Em carta publicada pelo jornal Le Monde, cem mulheres, incluindo a reverenciada atriz francesa Catherine Deneuve, criticaram o movimento que está ganhando força a partir dos escândalos de assédio, o qual chamam de novo “puritanismo”, e declararam que os homens são livres para “dar em cima” das mulheres.
As autoras da carta lastimam a onda de “denúncias” que seguiu as acusações de estupro contra o famoso produtor de Hollywood Harvey Weinstein e falam que o movimento se tornou uma “caça às bruxas” que ameaça a liberdade sexual.
“Estupro é crime, mas o flerte insistente ou desajeitado não é um delito nem o galanteio uma agressão machista”, escreveram. “Homens têm sido punidos sumariamente, forçados e deixar seus trabalhos quando tudo o que fizeram foi tocar o joelho de alguém ou tentar roubar um beijo”, continua o texto. Além de Deneuve, a escritora Catherine Millet, autora do bestseller “A Vida Sexual de Catherine M.”, também é uma das signatárias.
A carta foi divulgada dois dias após várias atrizes vestirem preto na cerimônia do Globo de Ouro como forma de protesto contra a opressão e os casos de assédio sexual que abalaram Hollywood recentemente.
O documento critica campanhas de movimentos feministas, como a #meetoo (#eutambém no Brasil), que dominaram boa parte das discussões na mídia e nas redes sociais em 2017. Segundo as autoras, o que era para ser uma libertação para dar voz às mulheres acabou se tornando o contrário pelo excessivo cuidado em utilizar os termos corretos quando se fala sobre o assunto - o politicamente correto - e por considerar “cúmplices e traidoras” as mulheres que pensam de forma diferente.
“Os acidentes que podem tocar o corpo de uma mulher não atingem sua dignidade e não devem, por mais duros que às vezes sejam, necessariamente fazer dela uma vítima perpétua. Pois não somos reduzidas ao nosso corpo. Nossa liberdade interior é inviolável. E essa liberdade que nós prezamos não existe sem riscos nem sem responsabilidades”, conclui a carta, que foi traduzida para português pela jornalista Letícia González, idealizadora do Calma, site e canal do youtube voltado ao público feminino.
Brasil
Bem antes da #MeeToo, o Brasil também viu surgir campanhas de denúncia contra atos de abuso e assédio sexual, como a “Mexeu com uma, mexeu com todas”, sobre o caso de assédio envolvendo o ator José Mayer, e “Chega de Fiu Fiu”, criada pela ONG Think Olga para coibir o assédio sexual nos espaços públicos.
A jornalista e fundadora do Catarinas, portal de notícias especializado em gênero, Paula Guimarães, acredita na importância desses movimentos que denunciam a agressão às mulheres. “É uma forma legítima que as mulheres encontraram para se manifestar contra a violência e ao mesmo tempo fazer a sociedade pensar sobre os tratamentos machistas mais sutis que acabam estruturando atos mais violentos”, afirma, acrescentando que o fato de os homens se sentirem prejudicados ou vitimizados é algo menos importante no momento.
“Não considero que isso seja a principal questão sobre tudo isso que está acontecendo. É preciso mexer no caldo cultural do machismo para que homens comecem a reavaliar muitas de suas condutas. As mulheres sempre se sentiram prejudicadas”, conclui.
Entretanto o assunto está longe de ser consenso no Brasil. Após a publicação da carta das francesas, a escritora e colunista do Globo Danuza Leão fez coro às críticas ao movimento #MeeToo e aos protestos que ocorreram durante o Globo de Ouro. “Espero que essa moda de denúncia contra assédio sexual não chegue ao Brasil. O que aconteceu no Globo de Ouro me pareceu um grande funeral. Apesar dos vestidos lindíssimos, acho que aquelas mulheres (que foram à cerimônia de preto) foram muito pouco paqueradas e voltaram sozinhas para casa”, disse ao Globo. E acrescentou: “É ótimo passar em frente a uma obra e receber um elogio. Sou desse tempo. Acho que toda mulher deveria ser assediada pelo menos três vezes por semana para ser feliz. Viva os homens”.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares