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A imagem típica do imperador romano é a de um déspota alucinado, entorpecido pelo poder absoluto a ponto de nunca imaginar o fim violento que porá um fim a seu reinado. Essa imagem talvez tenha sido esculpida em mármore em nosso imaginário especialmente por Calígula e Nero, retratados desde a Antiguidade como completos lunáticos, sádicos e desprovidos de qualquer escrúpulo ou resquício de sanidade.
Nem tão recentemente assim, Hollywood acrescentou mais um louco ao panteão dos (mais) malucos, ao colocar Cômodo, o filho do imperador-filósofo Marco Aurélio, como o grande vilão da superprodução “Gladiador”, dirigida por Ridley Scott. Mas será que esses dois imperadores mereceram a fama que tiveram?
O grande problema é que simplesmente não temos como saber. Não só não dispomos de relatos contemporâneos sobre as vidas e reinados deles como muitas vezes o que temos foi escrito décadas ou até séculos mais tarde, por autores que tinham algum tipo de interesse por trás do que escreviam ou que alimentavam algum tipo de predisposição política ou ideológica contra esses imperadores.
As três principais fontes que temos para os imperadores da dinastia júlio-claudiana são Suetônio, Tácito e Dião Cássio. Todos os três não só viveram no mínimo meio século mais tarde como pertenciam à classe dos patrícios, que alimentava um profundo ressentimento em relação à instituição do Império, já que o fim da República tirou dos aristocratas o poder sobre os destinos de Roma.
As poucas vozes que nos chegam de quem conviveu com eles, como por exemplo a do grande filósofo e escritor Sêneca, não servem para deixar as coisas mais claras. Sêneca descreveu o que chamava de “ambição” e “megalomania” de Calígula como “insanas”. As mesmas palavras que ele utilizou, por exemplo, para descrever Alexandre, o Grande.
O que não muda o fato, claro, de que a maioria dos imperadores romanos deve realmente ter sido louco de pedra. Pelo menos para nossos padrões atuais. A quantidade imensurável de poder depositada sobre os ombros de um único indivíduo definitivamente não devia ser algo saudável para a mente de um ser humano.
Diante disso, o político e pacifista alemão Ludwig Quidde, profundo crítico do kaiser Wilhelm II, cunhou o termo “loucura imperial”, que apareceu pela primeira vez num panfleto lançado em 1894, chamado “Calígula: um estudo sobre a loucura imperial romana”. Nele, Quidde fazia um paralelo entre a loucura que julgava ter acometido o jovem imperador romano e o monarca alemão de sua época, uma espécie de insânia gerada pela grandeza, provavelmente advinda de defeitos genéticos oriundos de relações incestuosas, aliados a uma ideia delirante de que a virtude dos ancestrais teria sido automaticamente herdada por eles.
“Botinha”
Comecemos, cronologicamente, por Calígula, alguém que, independente de quaisquer fatores orgânicos ou genéticos, tinha tudo para se tornar um completo maluco pelo que ocorreu na primeira fase de sua vida.
Nascido Caio Júlio César Germânico, em 12 d.C., ele era filho de Germânico, um dos políticos e generais mais populares do império. Germânico era assim chamado justamente por suas bem-sucedidas campanhas militares contra as tribos germânicas nas fronteiras do império. Foi ali que o jovem Caio passou sua infância, em alojamentos militares às margens do Reno, onde acabou recebendo dos soldados o apelido de Caligula (“botinha”) – algo que passou o resto da vida odiando.
Depois que o imperador Augusto morreu sem deixar herdeiros diretos, quem assumiu o trono foi seu afilhado, Tibério (outro que não deixou uma boa reputação – e não só por ter sido o “César” durante a morte de Cristo). Ainda durante a infância de Calígula, Tibério, enciumado com a popularidade de Germânico, conseguiu fazer com que ele morresse de “causas naturais”, deixando assim o caminho aberto para o próprio filho sucedê-lo como imperador.
