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Liberdade de expressão

Celeiros para a mídia, escola de jornalismo nos EUA censura expressões “depreciativas”

A Escola de Jornalismo da Universidade do Missouri atualmente impõe uma ampla política de diversidade que tem por objetivo erradicar “reportagens que são racistas ou sexistas por si mesmas ou em conotação”
A Escola de Jornalismo da Universidade do Missouri atualmente impõe uma ampla política de diversidade que tem por objetivo erradicar “reportagens que são racistas ou sexistas por si mesmas ou em conotação” (Foto: Bigstock)

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Uma das principais escolas de jornalismo dos Estados Unidos endossa restrições à liberdade de expressão. A Escola de Jornalismo da Universidade do Missouri atualmente impõe uma ampla política de diversidade que tem por objetivo erradicar “reportagens que são racistas ou sexistas por si mesmas ou em conotação” e “eliminar expressões nacionalistas, racistas, sexistas e outros tipos de observações depreciativas [...], ditas seriamente ou em tom de brincadeira”. A política se aplica às seis agências de notícias afiliadas da universidade, que geralmente são compostas por seus docentes e discentes.

Quando questionada, a faculdade recusou-se a fornecer quaisquer definições ou exemplos de uma expressão “depreciativa”. Mas incidentes recentes sugerem que estudantes e professores podem sofrer graves retaliações se criticarem o movimento Black Lives Matter, pendurarem bandeiras em apoio à polícia ou desafiarem a ideologia de gênero. Vaga, a política da escola permite que os professores e administradores da universidade imponham restrições ao discurso como bem entenderem.

A Universidade do Missouri não é estranha a controvérsias sobre liberdade de expressão. Depois dos tumultos de Ferguson, o campus passou por meses de protestos estudantis contra supostos episódios racistas mal geridos. Seguiu-se uma série de ataques à liberdade de expressão: a polícia do campus alegou que a universidade poderia punir os alunos por “discurso ofensivo” e um professor de comunicação tentou impedir à força que estudantes de jornalismo cobrissem um protesto em lugar público. A reação à universidade foi intensa – e merecida.

A universidade logo demitiu o professor de comunicação que havia ameaçado os estudantes. Em 2017, o sistema universitário adotou oficialmente uma variação da Declaração de Chicago, supostamente para reforçar seu compromisso com a liberdade de expressão – mas no ano anterior, na primavera de 2016, a Escola de Jornalismo tinha adotado uma nova versão de sua política de diversidade, com medidas pensadas para recrutar mais professores e alunos representativos de minorias, bem como para reforçar o treinamento sobre diversidade para novos funcionários e incorporar questões de diversidade nos cursos.

As políticas de diversidade da faculdade não apenas minam o compromisso declarado da universidade com a liberdade de expressão, como também endossam implicitamente o progressismo. Por exemplo, o Columbia Missourian, o jornal da universidade, fornece uma lista de “termos preferidos” para os estudantes de jornalismo. As pessoas pró-vida devem ser chamadas de “oponentes do direito ao aborto”, enquanto os imigrantes ilegais devem ser chamados de “imigrantes indocumentados”. As organizações de notícias, é claro, têm todo o direito de desenvolver seus próprios manuais de estilo. Mas essas expressões abandonam a neutralidade jornalística para que questões polêmicas sejam enquadradas em favor de posições progressistas. Rotular quem é pró-vida como “oponente dos direitos ao aborto” é tão pouco cortês quanto rotular quem é pró-escolha como “oponente dos direitos fetais”. Já “imigrante indocumentado” é uma senha para os defensores da anistia em massa para imigrantes ilegais. Essas diretrizes exigem que as pessoas que se opõem a esses termos pisem em ovos se quiserem malmente articular sua discordância.

Claro, os principais jornais e agências de notícias fizeram mudanças semelhantes. E não é de se admirar, já que as melhores escolas de jornalismo, como a da Universidade do Missouri, servem como celeiros para os meios de comunicação. Cerca de 60% dos jornalistas com formação universitária nos Estados Unidos graduaram-se em áreas relacionadas à mídia.

A mídia noticiosa deve apresentar ao público reportagens objetivas e factuais sobre questões públicas. Jornalistas que falham em questionar o discurso hegemônico inevitavelmente desenvolverão pontos cegos e enganarão o público. Uma mídia submissa não fornecerá informações precisas. A Escola de Jornalismo da Universidade do Missouri está, assim, servindo mal aos seus alunos, bem como aos pagadores de impostos que a financiam.

Se a Universidade do Missouri realmente pretende apoiar a liberdade de expressão, então deveria exigir que a faculdade de jornalismo dê fim a essas políticas. Também deve proibi-la de implementar planos de diversidade que imponham critérios políticos para contratações, admissões e políticas universitárias. A mídia profissional pode estar comprometida, mas os estudantes de jornalismo não precisam estar.

Neetu Arnold é pesquisador sênior da National Association of Scholars.

© 2022 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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