum munido de câmeras. Mesmo cidades sem tradição carnavalesca, como Curitiba, tiveram situações de confusão.
Também foi notícia:
Vaca profana – Uma vaca invadiu um desfile no Rio Grande do Norte e causou pânico generalizado.
"Aqui é RJ" – No Rio de Janeiro, membros de uma facção criminosa festejaram de fuzil na mão.
Strike – Um homem foi derrubado por outro enquanto urinava na rua, em Sergipe, e caiu de uma escadaria.
Relato – Depois ele mesmo contou como tudo aconteceu.
Que nojo! – Ainda no campo da escatologia, uma mulher revoltou a internet após urinar no carro de um motorista de aplicativo (e achar isso engraçado).
Espaço gourmet – Funcionários de um camarote da Marques de Sapucaí guardavam e preparavam alimentos no banheiro.
Retrato do subdesenvolvimento – No Pará, uma multidão ensandecida se atirou no esgoto, pensando que se tratava de um manguezal.
A culpa é da mãe – Uma mulher mostrou os seios e esguichou leite materno em policiais durante uma abordagem no Paraná.
Hora do rango – Mas nada melhor do um “coxibúrguer” de 2 kg para reestabelecer as energias e deixar o brasileiro pronto para o próximo feriadão.