Em seus poucos meses de vida, o ChatGPT causou furor em todos os setores, desde a tecnologia até a educação.| Foto: Bigstock
Ouça este conteúdo

Ano novo, medo novo de sermos substituídos por robôs com inteligência artificial. O produto desenvolvido pela OpenAI, uma empresa que conta com Elon Musk e Sam Altman entre os investidores, se chama ChatGPT e foi lançado ao público em novembro de 2022. Em seus poucos meses de vida, a ferramenta causou furor em todos os setores, desde a tecnologia até a educação. Muitos de seus usuários profetizam que pode representar uma mudança tão grande para a humanidade quanto a revolução industrial.

CARREGANDO :)

Em essência, o ChatGPT é um modelo que foi treinado com um grande conjunto de dados para compreender e gerar expressões naturais. Esta tecnologia tem a capacidade de responder a perguntas, escrever textos completos e realizar tarefas de tradução automática.

O temor do desemprego

Uma das principais características do ChatGPT é sua capacidade para gerar texto coerente e natural, o que o torna útil para uma variedade de aplicações, como assistentes virtuais, chatbots e geração automática de conteúdos. Com o aumento da demanda dessas ferramentas no mundo digital, espera-se que tenha um grande impacto no mercado laboral.

Publicidade

Em primeiro lugar, espera-se que o ChatGPT reduza a necessidade de empregados para realizar tarefas repetitivas, como responder a perguntas frequentes. Isto poderia levar à automatização de muitos trabalhos, o que a seu turno poderia ter um impacto negativo no emprego em algumas áreas, como os call centers. Também poderá se converter numa ferramenta para indústrias como o jornalismo, o marketing ou a criação de conteúdos. Com apenas uma solicitação, o ChatGPT pode poupar grande parte do trabalho dos redatores, pois é capaz de gerar textos adequados a diferentes campanhas ou situações:

Outrossim, poderia ter um forte impacto na educação. É capaz de escrever redações, fazer comparações, responder a perguntas complexas e fazer suposições com base nos conhecimentos que possui. Ao pedir-lhe que escrevesse um comparativo da compreensão do conceito de juízo em Hannah Arendt e Tomás de Aquino, respondeu de maneira simples, porém correta.

Por isso, só dois meses após o seu lançamento, já surgiram ferramentas de detecção de texto gerado por IA – ao estilo da ferramenta Turnitin, que detecta texto plagiado. Testou-se também o seu uso noutras disciplinas, como a programação. É capaz de dar exemplos de código para um aplicativo que analise os extratos bancários. Nesse caso, o ChatGPT dá um exemplo em Flask, mas sua resposta varia caso se peça o mesmo em espanhol [este texto foi traduzido do espanhol. O programa está disponível em português].

Publicidade

Os usos em diferentes disciplinas são incontáveis. É capaz, por exemplo, de criar dietas para pessoas com diferentes doenças e segundo parâmetros distintos. No exemplo a seguir, pede-se uma dieta para alguém com resistência a insulina, mas a resposta do chat pode melhorar caso se acrescentem parâmetros: onde vive a pessoa, que ingredientes usar, do que não gosta etc.

Quanto ao seu conhecimento de outros programas, nos últimos dias viralizou add-on do ChatGPT para o Google Sheets, com o qual se pode usar o poder da inteligência artificial diretamente das planilhas do Sheets: pode escrever fórmulas, categorizar a informação, corrigir, traduzir, entre muitas outras coisas, diretamente nas planilhas.

Novos horizontes para o trabalho

Apesar desses usos que poderiam ter um impacto negativo no emprego, espera-se que o ChatGPT crie novos postos de trabalho em áreas como o desenvolvimento de software, a inteligência artificial e a análise de dados. Os profissionais que se especializarem nessas áreas terão maiores oportunidades de emprego à medida que a tecnologia se torne mais popular e se utilize em mais indústrias.

O que sabemos com certeza é que a tecnologia avançada, seja a do ChatGPT ou de outros aplicativos de inteligência artificial, tem o potencial de transformar o mercado de trabalho. Seu impacto será negativo em alguns setores que se beneficiarão das possibilidades de automatização. No entanto, ao reduzir a necessidade de realizar tarefas repetitivas, é possível que os empregados tenham a possibilidade de focar noutras mais valiosas e criativas, o que poderia ter um impacto positivo na economia em geral.

Inteligência artificial de verdade?

