Há dois tipos de pessoas no mundo: as que preferem G.K. Chesterton a C.S. Lewis e as que não têm preferência. Por mais contraintuitivo que pareça, essa generalização é logicamente verdadeira. Os que nunca ouviram falar dos escritores, os que não gostam de nenhum dos dois e os que não se importam não preferem Chesterton a Lewis. Portanto, eles estão no mesmo território dos que preferem Lewis a Chesterton.
Há, em termos lógicos, outro grupo que não prefere Chesterton a Lewis: o dos que gostam igualmente dos dois. Ainda que sem dúvida muitos dos que gostam de Chesterton também gostam de Lewis, e vice-versa, poucos gostam igualmente deles. Isso porque os dois escritores são muito diferentes quanto ao estilo de abordar a verdade, tanto que a maioria dos que os lê prefere um ao outro.
Os dois tinham muita afinidade. Lewis adorava ler Chesterton mesmo quando era ateu, dizendo que Chesterton tinha mais bom senso do que todos os escritores modernos juntos, exceto por seu cristianismo. Ironicamente, seria o cristianismo excepcional de Chesterton o responsável por converter Lewis. Lewis escreveu que foi a leitura de “O Homem Eterno”, de Chesterton, que permitiu que ele percebesse, pela primeira, o recorte cristão da história de uma forma que fizesse sentindo. Esse livro foi, confessou Lewis, um passo importante em sua aproximação de Cristo.
Quanto a Chesterton, ele parece nunca ter lido Lewis e nem ter sabido da existência dele. Lewis era um desconhecido quando da morte de Chesterton. Mas não resta muita dúvida de que Chesterton teria adorado a abordagem de Lewis e sobretudo como ele soube recontar histórias de fadas. É possível apenas imaginar o prazer que Chesterton sentiria ao ler “As Crônicas de Nárnia” e a trilogia Cósmica. É provável que os dois homens discordassem veementemente se Chesterton tivesse sobrevivido para ver a publicação dessas obras, mas também é provável que eles fossem amigos e cavalheiros num duelo semelhante ao que Chesterton retrata entre MacIan e Turnbull, os protagonistas católico e ateu do romance A Esfera e a Cruz. Mesmo discordando, ou talvez em essência discordando, Lewis e Chesterton teriam sido grandes amigos.
Depois de aceitar as semelhanças entre os dois grandes apologistas cristãos, por que aqueles que gostam dos dois escritores invariavelmente demonstram preferir um ao outro? A melhor resposta a essa pergunta é outra generalização: há dois tipos de pessoas no mundo. As que marcham e as que caminham. Lewis marcha, enquanto Chesterton caminha. Essa é a principal diferença entre os dois. Leitores que marcham preferem Lewis; leitores que gostam de caminhar preferem Chesterton.
Talvez seja necessário explicar. E um episódio da vida de Lewis vai ajudar.
Ainda que a fonte me escape (está ou nas cartas de Lewis ou nas memórias de George Sayer), Lewis e seu irmão Warnie saíram para andar com os amigos J.R.R. Tolkien e George Sayer. Os irmãos Lewis gostavam de marchar aceleradamente, cobrindo longas distâncias. Tolkien preferia tiros curtos, parando aqui e ali para olhar uma flor ou uma árvore. Os irmãos começaram a se sentir frustrados com a lentidão da caminhada e cada vez mais impacientes com as divagações de Tolkien. Eles saíram em disparada, deixando Tolkien e Sayer para trás, a fim de que eles se reencontrassem posteriormente num bar.
Essa diferença na forma de andar fica clara na diferença entre os estilos literários de Lewis e Chesterton. Lewis vai de A até B com rapidez, chegando direto ao ponto, e com precisão. Chesterton vagueia, desviando-se num pensamento ou raciocínio tangencial; ele se demora, admirando a paisagem vagarosamente e sem pressa de chegar ao seu destino. Chesterton escreve como Tolkien caminha, parando para olhar uma flor ou árvore ou para ver o reflexo das árvores num lago ou poça. E é por isso que os leitores de Chesterton e Lewis quase sempre têm um preferido, mesmo que gostem de ambos.
Os que leem da mesma forma que Lewis caminhava ficam impacientes com as digressões de Chesterton e sua incapacidade de chegar ao destino rapidamente. Esses “marchadores literários” preferem Lewis a Chesterton. Por outro lado, os que gostam de andar na companhia de um amigo sábio, se contentam em ir aonde ele queira, mesmo que seja para voltar um pouco, e não têm pressa, preferirão Chesterton a Lewis.
Neste sentido, Chesterton está mais perto de Tolkien, não apenas no estilo de caminhada, mas também no estilo de escrita. É provável, por exemplo, que aqueles que se impacientam com as divagações de Chesterton também se impacientem com o passo hesitante dos hobbits em sua viagem pela Terra Média.
Talvez o leitor deduza, a partir do que foi dito aqui, que este autor prefira Chesterton (e Tolkien) a Lewis.
Joseph Pearce é colaborador do Imaginative Conservative.
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