Joel Edgerton e Will Smith em cena de ‘Bright’| Foto: Matt Kennedy/Netflix

Com frequência, dois críticos produzem três opiniões diferentes. Mas seria difícil encontrar opiniões tão divergentes quando as sobre o filme "Bright", lançado no fim de dezembro. 

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"Fantástico. Ambicioso e espantosamente executado… brilhante", publicou a revista Variety

"Algumas coisas são chatas, algumas são ruins. Depois disso vem 'Bright', um filme tão ruim que os Republicanos vão tentar proibir em uma votação entre Natal e Ano Novo", afirmou o site Indiewire

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Essas resenhas foram publicadas por duas publicações respeitadas do meio cinematográfico. E resumem bem o quanto a indústria do entretenimento está lidando com "Bright" e o que o filme representa. 

Dirigido por David Ayer, "Bright" é um genuíno lançamento de Hollywood com grande orçamento. O filme tem um gancho brilhante – um drama policial e um universo paralelo sobrenatural –, é protagonizado por Will Smith e custou entre US$ 90 milhões e US$ 130 milhões para ser produzido, dependendo da fonte. 

Ayer é uma figura que sempre dividiu opiniões: ele dirigiu o drama policial "Marcados para Morrer" e a aventura de super-heróis "Esquadrão Suicida". Mas a questão mais polêmica sobre "Bright" é a empresa que produziu o filme – Netflix. 

O pretensioso estúdio pagou mais de US$ 3 milhões apenas pelo roteiro do filme, assinado por Max Landis, e decidiu fazer de "Bright" uma parte de seus esforços para entrar no mundo cinematográfico. 

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E esses esforços não são fracos. Você pode até ter a sensação que o Netflix é o espaço das séries, com programas como "House of Cards" e "Stranger Things", mas a empresa quer na realidade dominar a indústria cinematográfica também. Por isso contrataram o produtor e antigo funcionário da Universal, Scott Stuber, que pode chegar a fazer entre 50 e 60 filmes por ano (número maior que a média de produção de Hollywood) com orçamentos folgados (o tipo de dinheiro que só se gasta nos estúdios tradicionais quando há um personagem da Marvel envolvido no filme). 

A Netflix já gastou bastante com outros filmes antes, como "War Machine", de Brad Pitt, ou "Okja", de Bong Joon-Ho (que tiveram orçamentos maiores do que outros estúdios estavam dispostos a oferecer). Mas "Bright" chega a outro nível. Um nível muito mais alto e caro. 

Isso tudo apesar do fato de que ninguém vai ver o filme no cinema. Como todos os outros filmes da Netflix, "Bright" não segue o padrão tradicional de lançamento. Um filme de ação com Will Smith lançado no fim do ano normalmente apareceria em 3,5 mil salas de cinema, acompanhado de um grande marketing na televisão. "Bright" aparece na tela da sua casa por meio de um algoritmo. 

E é por isso que é tão significativo: a Netflix acredita que consegue justificar os altos custos do filme sem a exibição nos cinemas ou o padrão de marketing tradicional do meio. Não é necessário que os consumidores paguem US$ 15 de entrada do cinemas, segundo a Netflix. E mídias tradicionais de marketing, como propagandas no horário nobre da TV, certamente não são necessárias. Já que eles não querem levar as pessoas ao cinema, não precisam de nada disso – ao menos é esse o argumento que usam. 

"Os cinemas estão estrangulando a indústria do cinema", disse em uma entrevista recente o CEO da Netflix, Reed Hastings, chamando os donos do cinema de "oligopólio". 

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E quanto à metade do valor das vendas de entrada de cinema nos EUA, que vão direto para os estúdios? 

Considerando que o modelo de negócios do Netflix não é baseado nos lucros de filmes específicos mas na atração e retenção geral de assinantes, o lucro por filmes individuais é irrelevante para eles. 

E é importante enfatizar esse "eles". A maior parte dos estúdios de Hollywood ainda é cética quanto a esse modelo – fazer filmes sem se preocupar com o lucro se parece muito com a bolha da internet dos anos 90. E um filme que não é promovido desaparece: você precisa que a audiência descubra o filme onde ela está acostumada a descobrir filmes. 

"As pessoas que eu conheço não param de falar sobre 'Bright'", disse um produtor de cinema de alto escalão que não quis se identificar por estar falando sobre um concorrente. "Mas será que são só as pessoas do nosso meio? Ou as famílias do Meio Oeste falaram sobre o filme durante o Natal inteiro?". 

(Nesse sentido, as opiniões divergentes ajudam muito, porque fazem as pessoas falarem sobre o filme. E devo dizer: muitas das resenhas vão para o mesmo lado da resenha de Indiewire). 

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Se a Netflix está certa, eles conseguiram criar uma armadilha muito maior do que a anterior, deixando de fora os intermediários com os quais os lucros seriam compartilhados para poder colocar mais dinheiro na produção dos filmes. 

Ou, como apostam os outros estúdios, a companhia está simplesmente pagando mais do que deveria em filmes que não consegue bancar com orçamentos que outros estúdios nunca aceitariam? 

De certa forma, até mesmo as resenhas divergentes são um reflexo do jeito de fazer negócios da empresa, que é extremamente amigável com os produtores de conteúdo, interferindo muito menos no material que outros estúdios. Assim que conseguiu atrair figuras como Michod e Bong. Significa que um filme como "Bright" vai ter menos filtros, resultando em um material muito mais semelhante do que foi imaginado do que seria caso fosse de Hollywood. Um filme da Netflix é um negócio, mas também uma categoria criativa. 

Mas não é fácil mensurar o sucesso (ou não). Como não existe a venda dos cinemas, é impossível saber quantas pessoas viram o filme. Os únicos que sabem são a própria Netflix, e ela não conta para ninguém, nem para quem fez o filme. "Bright" será visto por um milhão ou dez milhões de pessoas? E quantas delas vão se inscrever ou permanecer inscritos no Netflix por causa do filme e do grupo do qual faz parte? 

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Ninguém sabe. Assim que é a Netflix. O resto de Hollywood fica confuso, certo de que esse não é um modelo de negócio viável – ao mesmo tempo que tem medo que seja.

Tradução de Gisele Eberspächer