Foi nessa mesma época que Tibério se cansou da vida pública e se retirou para uma mansão no topo de uma montanha em Capri, onde se entregou aos prazeres mundanos. Dizia-se que ele passava os dias nadando nu numa piscina em meio a jovens escravos de ambos os sexos, que ele chamava de “meus peixinhos”.
Tibério só não podia prever que seu próprio braço-direito, Sejano, o todo-poderoso chefe da Guarda Pretoriana, acabaria por matar seu filho e sucessor. Vendo-se sem herdeiro, ele então conspirou para eliminar os filhos mais velhos de Germânico. O primeiro, chamado Nero, foi exilado depois de acusações de “homossexualidade”; Druso, assim como o pai, morreu de “causas naturais”.
Já o filho mais novo, Calígula, depois de ver sua família dizimada por Tibério, foi obrigado a se mudar com ele para o palácio de Capri, onde passou sua juventude em meio aos “peixinhos”. Quando Tibério morreu, no entanto, Sejano já tinha caído em desgraça e foi substituído por outro chefe da Guarda Pretoriana, Macro, que ajudou Calígula a subir ao trono.
Apesar de tudo que tinha passado, Calígula se revelou no começo um líder extremamente centrado e popular. Herdeiro direto de Augusto e Germânico, aos 24 anos ele entrou triunfante em Roma em março de 37 d.C., saudado pela multidão como “nosso bebê” e “nossa estrela”. Calígula rapidamente tornou-se um dos políticos mais populares da história de Roma, revertendo uma série de medidas impopulares de Tibério, abolindo impostos e dando ao povo dias e dias de espetáculos luxuosos nos circos, incluindo combates entre animais exóticos e gladiadores.
Transformação
Calígula tinha todo um futuro brilhante pela frente, mas não contava com uma doença que o deixaria de cama no fim daquele ano. Muitos dizem que ele foi envenenado. Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas o que se diz é que ele saiu de seu leito uma pessoa totalmente transformada. Ele começou por executar quaisquer pessoas que pudessem oferecer algum risco à sua permanência no poder, entre elas diversos parentes. Alguns dizem que o contato com a mortalidade fez com que Calígula percebesse a fragilidade de sua posição.
Foi nessa época que se alguns dos boatos mais famosos a seu respeito teriam ocorrido. Totalmente paranoico, Calígula passou a humilhar publicamente os senadores, tratando-os com desdém e encorajando-os a trair uns aos outros em troca de benefícios financeiros. Depois de afastar dois cônsules por se esquecerem de seu aniversário, ameaçou nomear seu cavalo Incitatus para o cargo e mudar a capital do império para Alexandria.
É neste ponto que surgem dúvidas a respeito das intenções reais de Calígula. Talvez tudo tenha sido apenas uma bravata populista contra o que ele via como uma instituição já anacrônica, que servia apenas para dar um verniz republicano ao que não passava de um Estado obviamente absolutista. Muitos autores falam do senso de humor cruel de Calígula, e é difícil imaginar que um jovem de 24 anos naquela posição não fizesse uso disso para se autoafirmar e mostrar a todos aqueles velhos togados quem é que estava mandando agora.
É quando surgem acusações mais sérias de torturas e execuções, até mesmo contra cidadãos romanos, algo considerado tabu. Calígula teria passado a exigir que fosse tratado como um deus e, segundo indicam escavações recentes no Fórum Romano, expandiu seu palácio para que ele incorporasse um templo antiquíssimo e sagrado da cidade de Roma, o de Cástor e Pólux. A partir daí, as excentricidades se acumulam: Calígula teria passado a beber pérolas dissolvidas em vinagre e só comia alimentos cobertos por ouro. Uma parte de seu palácio teria sido transformada num bordel, onde ele forçava homens e mulheres da alta sociedade a venderem seus corpos.
A loucura de Calígula não tinha limites. Senadores que queriam uma audiência com ele eram obrigados a correr ao lado de sua carruagem. Ao se incomodar com o barulho do povo que se aglomerava para conseguir ingressos para o Circo Máximo durante a noite, Calígula enviou guardas para dispersar a multidão. Antes dos espetáculos teatrais, ele distribuía para a população mais pobre ingressos para os assentos reservados à classe dos equites, os “cavaleiros”. Durante lutas de gladiadores, esperava o momento em que o sol estava mais forte e mandava remover a lona que cobria a plateia, deixando todos sofrendo com o calor. Ou então colocava gladiadores velhos e mancos lutando contra feras decrépitas.
