A voz mais retumbante da extrema-direita parece estar pensando duas vezes sobre seu posicionamento.
Confrontado com um boicote de anunciantes e uma queda crescente em seu número de leitores, o site Breibart News anda freando alguns de seus membros mais extremos, em um possível esforço para ganhar respeitabilidade mais mainstream.
Não se veem mais: reportagens com chamadas de destaque incentivando o preconceito racial declarado, como, por exemplo, artigos sobre crimes cometidos por afro-americanos. Artigos como “Cinco Fatos Devastadores sobre a Criminalidade de Negros contra Negros” e “Criminalidade de Negros contra Negros: Coloque a Culpa no Sistema e Ignore as Evidências” praticamente sumiram do site.
Não é mais vista: a repórter Katie McHugh, despedida do Breitbart na segunda-feira por ter tuitado, depois do ataque terrorista mais recente em Londres, que “não haveria ataques terroristas no Reino Unido se não houvesse muçulmanos vivendo lá”. Quando um americano de origem iraniana, o ator Pej Vahdat, a chamou de “idiota de verdade”, McHugh foi ainda mais cáustica, tuitando em resposta: “Você é indiano”, antes de deletar o tuite.
Foi-se há muito tempo: Milo Yiannopoulos, no passado o maior astro do Breitbart, alguém que atraía acusações de que o site promovia misoginia, etno-nacionalismo branco e o vilipêndio de imigrantes. Yiannopoulos foi obrigado a deixar o site em fevereiro, em meio à exposição de vídeos em que falava de pedofilia em tom favorável.
Adiados: os panos do Breitbart, divulgados havia muito tempo, de se expandir para a França e a Alemanha. No ano passado a empresa divulgou planos de expansão para a Europa, mas até agora ela tem pouco de concreto a mostrar nesse sentido.
No ano passado o Breitbart subiu no bonde da campanha presidencial de Donald Trump e auferiu um aumento enorme de leitores e atenção da mídia. Seu ex-presidente, Stephen K. Bannon, que declarou o Breitbart “a plataforma da direita alternativa”, virou diretor da campanha de Trump e, mais tarde, seu estrategista chefe na Casa Branca.
Mas o período pós-eleitoral não vem sendo bom para o Breitbart.
O tráfego de visitantes ao site caiu 53% desde novembro, passando de 22,96 milhões de indivíduos para 10,76 milhões no mês passado, segundo a ComScore, que monitora tendências na web. Outros sites de jornalismo também perderam eleitores desde a eleição – o “Washington Post” e o “New York Times” tiveram quedas de 24% e 26%, respectivamente, nesse período --, mas o Breitbart perdeu duas vezes mais leitores que a grande imprensa.
Boicote
Ao mesmo tempo, uma lista organizada pelo grupo anônimo online Sleeping Giants (Gigantes Adormecidos) de anunciantes que estão boicotando o Breitbart parece estar surtindo efeito grande. Apenas 26 empresas publicaram anúncios no Breitbart no mês passado, contra 242 em março, segundo o site Digiday, que divulga notícias de marketing. Os anunciantes remanescentes seriam principalmente firmas menores de resposta direta, embora a Amazon.com continue a anunciar no Breitbart, resistindo às pressões de seus funcionários para que corte laços com o site de direita (o executivo-chefe da Amazon é Jeffrey P. Bezos, dono do “Washington Post”).
As perdas de leitores e anunciantes podem estar impondo uma passagem para um Breitbart mais gentil e leniente, diz Will Sommer, que monitora a mídia conservadora em seu boletim informativo Right Richter.
“O Breitbart nunca sofreu pressão mais intensa do que agora, procurando se fixar como o maior veículo da direita, ao mesmo tempo em que um boicote liberal ameaça lhe custar centenas de anunciantes”, escreveu Sommer.
“Agora, portanto, qualquer profissional do site que prejudicar o esforço deste para conquistar respeitabilidade (e anunciantes) pode prever que será demitido.”
Segundo Sommer, alguns anos atrás teria sido difícil imaginar o Breitbart demitindo McHugh pelos tuites que ela publicou.