Uma amostra do poder dessa ferramenta é a imagem logo abaixo. Nesse caso, pediu-se ao ChatGPT que escrevesse um artigo similar a este mesmo. A resposta do programa é acertada e correta, e pode servir a redatores como uma base o modelo sobre o qual trabalhar. A correta introdução de indicações, a seleção de palavras e o idioma no qual se realiza a consulta afetam a qualidade do que é oferecido pelo software, que utiliza os dados disponíveis na Internet para dar resposta, em forma humana, ao que se pede.

Publicidade

Isto torna evidente a diferença que há entre a inteligência real e a artificial. Na realidade, a inteligência artificial é um método de inferência estatística. Toma os dados que recebe da internet e lança uma resposta provável para as perguntas e pedidos que se fazem. Seu poder vem do fato de que as máquinas nas quais opera serem cada vez mais rápidas e mais capazes de aprender nova informação. É chamativo inclusive o salto de capacidades em diferentes versões da mesma ferramenta. A versão original do GPT (Generative Pre-training Transformer) tem 175 milhões de parâmetros, enquanto que o GPT-2 tem 1,5 bilhão e o GPT-3 (a versão atual), 175 bilhões de parâmetros. Apesar de sua grande capacidade para armazenar dados, não existe uma inteligência artificial de propósito geral que seja capaz de observar a realidade e tirar conclusões de algo novo a partir dos dados que não lhe foram fornecidos previamente.

Por isso, vemos que a inteligência humana continua sendo especialmente capaz de enfrentar as mudanças e a incerteza, habilidades que a inteligência artificial não possui. De fato, segundo explicam alguns especialistas, não é a primeira vez que se vive uma febre de inteligência artificial, à qual muitas vezes se segue uma baixa, ao se comprovarem as limitações da tecnologia. Por isso, parece que, ao menos por ora, a inteligência humana tem muito espaço para contribuir na tomada de decisões e na descoberta de soluções novas em contextos inéditos.

Inteligência ou imitação

A inteligência artificial provocou em mais de uma ocasião a expectativa de uma capacidade consciente de raciocínio ou conhecimento. Alguns, como o engenheiro de software do Google Blake Lemoine, chegaram a afirmar que seus produtos têm consciência própria. No entanto, até o momento, e pelo que podemos conhecer da tecnologia, isso parece ser antes um reflexo da consciência, uma imitação das capacidades humanas.

Assim, as máquinas respondem com linguagem humana e isso é confundido com uma consciência. No entanto, a máquina não tem compreensão do que diz, e essa é a diferença essencial. Não é a mesma coisa saber um dado e saber o que se sabe. Embora possa simular uma compreensão e uma resposta humanas, não tem a capacidade de pensar ou raciocinar por si misma.

Ademais, a própria máquina reconhece isso. Quando se pergunta ao ChatGPT por sua própria consciência, responde:

Publicidade

Não; como uma IA, não tenho consciência. A consciência se refere à capacidade de ter experiências internas e sentir, e eu sou só um programa informático desenhado para processar e gerar texto. Minha capacidade se limita a responder perguntas e gerar texto a partir de una entrada dada, mas não tenho a capacidade de ter experiências internas ou sentir.

Um uso responsável

Finalmente, para dar uma imagem completa do que implicará o uso de produtos como ChatGPT de forma generalizada em nossa sociedade, é interessante propor certas considerações éticas. Para começar, o tema do viés que essas tecnologias podem ter devem ser levados em conta ao se utilizar seus resultados. Essas ferramentas aprendem com um conjunto de dados específico que lhes foi fornecido, mas dados geralmente tirados de livros e da internet, que podem contar com preconceitos que o modelo aprenderá e imitará. Por isso, será interessante ver como as empresas que desenvolvem essas tecnologias se assegurarão de que o conjunto de dados utilizado seja representativo e não perpetuem estereótipos. Um exemplo de como isso pode acontecer é o caso de Tay, bot do Twitter criado pela Microsoft, que teve baixa 16 horas depois de seu lançamento por tuitar mensagens discriminatórias e de ódio.

Por outro lado, a transparência deverá ser exigida pelos usuários, de forma que se garanta que o funcionamento das ferramentas seja compreensível para eles, e que se dê informação clara sobre como se utiliza o modelo. Desta forma se evitarão conflitos pelo uso indesejado dos dados ou da informação que os usuários deem ao software, ou por desigualdade no acesso à tecnologia. Também é importante recordar que, como toda ferramenta, não é sujeito de deveres, e então as pessoas que o empregarem deverão se fazer responsáveis pelo uso dado ao conteúdo gerado pelo ChatGPT.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
Copyright 2023 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
Publicidade