Não acabou. Calígula forçava pais de condenados a assistirem à execução dos filhos, enviando liteiras para trazer os doentes e chegando a convidá-los para um banquete. Ele também teria mandado incendiar vivo um autor de comédia por causa de uma frase de duplo sentido e, quando um cavaleiro romano de nobre reputação se fez ouvir ao ser condenado à morte, Calígula fez com que sua língua fosse cortada e costurada de volta. Diz-se que, durante um espetáculo em que não havia mais prisioneiros para serem jogados às feras, ele ordenou que toda uma seção da plateia fosse jogada na arena.
Tentando emular o pai, Calígula liderou uma expedição à Germânia que não rendeu nada em termos práticos. Depois ele deu sequência à invasão (fracassada) da Britânia, planejada desde os tempos de Júlio César. No outro lado do Império Romano, Calígula ofendeu os judeus ao erguer uma estátua de si próprio no Templo de Jerusalém.
Em 41 d.C., a Guarda Pretoriana, sempre tão presente em sua vida, acabou por assassinar Calígula, juntamente com sua esposa e sua filha. Aos 29 anos de idade, a morte do jovem imperador foi bastante lamentada pelo povo romano, cujas condições de vida tinha melhorado durante seu governo. A morte dele, contudo, foi comemorada por toda a classe política romana.
Louco, mas popular
Estudiosos levantam algumas dúvidas sobre estes relatos das atrocidades de Calígula. A começar por relatos de incesto com as irmãs. Não há qualquer menção a isso nos poucos relatos contemporâneos que nos restaram. Seguramente uma relação incestuosa teria causado escândalo nas classes altas romanas – o que indica que se trata de uma invenção. Outro exemplo seria uma conspiração ocorrida contra ele em 39 d.C., mas que foi sumariamente ignorada pelos historiadores em que costumamos nos basear para citar as atrocidades de Calígula.
Muitos historiadores modernos também questionam até que ponto uma pessoa tão insana teria conseguido permanecer por quatro anos no poder. No caso de Calígula, vale notar que, ao mesmo tempo em que existem relatos de suas barbaridades com o povo, existem tantos outros narrando a empolgação com que ele era recebido aonde quer que fosse e sempre que entrava nos teatros e circos. Para muitos, seria impossível algum tipo de revolta popular diante de alguma pessoa que violasse de maneira tão acintosa os preceitos mais básicos da conduta e da civilização romana.
De qualquer forma, Calígula foi morto, esfaqueado por seus próprios guarda-costas dentro de um corredor sob o Monte Palatino. Depois de sua morte, a Guarda Pretoriana precisava achar um substituto, e o acharam: escondido dentro de um armário, tremendo de medo. Seu tio, Cláudio, gago e manco – e um dos maiores imperadores que Roma já teve.
Uma das maiores acusações contra Calígula foi a de “irresponsabilidade fiscal”. Ele teria feito gastos imensos e impensados para agradar o povo, cortando impostos e realizando espetáculos circenses. Mas os primeiros anos do governo de Cláudio deram início a diversos projetos de construção de aquedutos, um porto novo em Óstia e a invasão – desta vez de fato – da Britânia. Tudo isso sem aumentar os impostos nem deixar de dar espetáculos de gladiadores para o povo. O que mostra que pelo menos alguma dose de responsabilidade fiscal o maluco do Calígula tinha – ou então ele conseguiu roubar o suficiente dos senadores.
O filho da dona Agripina
Em 37 d.C., enquanto Calígula começava a aprontar das suas, nascia o filho da sua irmã: Lúcio Domício Enobarbo. Aquele que hoje em dia conhecemos como Nero e veio a disputar com o tio o papel de imperador romano mais louco da história. Único descendente direto da linhagem de Augusto, Nero começou a ser preparado para assumir o trono pela mãe, Agripina. Aos 14 anos, Nero entrou na vida pública defendendo a isenção de impostos para uma comunidade italiana arrasada por um terremoto.