O site se negou a comentar a demissão da jornalista ou a falar de sua direção editorial. Mas disse em comunicado:
“O ataque coordenado ao Breitbart faz parte de um esforço maior da esquerda para atacar a mídia conservadora, afixando rótulos pejorativos e injustificados a qualquer voz que ameace sua agenda ideológica. O Breitbart é o maior site conservador e pró-família da América.”
O site disse que o número de hits que recebe aumentou 59% desde o ano passado e que hoje figura no 60º lugar entre os sites na internet baseados nos EUA, segundo a firma de rastreamento na web Alexa. “É essa a razão da histeria liberal”, diz o comunicado.
“No ano passado o Breitbart lançou milhões de trocas de ideia sobre valores populistas, e hoje muitos desses valores estão sendo adotados como políticas públicas nos Estados Unidos.”
Por outro lado, a demissão de McHugh deixou claros alguns dos riscos enfrentados por um site que atraiu algumas das figuras mais extremas da direita alternativa. “Direita alternativa” (“alt-right”) é um termo pouco definido que pode dizer respeito a posições antiglobalistas e antiestablishment, mas também se refere a um movimento de extrema direita cujos seguidores têm posições racistas, antissemitas e sexistas e que desejam um Estado reservado para brancos.
Críticas à direita
A demissão da jornalista levou figuras da mídia “alt-right” como Mike Cernovich a criticar o Breitbart. Cernovich lançou tuites em apoio ao esforço de McHugh de levantar fundos online para custear despesas médicas e disse que “o Breitbart demitiu uma jornalista para apaziguar a mídia que publica falsas notícias”. Outros, enfurecidos com a demissão, tacharam o Breitbart de “cuck” (“corno”), termo pejorativo usado pela direita alternativa para designar quem trai sua posição. A conservadora incendiária Ann Coulter, colunista do Breitbart, se negou a cuspir no prato em que comeu, tuitando apenas que “seja qual for a razão por que foi demitida, Katie McHugh é uma grande jornalista”.
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Em fevereiro o Breitbart revelou que é controlado em parte por um investidor bilionário, o doador político conservador Robert Mercer, de modo que o impacto econômico de um boicote prolongado de anunciantes dificilmente será debilitador. O site também conta com as vendas de produtos com a grife Breitbart, como camisetas e uma caneca de café com seu logotipo e a palavra “covfefe”, alusão a uma gafe recente do presidente Donald Trump no Twitter.
Credencial
O Breitbart vem travando uma batalha em outra frente, na qual até agora vem perdendo, para conquistar um pouco de prestígio em Washington: uma credencial de imprensa para cobrir o Congresso.
Seu pedido de credencial permanente vem sendo rejeitado seguidamente pelo comitê de jornalistas que há anos é o responsável por determinar quem tem direito ao credenciamento oficial.
A rejeição oficial por parte do comitê não guarda relação com o viés editorial do Breitbart. O que o comitê quer é assegurar que o site esteja livre de conflitos de interesse, em especial sua relação com Stephen Bannon e o fato de ser co-proprietário e líder editorial de uma organização co-fundada por Bannon na Flórida, o Government Accountability Institute.
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O comitê também expressou preocupação com o fato de uma figura política egípcia, o empresário Moustafa el-Gindy, ter alugado um imóvel no Capitólio ao Breitbart para ser sede do site em Washington, por um valor abaixo do mercado em troca de cobertura favorável por parte do site.
Na segunda-feira (05) o advogado Laurence Levy, da firma Greenberg Traurig, notificou o comitê de credenciais que o Breitbart o contratou para defender sua causa. O Breitbart, escreveu Levy, “tem direito a um credenciamento permanente e vai continuar a buscar o credenciamento permanente”.
Na semana passada o departamento de ética da Casa Branca autorizou Stephen Bannon a comunicar-se com editores e repórteres do Breitbart, rejeitando uma queixa apresentada pela entidade liberal de Washington Cidadãos pela Responsabilidade e a Ética. Segundo o “New York Times”, a autorização não era datada, levando a suspeitas de que isso teria feito para que tivesse efeito retroativo irregular, de modo a perdoar Bannon por contatos anteriores proibidos.
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