O mais estranho é que só conheci C.S. Lewis como pessoa e escritor no meu primeiro ano de faculdade. Escrevi “estranho” por dois motivos. Primeiro, Lewis jamais me abandonou desde 1988. Ele é o eterno preferido desde então. Depois, é estranho pensar que eu gostava tanto de Tolkien (desde 1977), mas não tinha feito a conexão com Lewis. Mas, pensando na minha vida, vejo que Lewis se tornou um amigo e companheiro constante para mim. Claro que jamais saberei o que ele teria pensado de mim. Também jamais saberei o que é ter lido Nárnia na infância (exceto pelas reações dos meus filhos – que foram ótimas). Ainda assim, Lewis continua sendo um amigo, ainda que eu tenha nascido quatro anos depois de sua morte.
Admitamos, já no início deste texto, que Lewis tinha uma personalidade imensa, aquele tipo de personalidade que afetava não apenas as pessoas ao redor dele, mas também o que vieram depois dele. A melhor palavra para isso é “carisma”, mas era um carisma imenso, daqueles que poucas pessoas na história tinham. Deve ter sido incrível para aqueles próximos dele, para o bem e para o mal. Sabemos, claro, que ele criava comunidades aonde quer que fosse. Seus amigos eram profundamente leais a ele, e seus inimigos o desprezavam.
Mas isso ainda não explica como uma personalidade assim se manifestava e por que ela se manifestava. Sabemos, porém, que ela se manifestava. Mas era algo que ia além das palavras; era algo maior do que sou capaz de descrever. Mas é isso: Lewis era dono de uma personalidade imensa.
Então o que podemos falar de definitivo sobre a personalidade de Lewis?
Primeiro, temos de que reconhecer que, como já mencionado, Lewis criava comunidades aonde quer que fosse e falasse. Em resumo, ele simplesmente atraía as pessoas. O melhor e mais famoso exemplo, claro, são os Inklings, grupo de que faziam parte J.R.R. Tolkien, Owen Barfield, Charles Williams e Lord David Cecil. Mas havia outros grupos, como os famosos Oxford Socratic Club e Dante Society. Sem exagero, pode-se dizer que os clubes seguiam Lewis para onde quer que ele fosse, e ele também os criava e liderava.
Depois, vale um alerta. Os estudantes não tinham Lewis em alta conta, como seria de se esperar deles. Os estudantes, obviamente, lotavam as palestras dele, mas somente uns poucos se apaixonavam por seus ensinamentos. Muitos achavam que ele era cheio de si demais para lecionar. Em suas memórias, por exemplo, Anthony Curtis, o editor de literatura do Financial Times, dizia que Lewis olhava pela janela da faculdade, avistava um cervo selvagem (na verdade, domado) e afirmava assustadoramente: “Um cervo tem apenas dois conceitos (...) o conceito do alimento, quando se aproxima, e o conceito do perigo, quando se afasta. O que me interessa é como um cervo reagiria à ideia de veneno (...) que é ao mesmo tempo alimento e perigo”. Além disso, Lewis fazia os estudantes se sentirem tolos. “Depois de uma hora na companhia de Lewis eu sempre me sentia um total ignorante”, lembra-se Curtis. Tolkien, por sua vez, fazia com que todos se sentissem mais inteligentes e inspirados.
Também se deve notar que Lewis fez vários inimigos ao longo da vida, como já tive a oportunidade de mencionar em textos aqui no Imaginative Conservative. De certa forma, porém, isso apenas revela a grandeza de seu carisma, já que sua personalidade não gerava apenas atração, mas também repulsa. Personalidades públicas, como Ayn Rand, repugnavam quem ele era o que ele defendia.
Um último alerta que eu faria é o de que muitos livros de Lewis são fascinantes — como Milagres e O Problema do Sofrimento — não apenas pelo assunto, mas também porque Lewis optou por escrever sobre esses temas específicos. Sua personalidade brilha tanto que não dá para deixar de considerar fascinantes até mesmo seus livros mais densos, uma vez que todos são de certa forma autobiográficos. Como na sua autobiografia, Lewis considera um problema interessante, pensa nele com uma atenção aparentemente à toa e então se põe a investigá-lo e, quando possível, dá a solução para o problema apresentado.
Em geral, Lewis, sobretudo em suas obras teológicas, “redescobre” o que já foi explorado na obra de Santo Agostinho ou São Tomás de Aquino, mas sempre com um fascinante toque autobiográfico. Sim, Lewis foi o maior apologista cristão do século XX. Não por sua originalidade, mas por causa da originalidade com que ele apresentava ensinamentos ortodoxos.
Em terceiro lugar, sempre que Lewis escrevia ou falava, ele oferece uma sabedoria que parecia precisa, incisiva e ao mesmo tempo eterna. Basta pegar um romance, palestra, livro ou carta escrito por Lewis para ver que o que soaria contraditório em outros escritores se torna belo e precioso nas mãos dele (e em sua alma e mente). Abrindo o seu Cartas a uma Senhora Americana aleatoriamente, eu o encontrando citando Santo Agostino e explicando: “Um homem cujas mãos estão cheias de tranqueiras não é capaz de receber um presente. Talvez essas tranqueiras não sejam sempre pecados ou coisas mundanas, mas às vezes são nossas tentativas desastradas de adorá-Lo como nos convém. Por acaso, o que costuma interromper minhas orações não são distrações grandes, e sim pequenas — aquilo que tenho de fazer ou deixar de falar pela hora seguinte”.
Aqui temos o melhor de Lewis: esperto, inteligente, relevante, autobiográfico, autorreferente, cheio de entusiasmo e gracioso. Sua personalidade transborda lealdade e brilhantismo, mas isso não afeta demasiadamente o leitor. Na verdade, isso desperta o melhor do leitor.
Bradley J. Birzer é cofundador e colaborador do Imaginative Conservative.