Quando Cláudio deu a entender que queria fazer de seu filho Britânico o herdeiro do trono, Agripina envenenou a criança. Muitas fontes dizem que o próprio Cláudio teria sido envenenado por ela. O fato é que, em 54 d.C., o imperador morreu e Nero assumiu o cobiçado trono de Roma. Agripina imediatamente ordenou que se cunhasse moedas com a efígie do filho ao lado da sua. Uma relação maternal saudável, como se vê, e desprovida de quaisquer segundas intenções.
Ainda assim, Nero teve uma criação extremamente sadia e centrada. Seu tutor foi ninguém menos que Sêneca. Além disso, Agripina contratou como protetor do filho um gaulês liberto chamado Burro, o novo chefe da Guarda Pretoriana. Em seu primeiro discurso no Senado, Nero falou sobre “eliminar todos os males do antigo regime” e prometeu seguir o modelo de Augusto na condução do principado, respeitando acima de tudo os privilégios do Senado e de cada um dos senadores.
Ao longo de cinco anos, Nero foi unanimemente considerado um governante exemplar. A pena capital foi revogada, espetáculos sangrentos nos circos foram banidos, impostos reduzidos e escravos receberam a permissão de entrar na justiça contra senhores que cometessem crimes. Ao contrário de seus antecessores, Nero até permitiu que escritores e satiristas o usassem como alvo de suas obras, além de ter sido um entusiasta das artes e dos esportes. A pedido do historiador Flávio Josefo, ele chegou até mesmo a ajudar cidades da Judeia que passavam por necessidades financeiras.
Mas a ambição de Agripina era tamanha que Nero não aguentou. Segundo Suetônio, para se proteger o jovem imperador tirou dela as honrarias, a proibiu de viver no palácio e, mais tarde, a expulsou de Roma. Ele também tentou matar a mãe não uma, nem duas, mas três vezes. Depois da terceira tentativa fracassada, Nero ordenou aos guardas que a prendessem e deu um punhal a um ex-escravo de confiança para que a matasse.
E, como disse Tácito, “nada que é mortal é tão instável ou inseguro quanto a fama de poder que não tem o apoio de sua própria força”. Muitos estudiosos e acadêmicos notam que, logo depois da morte da mãe, Nero perdeu o controle de sua vida. No mesmo ano de morte de Agripina, morreu Burro, supostamente envenenado a mando do próprio imperador. Por dois ou três anos, Sêneca produziu as melhores obras literárias de sua vida, mas, em 65 d.C., o tutor e filósofo estoico se viu envolvido numa acusação de conspiração que lhe rendeu um “convite” de Nero para cometer suicídio. Na melhor tradição romana, Sêneca teve um fim digno, que enfrentou com compostura.
Capaz de tudo
Uma das críticas feitas a Sêneca é que, neste meio-tempo entre a morte da controladora Agripina e seu suicídio forçado, o filósofo poderia ter “canalizado” a energia de Nero de maneira mais responsável. Mas a reação do povo às suas medidas demagógicas como a abolição de impostos ou a construção de obras grandiosas fez com que o ego de Nero se elevasse muito acima do que talvez lhe fosse realista permitir. Com o tempo, Nero passou a se ver como alguém capaz de fazer tudo, desde atuar em peças de teatro e tocar lira ao longo de toda uma noite até pilotar biga durante as tardes no circo. As extravagâncias de Nero acabaram violar as regras mais básicas do decoro que imperavam entre as classes sociais que governavam a sociedade romana da época.
Nero chegou a confessar a pessoas próximas seu sonho de abandonar o trono e dedicar-se exclusivamente a seus “dons” musicais e poéticos. Segundo Suetônio, ele chegou a disputar uma corrida sobre uma carruagem de dez cavalos durante uma competição em Olímpia. Depois de perder a disputa, Nero recebeu a coroa de vencedor e a aceitou sem qualquer pudor.
