O nível de investimento brasileiro é inferior ao de economias desenvolvidas, nas quais a necessidade de investimento é menor| Foto: Antônio MoreGazeta do Povo

O Brasil está escolhendo sacrificar o seu futuro. A maior prova desse comportamento é a baixa taxa de investimento: 15,6% do PIB, segundo anúncio feito na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. É o pior resultado desde 1996 e não há expectativas de que melhore, pelo menos, no curto prazo. “Se não se investe, não se colhe o futuro”, diz Ricardo dela Santina Torres, gestor internacional de fundos baseado em Luxemburgo. 

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É uma situação extremamente complicada. O nível de investimento brasileiro é inferior ao de economias desenvolvidas, nas quais a necessidade de investimento é menor. Projeções feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para uma taxa de 20,6% na zona do Euro. 

E se a comparação for feita com as economias emergentes, o Brasil não é visto nem no retrovisor. A média de investimento desse grupo é de 32% do PIB. Mesmo países como o Afeganistão, que vive em meio a conflitos internos, investe, proporcionalmente, mais do que o Brasil. A estimativa do FMI é de 17,9% no ano passado.

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Brasileiro pensa muito no curto prazo 

Um dos fatores que contribui para esse baixo investimento é cultural. “O brasileiro pensa muito no curto prazo”, destaca Fernando Botelho, professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP). Ele lembra que a grande maioria das famílias brasileiras não tem a cultura de guardar dinheiro para o futuro. 

A visão do professor da USP é complementada por Torres. Ele ressalta que o brasileiro é extremamente criativo, mas enfrenta dificuldades quando o assunto é disciplina e organização. Um dos maiores pecados é em relação ao planejamento, principalmente na esfera pública: no longo prazo, os planos não são concluídos por questões eleitorais. 

Segundo o gestor de fundos, os planos precisam ultrapassar os governos. 

“É preciso separar o planejamento da política momentânea. Os planos precisam funcionar como uma espinha dorsal”. 

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O pensamento focado no curto prazo pode ser nocivo no longo prazo. É o que destacam os professores Daron Acemoglu (MIT) e James Robinson (Harvard) no livro “Por que as nações fracassam” (Editora Campus): “As nações fracassam hoje porque suas instituições econômicas extrativistas são incapazes de engendrar os incentivos necessários para que as pessoas poupem, invistam e inovem e suas contrapartes políticas lhe dão suporte à medida que consolidam o poder dos beneficiários do extrativismo. As instituições e políticas extrativistas, ainda que seus pormenores variem sob diversas circunstâncias, encontram-se na origem do fracasso”. 

Sem expectativas de mudança 

Não há expectativas, no curto prazo, de que esse cenário de baixo investimento vá mudar. Os entraves para o aumento do investimento estão tanto no setor público quanto no privado, destaca Fernando Botelho, da FEA/USP. “Há pouco espaço para crescer.” 

Do lado público, o orçamento para investimentos está comprometido. A estimativa do Banco Central é de que no ano passado tenha sido de 2% do PIB, o menor nível em 22 anos. 

Segundo Botelho, sem uma solução para a questão previdenciária, não haverá margem de manobra para a aplicação de recursos em saúde, educação e infraestrutura. “Essa reforma é fundamental para o futuro do País”, salienta. 

No setor privado, a dificuldade para a realização de novos investimentos está na baixa utilização da capacidade instalada das empresas. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que, em janeiro, ela era de 78,1%, o maior percentual desde julho de 2015, mas aquém da média histórica que é de 81,2%. 

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Outro complicador foi a realização de investimentos mal dimensionados por parte das empresas. Ele destaca que se o PIB não tivesse recuado quase 8% entre 2015 e 2016, o país estaria vivendo um novo apagão de energia. 

Necessidades de longo prazo 

Mas há uma luz no fim do túnel. Para o Brasil poder avançar e ter uma taxa de crescimento sustentável no futuro é necessário avançar em uma série de reformas microeconômicas, como questões relacionadas à infraestrutura, ao saneamento, à educação e à energia. 

O impacto delas contribuiria para reduzir o custo das empresas. “É um desafio para o próximo governo”, aponta Walter Franco Lopes, professor de Economia do Ibmec/SP.

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Outra reforma fundamental, na avaliação dele, é a previdenciária. Entretanto sua discussão está travada no Congresso por causa da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. A Constituição não autoriza a tramitação de emendas nesse cenário. “O principal papel da reforma seria abrir espaços para investimentos em áreas como a saúde, a educação e a segurança”, destaca o professor do Ibmec/SP. 

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Segundo Botelho, da USP, nos últimos anos, o Brasil fez o caminho contrário ao de outros países, como o Chile, que melhoraram as condições macro e microeconômicas. “É necessário ter regras mais simples, claras e que valham para todos.” Isto dificultaria a abertura de “balcões de negócios”, o que contribuiria para inibir a corrupção. 

Também é fundamental investir na infraestrutura. A alternativa do momento é a transferência para a iniciativa privada, devido à precariedade das contas públicas. Mas, para os investimentos se concretizarem, é necessário um arcabouço legal que não seja complexo e que não mude a toda hora. 

Se não forem tomadas estas medidas, o impacto poderá ser cruel para o Brasil. Os especialistas apontam que baixo investimento se traduz em baixo crescimento. 

“A ausência de investimento no hoje se reflete na pobreza do amanhã”, diz Ricardo Torres, gestor internacional de fundos. Sem reformas, em um prazo de 10 a 15 anos, a tendência é de que os problemas da economia e da sociedade brasileira se tornem ainda mais complexos.

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