As discussões políticas do país no período em que o ministro do STF Alexandre de Moraes baniu a rede social X, entre 30 de agosto e 8 de outubro, se concentraram na falta de legalidade da medida. Menor atenção foi dada a outra questão: adiantou banir?
Para Lilian Carvalho, professora de marketing digital da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EAESP), o efeito foi modesto. “O tráfego caiu apenas 10% entre agosto e setembro” na rede social, afirmou Carvalho.
Em seu levantamento, o X teve 900 milhões de visitas no Brasil em setembro — o número ultrapassa a população porque os cerca de 21,5 milhões de usuários ativos no país acessam a plataforma repetidamente. O concorrente Threads, da Meta, conseguiu apenas sete milhões de acessos no mesmo período.
No ranking de aplicativos por acesso, a rede social X ocupava a posição 108 antes do bloqueio, e caiu para a 127ª durante a suspensão.
A professora explica que esses números não são mascarados pelo acesso via VPN, que simula presença em outro país, pois suas ferramentas “veem o acesso por geolocalização” e fazem suas estimativas com base nisso.
X continuou popular no Brasil no período da censura
A Gazeta do Povo buscou corroborar as conclusões da pesquisadora através da ferramenta Sensor Tower. De fato, nos dias imediatamente após o banimento por Alexandre de Moraes em 30 de agosto, a rede social X subiu nos rankings de download tanto nos dispositivos da Apple quanto nos dispositivos Android.
Na loja de aplicativos da Apple, o X era o 35º mais baixado aplicativo entre os gratuitos no dia do banimento. Subiu para o quinto mais baixado no dia seguinte, e até o dia 9 de setembro caiu para a 200ª posição. Quando o X voltou ao ar acidentalmente no Brasil por ter migrado seus servidores para o Texas, em 18 de setembro, o aplicativo subiu para 11ª posição.
Na Google Play Store, loja de aplicativos para dispositivos Android, o X ocupava a 200ª posição entre os mais baixados um mês antes do bloqueio de Moraes. Também subiu para a 42ª posição logo após a ordem, caiu posições em seguida, mas, segundo os dados mais esparsos do Sensor Tower, jamais voltou aos níveis mais baixos de antes da censura. O efeito das punições de Moraes parece ter sido tornar o aplicativo mais popular no Brasil.
Isolando a análise aos aplicativos de redes sociais no Android, é possível ver que os concorrentes do X, Threads e a rede social Bluesky — antes apoiada pelo fundador do Twitter (X), Jack Dorsey, que removeu seu apoio porque a Bluesky decidiu implementar políticas de moderação de conteúdo que levaram à censura no Twitter — superaram o X em downloads no Brasil durante todo o período do banimento. A liderança do Threads era anterior à censura, pois a rede social tem sido atrelada pela empresa mãe, a Meta, ao Instagram, que é muito mais popular no Brasil que o X. Bluesky, contudo, só conseguiu superar o X durante a censura e já foi ultrapassado por ele em downloads nesta quinta-feira (10). Nesse dia, Threads ficou no segundo lugar, X no décimo e Bluesky na 19ª posição.
Nos iPhones, o X deixou a Bluesky comendo poeira um dia após o desbloqueio, ocupando a 16ª posição (Threads ficou na terceira posição), contra a 160ª posição do concorrente. No dia em que Moraes decidiu banir o X, o Bluesky havia chegado à primeira posição em downloads.
Moraes deixou o X mais lucrativo do que nunca
No ranking de aplicativos que mais ganham dinheiro no Brasil em iPhones, o X girava em torno da 100ª posição no mês anterior à censura, caiu durante o bloqueio, mas nunca ao ponto de baixar para a 200ª posição, e, após o desbloqueio do dia 8 de outubro, atingiu o nível sem precedentes de lucratividade da 55ª posição.
Entre aplicativos de redes sociais, o X esteve sempre entre os 30 mais lucrativos do Brasil durante todo o período do banimento.
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