Mas o que antes parecia apenas delírios juvenis logo passou a revelar defeitos graves de caráter. Disfarçado de plebeu, por exemplo, Nero circulava pelas ruas de Roma, fazendo tudo que lhe dava vontade. Foi depois de uma dessas noites loucas, na qual invadiu uma loja para roubar produtos e revender no dia seguinte no mercado, que ele acabou preso pelos seguranças de um dos estabelecimentos e quase perdeu a visão ao ser espancado pelos capangas da mulher de um senador.
O famoso incêndio
Em 18 de julho de 64 d.C., ocorreu aquele que se tornou o fato mais notório do reinado e da vida de Nero: o grande incêndio de Roma. Talvez essa tenha sido a maior loucura dele, mas também aquela com a qual ele teve menos ligação.
Durante uma semana, de três a sete dos catorze distritos de Roma queimaram ininterruptamente, incluindo as partes mais nobres da cidade, como o Palatino. Suetônio e Dião Cássio dizem que Nero até cantou a “Illiupersis”, um antigo poema já perdido que narrava a queda de Troia, enquanto a cidade ardia. Mas, de acordo com Tácito, Nero, que nem estava na cidade quando o incêndio começou, organizou de seu próprio bolso um esforço coletivo de ajuda aos desabrigados. Nos meses seguintes, ele criou ainda uma legislação específica para os prédios da cidade, a fim de impedir que algo semelhante acontecesse novamente. Mas o estrago já estava feito.
Depois de se apropriar da área destruída pelo fogo no centro da cidade para criar um palácio gigantesco – a Domus Aurea, “Casa Dourada” – Nero se aproveitou da má fama do cristianismo na Roma da época e usou os cristãos como bodes expiatórios. Apesar disso, e ao contrário do que se pensa, Nero não jogou cristãos aos leões no Coliseu para puni-los pelo incêndio de Roma – até porque o Coliseu, que receberia esse nome devido à imensa estátua de Nero diante da Domus Aurea, só viria a ser construído décadas mais tarde.
A essa altura, Nero já estava completamente tomado pela loucura. Em 67, ele conheceu um jovem e, depois de castrá-lo, lhe deu um dote e se casou com ele. Em seguida, Nero partiu para os Jogos Olímpicos do mesmo ano, onde se exibiu como cantor. Mas nem suas piores extravagâncias pessoais foram capazes de superar o efeito terrível que o incêndio de Roma teve sobre a economia do império.
Depois de uma rebelião numa das Gálias, Nero ameaçou aplicar a pena de morte a qualquer patrício que representasse uma ameaça a ele. Diante disso, o governador da província vizinha da Hispânia, Sérvio Galba, resolveu não só apoiar a rebelião como se declarou imperador de Roma. Nero fugiu para o porto de Óstia e foi declarado inimigo público de Roma. Abandonado por todos, inclusive pela sua Guarda Pretoriana, só lhe restou pedir que alguém o matasse. Sem encontrar ninguém disposto a isso, Nero teria perguntado: “não tenho mais amigos nem inimigos?”.
Em sua fuga desesperada, no dia 9 de junho de 68 Nero disse suas últimas e famosas palavras: “Que artista morre comigo!”. E então cortou a própria garganta. Outras fontes dizem que o imperador, depois de se revelar incapaz do suicídio, teria pedido a seu secretário pessoal lhe conceder este último ato de misericórdia.
Com a morte de Nero, o império entraria no chamado “Ano dos Quatro Imperadores” e a dinastia iniciada com Augusto teria oficialmente seu fim. Roma só recuperaria sua estabilidade com Vespasiano. Em 68, pelo menos três “pseudo-Neros” apareceram: eram impostores que tentavam se passar pelo imperador recém-falecido na tentativa de ocupar o poder – numa demonstração de que Nero ainda gozava de popularidade entre os plebeus.
Durante muito tempo, o império conviveu com a lenda do “Nero redivivo”: a ideia de que ele apareceria, de lira e cítara nas mãos, conduzindo o exército de Pártia, para onde teria fugido.